Wanted: Dead


"Ninja Gaiden meets Cyberpunk". Foi esta a estratégia de venda de Wanted: Dead, o novo slasher/shooter da Soleil. No entanto, a verdade é que o mais perto que este título chega de qualquer uma das suas referências é ser da autoria da mesma desenvolvedora e ser extremamente desapontante à altura do seu lançamento, respetivamente. A diferença é que sempre houve esperança para Cyberpunk, enquanto que a única forma de salvar Wanted: Dead seria escondê-lo e fazer algo completamente novo.

Wanted: Dead coloca-nos na pele da Tenente Hannah Stone, líder da "Zombie Squad", uma força policial composta por 4 ex-reclusos: Stone, Herzog, Doc e Cortez. Este seria, tipicamente, o momento em que vos daria a conhecer as personagens principais, com uma breve descrição dos seus traços característicos. Infelizmente (em alguns casos), as personagens não têm qualquer tipo de profundidade. Herzog é um mulherengo e o seu diálogo é, sem exceção, grosseiro e desnecessário, Cortez comunica apenas por linguagem gestual e Doc... bem, o Doc também está lá. Até Stone, a personagem jogável, é tão… nada, que a única coisa que consigo dizer sobre ela é que tem alguns flashbacks num estilo anime sem qualquer explicação.



Para surpresa de ninguém, esta equipa não tem qualquer tipo de química, o que também não é ajudado por um dos piores trabalhos de voice acting que eu já vi. Ainda assim, hesito em colocar a culpa apenas nos atores, já que a qualidade do diálogo também não é o ponto forte de Wanted: Dead. Tudo isto resulta em sequências cinematográficas extremamente constrangedoras, que me faziam querer saltar para o gameplay o mais rápido possível. Os movimentos da câmara são muitas vezes incompreensíveis, tanto durante cutscenes como em momentos de gameplay e algumas destas sequências contam também com música estranhamente alta e em nada relacionada com o momento, quase como se alguém a estivesse a ouvir numa sala ao lado, o que contrasta com aquelas em que não há qualquer música, deixando no ar um silêncio desconfortável.

No fundo, todas as missões acabam por se resumir a isto: o capitão envia a equipa para uma situação hostil com o intuito de esta recolher informação, a equipa depara-se com hordas de inimigos e acaba por matar toda a gente, o capitão repreende a equipa e fala das queixas que recebe pelas suas ações, o capitão diz que os membros da equipa são como filhos para eles e envia-os numa nova missão. E este ciclo repete-se quase ininterruptamente durante as cerca de 8 horas de gameplay.



Bem, pelo menos há o combate, que é a melhor parte de Wanted: Dead. Mesmo assim, isto deve-se mais ao completo fracasso de tudo o resto do que a qualquer tipo de brilho do próprio gameplay. Wanted: Dead conta com combate corpo-a-corpo, que combina uma espada e uma pistola, bem como combate à distância, podendo o jogador equipar, a qualquer momento, duas armas de fogo para além da pistola.

O combate à distância é, como seria de esperar, relativamente básico, mas nem sempre funciona da melhor maneira, muito por causa dos ângulos da câmara, principalmente quando combinado com um sistema de cobertura que deixa muito a desejar. Já o combate corpo-a-corpo foi mais do meu agrado e é, na minha opinião, o único aspeto minimamente positivo deste título. Os alicerces estão todos lá, com animações dos inimigos que respondem bem aos diferentes ataques de Stone, sendo possível, por exemplo, desmembrar inimigos ou executar finalizações violentas que correspondem às expectativas de um slasher que queira fazer jus ao seu nome.

De um modo geral, o combate é bastante satisfatório e tem o potencial para fazer esquecer todas as outras deficiências de Wanted: Dead. Isto é, durante as primeiras horas, já que, depois disso, o combate não consegue evoluir e alcançar o nível desejado. Uma árvore de habilidades limitada e que não incentiva novas abordagens ao combate, combinada com a diversidade mínima de inimigos, contribuem para que o combate acabe por perder o seu encanto inicial com o passar das horas.



Se esperas que, apesar de todas as suas falhas, Wanted: Dead possa, pelo menos, apresentar-te um bom desafio em termos de combate, lamento dizer-te que este é apenas mais um aspeto em que a Soleil desilude. Se é desafiante? Por vezes. Mas é-lo de todas as formas erradas. Comecemos pelo horrível sistema de checkpoints, que te dá a oportunidade de guardares o teu progresso a cada 10 minutos, sensivelmente. Isto não seria um problema se, no fim de cada secção de combate, não houvesse um mini-boss bastante difícil para enfrentar. O que isto significa é que, no caso de morte frente a este mini-boss, o que aconteceu 5, 6 ou 7 vezes em alguns casos, fui obrigado a refazer o meu progresso dos últimos 10 minutos para poder enfrentar o mini-boss mais uma vez, o que tornou Wanted: Dead extremamente difícil de aguentar.



Infelizmente, a dificuldade destes encontros pouco tem que ver com os próprios inimigos. Como já disse, não há grande variedade de inimigos e tão pouco existe algum tipo de pensamento creativo por trás dos mesmos. Pelo contrário, a dificuldade de Wanted: Dead deve-se mais ao facto de Stone, a personagem jogável, ser ridiculamente fraca. Tal como acontece com os inimigos, a variedade de habilidades ao dispor do jogador deixa muito a desejar, bem como a barra de vida de Stone, que dá margem para pouco mais que um par de ataques inimigos. Se Wanted: Dead pode ser um jogo desafiante? Sim. Mas é o tipo de desafio que te faz querer fechar o jogo e nunca mais lhe tocar.



Há momentos em que Wanted: Dead mostra vislumbres daquilo que poderia ser um jogo razoável, ou até bom. Alguns níveis começam com uma sala repleta de inimigos básicos, permitindo uma exploração das combinações e finalizações ao dispor do jogador. Infelizmente, estes momentos são como um alfinete num palheiro cheio de personagens desinteressantes, diálogo constrangedor e escolhas simplesmente bizarras, como o salto de uma cutscene para uma estranha sessão de karaoke ao estilo dos jogos Yakuza, ou uma competição de comer ramen depois de ouvirmos Herzog a contar-nos a história deste prato tradicional (por alguma razão...).



Wanted: Dead é um mau jogo. E pior, não tem nenhum do charme que o poderia tornar, no mínimo, cativante. Personagens sem qualquer profundidade, uma história difícil de seguir, muito por causa dos péssimos trabalhos de voice acting e escrita, e um combate que, não obstante a sua promessa inicial, peca pela falta de ideias, algo que, sinceramente, poderia ser dito de todos os aspetos deste jogo.  Seria de esperar muito mais de uma desenvolvedora do calibre da Soleil em 2023, mas infelizmente parece que todo o trabalho foi feito em cima do joelho. Numa só palavra, Wanted: Dead é uma desilusão.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PS5, gentilmente cedido pela Plan of Attack.

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