Os Meus RPGs IV – Wild Arms


Hoje viajo no tempo para os finais da década de 90, quando o Y2K era um perigo iminente e todos os anos o mundo ia acabar de uma ou várias maneiras diferentes. Foi uma época de ouro para a PlayStation, com imensos jogos a saírem na consola da Sony, entre eles muitos RPGs. Foi também a altura da revolução do 3D, com cada vez mais títulos a abraçarem o novo visual, mesmo que a jogabilidade se mantivesse muito tal e qual a geração de consolas anterior, com a Super Nintendo e Mega Drive.

Wild Arms foi um destes jogos, entre aqueles títulos que experimentavam os visuais 3D, mantendo a sua jogabilidade segura sem grandes revoluções. Era uma fase de transição, mesmo séries icónicas como Final Fantasy só revolucionava o modo como explorávamos o mundo aberto, com combates dinâmicos com planos de câmara que gritavam "sim, isto são visuais da próxima geração!". Mas, Wild Arms tentava jogar ainda mais pelo seguro, todo ele era 2D exceto nos combates.

Mas, antes de continuarem, apreciem esta abertura fantástica!


Na prática, era como se fosse um jogo da Super Nintendo, onde quando entrávamos em combate os visuais tinham uma mudança drástica para o 3D, com efeitos visuais fantásticos na altura, com o preço de loadings mais lentos que tornavam estes combates em algo penoso para aqueles que tinham menos paciência. Eu não queria saber, a música viciante, os ataques animados e uma estratégia simples, mas com bastante a explorar, deixaram-me tão empolgado que o tempo a jogar passava a voar.

Foi um dos inúmeros títulos que conheci graças a amigos, que me emprestavam jogos, ou por causa de revistas de videojogos que apanhava nas tabacarias, algumas delas com os velhos CDs pretos com demos para a PlayStation. Wild Arms foi uma surpresa porque logo na sua introdução, com o bom estilo de animação japonesa, com uma música de abertura que ainda hoje tenho gravado na memória. Aliás, muita da banda sonora (principalmente o tema de combate) é algo que ainda consigo trautear de cor, talvez devido às vezes que o joguei.

É um jogo do seu tempo, é mesmo uma aventura muito "anime" que vai muito além da abertura. Uma mistura de western e cultura ocidental com muita da alma japonesa aplicada aos videojogos, que contribuíram para me agarrar ao jogo por ser bem diferente do que estava habituado a jogar. Um jogo passado num mundo de fantasia, mais próximo dos nossos tempos modernos com algum futurismo, com robôs à mistura e enormes cidades que podemos explorar. Para quem estava habituado a jogar os típicos jogos medievais e fantasia (pois era o que chegava ao ocidente), foi uma lufada de ar fresco e acompanhava as tendências daquilo que chegava do Japão, agora com a PlayStation.


Acompanhamos a demanda de um trio de protagonistas, que podemos escolher a ordem por que conhecemos as suas histórias até se juntarem, embora que o jogo acabe por dar o protagonismo a Rudy, um solitário renegado que é discriminado por conseguir usar as ARM, um poderoso tipo de armamento que outrora havia colocado o mundo em perigo. Ele acaba por cumprir o check de protagonista silencioso cujo passado é uma incógnita, que se vê acompanhado pelo forasteiro Jack (e o seu parceiro roedor) que está sempre à procura do próximo tesouro, e da princesa Cecilia, a feiticeira do grupo que se sente obrigada a partir nesta aventura para defender o seu reino.

É uma história tradicional, previsível, sem nos bombardear com plot twists ou histórias convulsas, mas mantém-se interessante do início ao fim, dando-nos a conhecer um pouco mais das personagens que acompanhamos, do mundo onde estão e do seu passado rico em história e mitologia. Digo que é uma aventura muito "anime" porque segue muitos dos clichés das séries de animação dos anos 90, seja pela tecnologia ancestral futurista que foi abandonada, pelas entidades mágicas ou até mesmo pelo enorme robô Asgard, um "Golem" com muita história por contar, que essencialmente é o nosso método de transporte.

Agarrou-me também o sistema de combate, por turnos, onde tinha mais que tempo para pensar numa estratégia e onde tinha mesmo de tirar partido dela, para ganhar vantagem em combate. Cada personagem tem os seus truques e ataques especiais, juntamente com um belo leque de diferentes summons que podemos chamar para o combate para nos ajudar a lidar com os inimigos mais difíceis. Sendo o combate algo que nos consome muito tempo neste jogo, fui aprendendo com ele, desafiando-me a procurar estratégias para lidar com inimigos que me faziam a vida negra, numa época onde a internet ainda era uma miragem.


Curiosamente, o jogo usa um sistema de habilidades em muito semelhante aos Limit Break de Final Fantasy VII, onde à medida que as nossas personagens recebem dano aumenta uma barra de energia que, quando cheia podemos usar a poderosa habilidade de Force. É curioso, pois, quando o joguei em 1998, dizia ser uma cópia descarada do que o jogo da (então) Squaresoft havia criado… no entanto, anos mais tarde, viria a descobrir que Wild Arms tinha sido lançado em 1996, meses antes do icónico RPG de Cloud e companhia, que viria a moldar a indústria e, que talvez sem ele, nunca teria jogado este jogo.

Com o passar do tempo viria a acompanhar o trabalho da equipa de Wild Arms e as suas sequelas, criado pela Media.Vision, um estúdio japonês fundado em 1993 que abraçava a PlayStation para as suas criações. Não é um estúdio conhecido, contudo fizeram jogos bem populares como Valkyria Chronicles ou alguns títulos da série Shining Force, mais recentes, que abandonaram os jogos de estratégia. É também responsável pelos Digimon Story: Cyber Sleuth e Digimon Story: Time Strangers, um título que sai em breve, mantendo bem viva esta companhia, numa era em que facilmente muitos estúdios são facilmente fechados.

Ainda hoje agradeço imenso à Media.Vision por criarem este jogo, uma aventura incrível que me deixa a explorar um mundo enorme, com imensos segredos e momentos que podemos não ver se tomarmos decisões precipitadas, sem explorar tudo devidamente. A cada nova cidade que entrava andava a falar com tudo o que era caixa, barril, estantes ou cofres, tal como os imensos NPCs que as habitavam, por haverem sempre segredos à nossa espera. São muitas as dungeons e sim, imensas as random battles que aparecem em todo o lado, o que por vezes até se tornava chato quando eu queria só progredir na história, ao que felizmente rapidamente chegamos a um ponto onde demoramos mais tempo a iniciar o combate do que o combate propriamente dito. Fruto do seu tempo, onde estes RPGs com combates por turnos em arenas 3D demoravam o seu tempo a carregar os mesmos (estou a olhar para ti, Final Fantasy IX).


Mas, ainda hoje se mantém um jogo bem vivo, que recomendo explorar! Não, não envelheceu muito bem e a versão que podem jogar através da PlayStation Network bem que pede por um botão de acelerar a velocidade do jogo, ainda assim foi tão bom abraçar a nostalgia por este jogo recentemente (embora não o tenha terminado novamente), desde o momento que começo ao jogo, aos pequenos detalhes que me trazem memórias, como discutir os melhores nomes para as magias, pois podíamos chamar-lhes das coisas menos próprias, o que na cabeça de um adolescente deu origem às coisas mais parvas que podem imaginar.

São tudo coisas que me apelam à nostalgia, que me trazem aquele quentinho no peito sempre que vejo a abertura, sempre que começo o capítulo inicial de cada personagem, ou do momento marcante em que literalmente cai o céu sob as personagens, marcando o verdadeiro início desta aventura. Não é um RPG complexo, é extremamente acessível e só dificulta jogar nos dias de hoje devido à lentidão de alguns loadings ou até mesmo dos combates, mas, seria uma boa série para lançar uma coletânea remasterizada como deve ser, com alguns quality of life comuns para ajudar imenso a que muitos o jogassem.


Wild Arms iniciou-me numa série que me iria marcar para sempre, diferente, onde o western ocidental e o estilo de narrativa oriental se fundiam. Jogo este que parecia difícil encontrar à venda a sua sequela, ao que durante anos estava constantemente à espera que chegasse cá, só para descobrir que esse jogo nunca sairia na Europa. Mas, hoje a história é outra, e os primeiros três jogos da série estão disponíveis na PlayStation Plus. Resta saber se os restantes capítulos chegarão, e sendo o caso, cá estarei para os jogar!

Terminando, e como tem vindo a ser hábito, deixo-vos com o quarto episódio da Masmorra do Glitch, desta vez onde falamos de personagens icónicas. Há ali, pelo menos uma, que se me conhecerem vão saber bem que está… mas, convido-vos a ver e ouvir o episódio! 


Wild Arms está disponível para PlayStation 4/5, através da subscrição PlayStation Plus Premium.

Imagens do jogo obtidas através do website RPGFan (https://www.rpgfan.com/)

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