Death Stranding Director's Cut
Três anos seguidos, três análises ao Death Stranding. Depois do seu lançamento em 2019 para a PS4, seguindo a adaptação para PC em 2020, é agora a vez da PlayStation 5 o receber numa nova edição expandida, com o irónico subtítulo de "Director's Cut".
Irónico, sim, porque o próprio criador não apreciou a nomenclatura atribuída, e não teve problemas em explicar porquê na sua conta do Twitter. Esta versão do jogo não inclui "cenas cortadas" da visão original de Hideo Kojima, mas sim conteúdos adicionais que foram desenvolvidos numa fase posterior. Na prática, esta tenta oferecer uma versão aprimorada do título original, com novas missões e ferramentas introduzidas ao longo de toda a aventura. E a primeira diferença é notável, logo no início, na forma como o jogo apresenta o planeamento e gestão de rotas no mapa, explicando as possíveis diferenças entre optar por um ou outro caminho - isto, claro, num jogo onde o que se faz mais é caminhar.
Mas se Kojima não aprecia o subtítulo desta edição, os fãs do título original na PS4 irão apreciar ainda menos a forma como podem passar os seus dados de gravação para este novo jogo. Possivelmente nunca se saberá se o procedimento foi ou não intencional, mas este Director's Cut conseguiu a proeza de ter o método mais complicado de todos os jogos da PS5. A parte boa, é que enquanto aguardam pelo novo título, os jogadores podem ir adiantando o serviço. Para começar, será necessário ter o original (PS4) instalado na PS5. Depois de abrir o jogo, escolher o "save" pretendido, e começar a jogar. Caso haja algum objetivo principal em curso no jogo, o Sam deve dirigir-se até um terminal (numa qualquer base onde também se pode descansar, por exemplo), abrir as opções de jogo, gravar, e depois selecionar a opção de Exportar os dados de gravação. Caso haja um objetivo por cumprir, conforme se esteja ou não perto de o fazer, poderá ser mais prático reiniciar e escolher outro ficheiro de gravação. Depois dos dados exportados, bastará sair do jogo, iniciar a versão PS5 do Death Stranding Director's Cut e, a partir do menu principal, escolher a opção de importar o ficheiro da PS4. É um pouco como toda a aventura: um percurso intenso, difícil, mas gratificante.
Um percurso difícil, sim, mas agora mais acessível, que é o principal destaque desta nova versão. Além de uma explicação mais detalhada das diversas mecânicas, ajudando os novatos a integrar-se neste universo pós apocalíptico, vem também introduzir novas missões, recompensar e, principalmente, novas mecânicas que vêm facilitar a experiência. Um bom exemplo é o novo "support skeleton", que ajuda a fazer grandes transportes de carga de uma só vez, não só em termos de equilíbrio da personagem, como de rapidez. Outra grande novidade é uma "catapulta" que permite disparar mercadoria a uma longa distância, de forma a que não seja preciso andar com a mesma ao longo de todo o percurso, evitando assim que fique danificada.
Tal como a história do jogo não é linear, este parece um bom momento para resumir de que se trata, então, este Death Stranding. O mundo encontra-se num estado pós-apocalíptico que, em muitos aspectos, faz recordar os tempos que passamos em confinamento global, sem se poder sair de casa a não ser por bens de primeira necessidade, tendo assim surgido uma enorme dependência de serviços de entregas. Não fosse o original de 2019, e soaria a uma mera adaptação do que aconteceu. Nesta América destruída, a sociedade vive isolada debaixo de terra, em localizações isoladas entre si, dependendo por isso de personagens como o protagonista Sam Porter Bridges, que além de distribuição de encomendas e recolha de materiais, irá também criar ligações entre as várias localidades. Um conceito simples, até, mas com todo um toque de Kojima que o recheia de conceitos abstractos de vida e morte, uma chuva destruidora do tempo e perigosas almas e criaturas vindas de uma praia de uma outra dimensão. Ah, e não esquecer o BB, o bebé que Sam transporta consigo e cujas memórias terão um forte impacto na história.
Honestamente, regressar ao jogo em 2021 trouxe uma sensação diferente da de 2019. O que era uma obra de fantasia capaz de dar asas à imaginação, acabou por se tornar num paralelo de uma realidade infeliz onde todo o planeta se envolveu. E se não temos propriamente "almas destruidoras" vindas de uma "praia", não deixamos de ter "almas penadas" com o nome de "negacionistas", não necessariamente menos agressivas...
Bem. Voltando, então, às novidades deste Director's Cut que, além de todas as preocupações em trazer maior acessibilidade, também deu resposta aos jogadores que procuravam mais acção. O sistema de combate foi amplamente melhorado, e vem acompanhado com toda uma área de treino com múltiplas missões para derrotar os adversários das mais diversas maneiras. Contudo, o principal foco do jogo continua a estar presente tanto na história e os seus mistérios, como nos longos períodos de solidão. É, apenas, um pouco menos solitário, com mais momentos de ação e mais ferramentas que facilitam o avanço, mas os grandes momentos continuam a ser quando, ao longo de uma grande caminhada, entra por exemplo uma música dos Low Roar a acompanhar.
Falando de pormenores técnicos, esta nova versão conta com algumas melhorias em comparação à anterior, notando-se imediatamente a nível dos tempos de loadings - na maior parte dos casos, serão praticamente inexistentes. Além disso, o jogo pode ser jogado no modo fidelidade em 4K, ou em modo performance escalado para 4K mas a 60fps. Há ainda uma opção peculiar de ecrã cinemático a 21:9, que na realidade é um 16:9 com barras pretas a imitar o cinema...
Death Stranding Director's Cut não tem, hoje, o mesmo impacto que teve em 2019, o que não é necessariamente melhor ou pior: tem, sim, um impacto diferente. Talvez isso seja uma boa desculpa para quem já o jogou voltar a repetir esta longa jornada, cujas melhorias fazem desta a versão ideal para quem ainda não jogou. Sem dúvida, um grande jogo para o catálogo da PlayStation 5.
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 5, gentilmente cedido pela SIEE.