A Simulação da Inclusão

Artigo escrito por Pedro Kerouac.

A simulação da inclusão

Há dias coloquei o Century – Rota das Especiarias na mesa para que um grupo de amigos pudesse conhecê-lo e jogá-lo pela primeira vez. À medida que o jogo evoluía e os via a desfrutar cada vez mais do momento, vieram-me à memória imagens de muitos dos outros grupos que introduzi ao maravilhoso mundo dos jogos de tabuleiro através deste magnífico jogo.

Este momento de retorno nostálgico, fez-me refletir na capacidade que o Century tem em ser tão universal, mas sobretudo na diversidade das pessoas que o aprenderam comigo. Diversidade na cor, no género, na idade, na orientação sexual, na experiência de jogo, no tipo de profissão e até nas habilitações literárias. Pessoas que procuravam emoções e sentimentos tão diversos como a diversão, o conhecer algo novo, o interagir com outras pessoas, o exercitar a mente, o simples prazer de perceber onde o atual jogo de tabuleiro pode chegar.

Também os locais e as formas como o jogo em si foi jogado divergiram, e muito. Mesas de parques de merendas, encontros de boardgamers, salas de aula, toalhas de praia, salas de estar, convenções de jogos, bares, até em cima de máquinas de lavar se conseguiu jogar o Century. Sleevado, com tapete ou sem ele, o jogo conseguiu sempre cativar quem o experimentou.

O exercício aplica-se a muitos outros jogos que tantas vezes utilizamos para cativar novas pessoas para este nosso hobby, mas fez-me pensar.

Temos jogos de todos os estilos, gostos e feitios, que respeitam e colocam em redor de uma mesa pessoas muito diferentes entre si, em locais totalmente diversos e momentos cuja variedade é tão rica quanto peculiar. Teremos nós o hobby mais inclusivo de todos? É que o jogo de tabuleiro não pede satisfações ao jogador, mas interage com ele. E incentiva o jogador a interagir com outros jogadores, sejam eles quem forem. E coloca questões, simula problemas que todo e qualquer um pode resolver. Seja criança ou adulto.

Quantas vezes conseguimos nós, como indivíduos, estar ao nível das competências que um jogo de tabuleiro apresenta? Quantas vezes assumimos nós o papel de Century na grande simulação que é a vida?