XIII



Em novembro de 2020, o estúdio maltês Play Magic desenvolveu um remake do clássico XIII, um first-person shooter de 2003, desenvolvido pela Ubisoft, que conta a história de um agente das forças especiais que dá à costa sem qualquer memória de quem é ou do seu passado. Infelizmente, este remake foi um desastre completo. Dois anos depois, temos acesso a uma atualização para o remake de XIII, desenvolvida pelo estúdio francês Tower Five, que inclui uma versão para a Switch, bem como conteúdo para multiplayer online.

Um verdadeiro "cult classic"
Antes de passar à análise desta esta atualização, acho que é importante revisitar não só o jogo original de 2003, como a versão original do remake, para melhor compreender a minha opinião em relação à mais recente versão. Quero também esclarecer que eu não joguei nem o XIII original, de 2003, nem o seu remake de 2020. No entanto, depois de jogar o remake atualizado, fiz alguma pesquisa sobre as versões que vieram antes, para perceber o quê que fez do original um jogo tão especial para muitos, e o quê que não resultou no remake.


XIII é um first-person shooter de 2003, com um visual cel-shaded que foi lançado, originalmente, para a PS2, GameCube e PC. É uma adaptação de uma banda-desenhada belga do mesmo nome, e isso reflete-se no estilo artístico do jogo. Naquela altura, XIII foi algo de realmente especial e, apesar de as suas vendas não terem sido aquilo que a Ubisoft, esperava, foi suficiente para ganhar o título de um dos jogos mais subvalorizados de sempre.
A história de XIII gira sobre um homem, cuja identidade não conhecemos, que dá à costa numa praia sem qualquer memória de quem é, ou do seu passado. A sua única pista é o número XIII, tatuado no seu peito. À medida que progredimos na história, a nossa personagem descobre ser uma espécie de agente das forças especiais, incriminado pela morte do presidente dos EUA, e que se encontra de alguma forma envolvido numa conspiração governamental levada a cabo por uma sociedade secreta.


O jogo original captou a atenção de muitos não só pela sua narrativa, mas também pelo seu estilo artístico, que se inspira na banda desenhada do mesmo nome. O visual cel-shaded é utilizado para reforçar os contornos, dando a impressão do uso de tinta. Além disso, o áudio é muitas vezes acompanhado por onomatopeias que saltam do ecrã, seja um "BOOM" ou um AARGH", entre outros. Quando, durante o combate, há uma explosão, o ecrã abana, revelando um contorno que se assemelha a um painel de BD. Estes e outros detalhes fizeram de XIII algo de original no final de 2003.

Um remake... mas porquê?
17 anos depois, o estúdio maltês Play Magic decidiu desenvolver um remake de XIII, o que só por si é uma decisão questionável, dado não se tratar de um jogo extremamente conhecido, bem como o facto de apelar apenas a uma pequena secção da comunidade gamer: em princípio, aqueles que jogaram o original. Por outro lado, na minha opinião, qualquer remake de XIII estaria destinado a falhar por sofrer do mesmo problema que as sequelas do primeiro Parque Jurássico. Confusos? Eu explico. Tal como o XIII original, o primeiro Parque Jurássico foi algo nunca antes visto, que impressionou todos os que o viram (ou jogaram, no caso do XIII). No entanto, essa originalidade é algo que não é fácil replicar, obviamente. Quando se repete, perde-se a originalidade que tornou o primeiro filme (ou jogo) tão especial. Por essa razão, eu acho que seria sempre difícil o remake de XIII ter sucesso. Ainda assim, a forma estrondosa com que esta tentativa falhou não era inevitável.
Pelo que vi, li e ouvi sobre o remake, as críticas podem ser resumidas a algo simples: a Play Magic não percebeu o quê que fazia do jogo original especial, e então, na sua tentativa de modernizar um clássico, retirou-lhe a sua alma (para além, claro dos problemas técnicos como a física do jogo, os problemas de áudio e os constantes glitches).


Trata-se de um remake que segue exatamente a mesma história, com as mesmas vozes por detrás das personagens. Visualmente, o remake é bastante inferior ao jogo original, apesar de ter sido totalmente recriado 17 anos depois, e em parte isto deve-se à remoção do visual cel-shaded, pelo qual o original é conhecido. As sequências cinematográficas que contavam com um estilo distintivo e animações que evocavam a BD que serviu de inspiração para o jogo original foram substituídas por sequências desinteressantes com modelos 3D. Em muitas ocasiões a música ambiente é inexistente ou praticamente inaudível, o que é uma pena, dada a qualidade da banda sonora do jogo original. Aconselho vivamente que procurem comparações entre o remake e o jogo original para realmente compreenderem o quão pior que o original este remake é. Estes e muitos outros problemas fizeram do remake da Play Magic um completo desastre.

Uma solução?
A 13 de setembro deste ano, uma atualização para o desastroso remake da Play Magic foi lançado para PS4, PS5, Xbox e PC, bem como uma versão para a Nintendo Switch, desta vez desenvolvida pelo estúdio francês Tower Five. Esta atualização conta com conteúdo para multiplayer online, melhorias na IA (um dos grandes pontos fracos do remake), e um framerate de 30 fps na Switch e 60 fps na PS5 e na Xbox Series X.
O melhor elogio que posso fazer ao "novo" remake é que, visualmente, está muito mais próximo do jogo original do que do remake de 2020. Ao invés de refazer totalmente o jogo, o que parece que a Tower Five fez foi simplesmente demarcar os contornos, dando a impressão, tal como no original, do uso de tinta, mas ainda assim, a diferença antes e depois da atualização é como da noite para o dia.


As animações que já estavam presentes tanto no original como no remake (2020), como os painéis de BD que surgem para destacar tiros na cabeça, objetos importantes ou eventos a acontecer fora do nosso campo de visão, estão agora muito mais bem feitas, ainda que não estejam ao nível do original. A física está bastante melhor, não tive qualquer problema neste campo, e um bom exemplo das melhorias aqui é a forma como os inimigos reagem quando morrem. Na versão original do remake, de 2020, quando os inimigos morriam, tornavam-se em estátuas durante cerca de um segundo e depois caíam como se tivessem sido ligeiramente empurrados. Agora, reagem simplesmente de uma forma natural. Normalmente, isto não seria algo que eu elogiasse noutro jogo, já que esse é o mínimo que se espera de qualquer produção deste nível, principalmente um remake de um jogo que não tinha nenhum destes problemas, mas é este o nível a que estão tanto o remake de 2020 como a sua versão atualizada.


Em relação ao combate, há melhorias, mas continua longe de perfeito. As melhorias na IA são notáveis, mas mantém-se a necessidade de usar a mira para disparar (que não era uma opção na versão de 2003), já que, sem isso, é praticamente impossível acertar seja no que for. Infelizmente, de cada vez que usava a mira precisava de pelo menos 1 ou 2 segundos para apontar para onde queria e ficava com a minha visão periférica severamente prejudicada, o que tornou o combate desnecessariamente difícil.
Os problemas que existiam com o áudio do remake, como situações em que o áudio era cortado ou se tornava repetitivo, foram resolvidos, mas infelizmente continuam a ser demasiadas as ocasiões em que não se ouve qualquer música ambiente.


Há outros problemas a apontar, como o facto de cada nível ter um conjunto predefinido de armas com que começamos, independentemente das armas que tínhamos quando terminamos o nível anterior, ou a impossibilidade de recarregar a arma enquanto seguramos um refém. Outra coisa em que reparei foi a falta de sequências cinematográficas entre alguns níveis, o que significa que acabamos um nível num certo sítio e começamos o nível seguinte num outro local, sem qualquer contexto ou explicação de como lá chegamos.

Conclusão
No final de contas, a pergunta que interessa fazer é se esta atualização faz com que valha a pena jogar XIII. E a minha resposta é... Talvez?
A atualização torna o remake bastante melhor do que o desastre que era quando foi lançado em 2020. Quanto a isso não há dúvidas. Mas não estou convencido de que seja melhor do que a versão original de 2003.
Em última análise, acho que, se tiverem a oportunidade de comprar este jogo a um bom preço, não irão ficar desiludidos, principalmente se não tiverem jogado o original, como eu. E se estiveram à espera desta atualização para dar outra oportunidade ao remake, podem ter a certeza que desta vez a vossa experiência será muito melhor. No entanto, se tiverem ao acesso ao jogo original, recomendo que o joguem, talvez até mais do que o remake (sim, mesmo com a atualização). Apesar de nunca o ter jogado, tudo o que vi e ouvi me diz que é algo verdadeiramente especial.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PS5, gentilmente cedido pela Microids.



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