Signalis

Elster acorda do seu sono criogênico dando conta de que a sua nave se despenhou num planeta frio e distante. A sua companheira Ariane Yeong desapareceu e Elster embarca então numa aventura com o objetivo de salvá-la sem saber que surpresas e obstáculos encontrará nesse mundo. A única coisa palpável que tem ao seu dispor é apenas um sinal de rádio misterioso.

É assim que começa Signalis, a primeira grande proposta do estúdio indie Rose-Engine que nos transporta para um ambiente retro sci-fi, com os elementos característicos de um jogo Survival Horror todo ele muito inspirado nos clássicos Silent Hill e Resident Evil.

A maior parte das 10 horas de jogo é passada dentro de um edifício que parece ser uma mistura entre um posto avançado num planeta longínquo e um centro académico-científico onde uma espécie de doutrina totalitarista é apregoada.

Corredores repletos de cartazes que enfeitam paredes de betão com a devida propaganda, salas desprovidas de grande ostentação, repletas de maquinaria, propositadamente rígidas, industriais e funcionais. Quer na primeira pessoa (modo usado apenas para flashbacks), quer na terceira pessoa a progressão na história acabada por ser bastante básica e é feita através da exploração dos vários níveis do complexo repletos de salas onde a máxima é quase sempre apanhar itens, conjuga-los a fim de solucionar puzzles ou ir desvendando lentamente todas as razões para o que se está realmente a passar naquele sítio.

Tudo isto é complementado com a presença de criaturas que vão habitando nos corredores e salas que, após darem pela nossa presença, nos perseguem exaustivamente.

Com uma mecânica de progressão relativamente simples e que raramente é muito contrariada pelo AI dos inimigos que vamos encontrando, o maior grau de dificuldade no jogo reside na nossa própria personagem e o seu reduzido inventário que parece nunca chegar, atendendo à generosa quantidade de itens que vamos apanhando. Escusado será dizer que muito do tempo de jogo é passado a gerir inventário. Algo que também peca por escasso são as munições para as armas que vamos encontrando e que claramente não chegam para resolver a questão apenas e só aos tiros. Obviamente que esta escassez de quase tudo é proposital e tem como objetivo fazer o jogador pensar a própria exploração dos níveis bem como a forma de como irá abordar o confronto (ou fugir dele) e em primeira análise tudo isto faz com que a jogabilidade ganhe novas camadas e ofereça novas linhas de pensamento ao jogador.

Ora bem, estamos a falar de um jogo de Survival Horror que em boa parte vai buscar inspiração aos grandes clássicos do gênero. A questão aqui é que Signalis neste campo é quase um caso de copiar/colar e foi tímido em trazer novas nuances.

Com um inventário curto e sem possibilidade nenhuma de o aumentar, quer os objetos que vamos apanhando, quer o variado arsenal que vamos adquirindo ao longo da jornada ficam sem sítio para estar e somos obrigados a idas sem conta a salas que são pontos onde podemos salvar o jogo e guardar todo o nosso material. Isto obriga a que tenhamos de voltar vezes sem conta ao ponto inicial de cada andar onde nos encontramos. O povo tem um nome para isto: "fazer piscinas”... E somos obrigados a fazer muitas. Juntamos isto tudo à escassez constante de munição e um sistema de mira automática por vezes é algo perdulário e que aqui e ali compromete o sistema de combate especialmente em salas repletas de criaturas, rapidamente damos conta que estamos perante aquela velha máxima dos jogos deste gênero… Salvo mini-bosses ou algum bloqueio de passagem, mais vale correr e fintar tudo e todos pois raramente e com pouca eficácia nos acertam e o resultado acaba por ser o mesmo.

Para fãs de Survival Horror isto é o pão nosso de cada dia, para os restantes sinto que poderá ser dissuasor falando especificamente em relação à imersão.

Onde Signalis brilha é no campo visual e sonoro e é essa mescla que acaba por ser a característica mais bem sucedida deste jogo. A arte pixelizada é fantástica e confere um estilo “retro” que nos puxa à nostalgia de outros tempos. O uso muito equilibrado de jogos de luzes e sombras afeta todo o ambiente que está à volta da nossa personagem fazendo com que nunca estejamos 100% descansados mesmo que nada, aparentemente, se esteja a passar ao nosso redor. Também temos um pequeno miminho nas opções gráficas que adiciona um filtro CRT que permite visualizar o jogo como se tivéssemos em frente a um ecrã de um monitor ou TV antiga e que na minha opinião torna o ambiente visual ainda mais apelativo. Algo semelhante já tinha sido feito no jogo Narita Boy do Studio Koba que foi lançado em 2021.

Amarrado a este deleite estético está uma sonoplastia igualmente perfeita onde todos os sons contam. Quer para enaltecer atmosfericamente, quer mecanicamente, o som é parte inerente da experiência. Cada sala ou corredor tem a sua própria “trilha sonora” criada por um conjunto de sons característicos das mesmas. Sejam eles pingos a cair de alguma conduta defeituosa, ventoinhas, computadores ou maquinaria a trabalhar temos sempre algum som que por si só carrega a tarefa de emoldurar o ambiente que nos rodeia. Por cima desta camada sonora temos os efeitos sonoros dos tiros, do carregador da arma, os nossos passos ou os gritos dos inimigos que manifestamente distintos e salientes se sobrepõem a tudo e exacerbam todas as nossas ações, dando peso às mesmas.

Mas os nossos ouvidos neste jogo não servem só para apreciar toda esta panóplia de efeitos sonoros, também têm que trabalhar um pouco. Uma das mecânicas que utilizamos com bastante recorrência e que na minha opinião é das mais bem conseguidas, consiste em usar uma espécie de transistor embutido em Elster para captar frequências de rádio específicas que durante o desenrolar do jogo nos vão proporcionar soluções de puzzles, eliminar inimigos ou adquirir pequenos pedaços de lore.

Signalis é um jogo com um ambiente fantástico, inspirado nos grandes clássicos de survival horror com direção visual e sonoplastia de grande pedigree que transmitem um sentimento de desconforto que raramente desaparece e que é fundamental e sempre bem vindo neste tipo de proposta. Contêm uma história com um desenrolar interessante que nos prende até ao seu final e uma generosa quantidade e variedade de puzzles para resolver. A contrastar temos um sistema de inventário débil e a escassez de munições que mesmo fazendo de certa maneira parte do manual de como fazer jogos Survival Horror, tende a descaracterizar a sensação de terror, substituindo-a pela a de urgência que não é de todo a mesma coisa. Apesar disso, o estúdio indie Rose-Engine tem neste Signalis um bom primeiro cartão de visita.

Signalis sai dia 27 de outubro de 2022 na Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One, Microsoft Windows, Xbox Series X e Series S (também incluído no Gamepass)


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PC, gentilmente cedido pela Plan of Attack.

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