Bayonetta 3


Bayonetta é um dos grandes ícones do mundo dos videojogos. A Umbra Witch, conhecida por usar 4 armas ao mesmo tempo (duas nas mãos, duas nos pés) que as usa desenfreadamente para aniquilar anjos, demónios e outras criaturas bíblicas. Um jogo bastante popular, mas com um sucesso menor do que aparenta, pois o segundo jogo que saiu na Wii U quase não era feito! É um duo de jogos disponível na Switch, que abrem caminho para um terceiro capítulo de Bayonetta, sendo um dos meus títulos mais aguardados do ano!

A nossa história começa num dia perfeitamente banal, Bayonetta segue de bolei com Enzo a caminho de uma voz, que ela própria desconhece. A viagem é curta e, pouco tempo depois de chegar ao seu destino rapidamente se encontra no meio do caos, com tudo à sua volta a ser destruído enquanto enfrenta um novo tipo de criaturas, os homúnculos! Criaturas meio humanoides que parecem vindas de um filme de ficção científica, enquadrando-se perfeitamente no leque de monstros que estamos habituados a ver na série. Tal como os restantes estas criaturas nada mais são do que carne para canhão, lacaios prontos a serem destruídos de modo a garantir-nos horas e mais horas de diversão, possíveis pelo sistema de combate frenético que caracteriza a série. 


Nos primeiros momentos do jogo sentia que o jogo não estava a ser tão over-the-top como os restantes, algo que rapidamente vi que estava enganado, e fiquei feliz com isso. Evitando spoilers, já que a história conta com muitas surpresas, no meio do caos surge Viola. Uma nova personagem jogável, equipada com uma espada e capaz de invocar o gigante e demoníaco peluche Cheshire, que a ajuda em combate. Consigo traz também uma mensagem terrível pois o mundo está em perigo, ou seja, um dia normal para Bayonetta. Iniciamos assim uma nova missão, que nos leva a cantos do mundo como China, Tóquio, entre outros locais e, pelo caminho, iremos cruzar-nos com outras Bayonettas! É o tema central do jogo e cada uma delas tem um estilo bastante característico, mas infelizmente as interações entre personagens é bastante reduzida, mesmo os inimigos pouco falam e senti imensa falta das conversas que Bayonetta tem com os seus adversários, com piadas e insultos à mistura. Pegando neste tema e controvérsias recentes à parte, a nova voz dada a Bayonetta (e as suas versões) enquadra-se bastante bem, sendo que foi preciso algum tempo de habituação. Ainda assim todos os pequenos pormenores e maneirismos da bruxa estão de volta, fiéis à personagem.

Não falta ação desde o primeiro minuto até ao último combate, trazendo tudo o que há de bom na série de volta, aprimorando a sua fórmula como o modo de equipar armas, agora mais simplificado, mas mantendo a troca instantânea de armas a meio de combos. Temos à disposição um grupo de armas incríveis, à falta de melhor palavra, bem diferentes do que estava habituado. Além das icónicas pistolas Colour My World temos um conjunto de Yo-Yos que tanto usamos a sua rotação dos ataques e o seu médio alcance, enquanto nos movimentamos neles como se fossem rodas de um veículo, e a G-Pillar, uma arma mais convencional que parece a mandíbula de um monstro, com ataques brutos e devastadores. São alguns exemplos, talvez das armas mais “normais” que encontramos. Cada arma vem com um conjunto de habilidades que podemos comprar, uma skill-tree na prática que nos permite melhorar o nosso combate, e dei por mim a focar-me num conjunto de armas bastante… diferentes. Mas mais não digo.


Algo que adorei foi a nova mecânica Demon Slave, que invocamos e controlamos criaturas demoníacas ao nosso belo prazer. Quer para destruir tudo pelo caminho, ou para os usar a meio das várias combinações de ataques possíveis, onde tirei mais partido destes demónios foi a usá-los como um ataque final que terminava os ataques, com resultados bastantes devastadores! Tal como as armas há todo um conjunto de criaturas a desbloquear, que podemos equipar e alternar entre eles, monstros que já conhecemos e não só e, também, cada um vem com a sua skill-tree com um leque de incríveis ataques, facilitando-nos o combate contra os inimigos mais difíceis.

Com tanto truque na manga senti-me novamente em casa, usando o Witch Time no momento certo, para contra-atacar a uma velocidade mais reduzida, naveguei níveis fora usando o Demon Masquerade, que transforma em criaturas onde Bayonetta tanto corre a alta velocidade como flutuar pelo cenário, permitindo-me facilmente encontrar todas as pequenas e secretas missões secundárias, algumas delas bastante desafiantes. Isto sendo fã da série foi-me muito natural voltar à ação em Bayonetta, mas o jogo presume que tenhamos jogado os dois jogos anteriores. Se pensam saltar para este primeiro, aconselho vivamente a jogarem pela ordem, muito por causa da história que culminou neste terceiro capítulo e, também, porque a jogabilidade aqui foi pensada para quem jogou os anteriores, embora explique cada uma das mecânicas disponíveis.


Uma das novidades é controlar Viola, que não simpatizei com a personagem tanto por ela em si, mas também com a sua jogabilidade. Usando a espada como um verdadeiro samurai, temos de bloquear no momento certo para ativar o Witch Time dela, o que muitas vezes não era fácil. Também não era particularmente divertido jogar com ela quando comparado com Bayonetta, por muito que Cheshire seja incrível. Jeanne está também de volta, agora com capítulos exclusivos em missões de curta duração, mas que me apanharam de surpresa! É uma espécie de jogo retro com Metal Gear Solid à mistura, um toque de espionagem onde temos de matar os inimigos sorrateiramente, enquanto apanhamos itens secretos e concluímos o objetivo principal.

Juntando isto tudo aos níveis de Bayonetta com combates incríveis entre outros momentos excelentes e, tal como nos jogos anteriores, voltam pelo meio momentos mais arcade que adorei, com secções rápidas de tiros ou fuga que nos levam de volta aos clássicos da SEGA. Bayonetta regressa com tudo o que contava e queria para um terceiro capítulo. Ou, bem, quase... Pois tenho agora de falar do pior que o jogo traz: a sua história.


Ter emoções fortes em jogos não é algo que me aconteça com frequência, sendo que normalmente fico melancólico após terminar uma história que me toca, muitas vezes devido às suas personagens e/ou o seu mundo. No entanto Bayonetta 3 despoletou algo em mim que não contava: uma mistura de angústia, raiva e azia à mistura. Sem entrar em muitos detalhes, a narrativa deste capítulo parece ter sido retalhada aos bocados, sendo desconexa e sem preparar minimamente os capítulos finais. A isto junta-se a completa falta de destaque a momentos marcantes, que só não o foram por serem despachados a correr e sem a devida atenção, pontos na história não só importantes para o jogo em si como a série num todo!

Sendo grande fã da série, das suas personagens e principalmente de Bayonetta, a narrativa que o jogo entrega é algo amargo, sem o cuidado merecido e que simplesmente me deixaram frustrado, dando por mim a pensar que preferia que muito do que vi não tivesse acontecido de todo. Enquanto nos primeiros 2 jogos terminei-os com um sentimento que cumpri uma longa e atribulada missão, neste por muitas surpresas que nos coloquem à frente, mais pareceu tratar-se de uma missão secundária de outros jogo. Há muito que quero contar, tarefa ingrata quando falo sem apresentar as coisas concretamente, e mesmo semanas após o ter terminado contínuo frustrado com o que assisti. Ainda assim voltei ao jogo, explorando cada nível e indo para o que considero fundamental: a ação frenética que tanto adoro! O regresso de Bayonetta e da sua jogabilidade é tal como me lembrava, trazendo consigo um jogo de ação que me vicia desde a primeira missão.


Ação sempre fluída, mesmo que não seja visualmente dos jogos mais impressionantes na Switch de momento, mas que corre sempre fluído e sem cortes. Dei por mim a repetir os diversos níveis várias vezes, não só para melhorar a minha performance, mas também para fazer as missões secundárias que podemos (e devemos) fazer. É um sentimento incrível quando vemos um grupo de inimigos, iniciamos combate e em meros segundos estamos a atacar por todos os lados, enquanto nos desviamos e terminamos tudo invocando um bicho feio e destruidor. Um jogo que é acessível a qualquer um, podendo diminuir ou aumentar a dificuldade a gosto, onde tudo pode ser feito na íntegra.

Concluindo, Bayonetta 3 agarrou-me pela sua ação, mas não chega ao mesmo patamar que os dois primeiros muito pela sua direção, muito por não cuidar a sua história e deixar uma sensação de que tudo parece ter sido feito "aos bocados", deixando-me no final com um sentimento de desconsolo. Ainda assim é um jogo viciante, que nos leva a fazer “só mais uma missão”, que tem dado de falar e que mais dará de falar aqui em diante.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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