Thymesia


Se há algo que é pedido constantemente pelos fãs de Dark Souls é mais Bloodborne. Seja uma sequela, um ligeiro update visual mais fluído ou até mesmo um remake, mas tal ainda não aconteceu. Isto tudo no ecossistema PlayStation, sendo um exclusivo talvez só se chegasse ao PC. O resto? Bem, assim “de surpresa” surge Thymesia, um Soulsborne de época que lembra ligeiramente a atmosfera de Bloodborne, trocando o estilo vitoriano pelo ambiente da peste negra que varreu o mundo.


Aqui vemos recriado muito do que vemos em Dark Souls desde a jogabilidade aos menores detalhes, como o tipo de letra e mensagem usada quando morremos. Ou melhor, “morremos”, porque em Thymesia nunca morremos na realidade. À semelhança do estilo de enredo em que é tudo um sonho, aqui navegamos nas memórias de Corvus, o nosso protagonista. Cada morte é uma memória interrompida, em cada zona procuramos saber mais sobre o nosso protagonista amnésico à procura de memórias principais denominadas de Cores. Quanto à jogabilidade em si é tal e qual o que conhecemos de Dark Souls: somos derrotados, voltamos ao último checkpoint e podemos regressar ao local onde perdemos para recuperar as nossas souls, perdão, memórias.

Memórias estas que servem para melhorar a nossa prestação em combate, aumentando a nossa vida ou o dano que os nossos ataques provocam. Em paralelo há toda uma skilltree onde vamos desbloqueando novas habilidades, que a qualquer momento podemos voltar atrás e apostar noutras. Fora os nossos atributos principais e os melhoramentos feitos às quantidades ou eficácia das poções que temos, aqui temos uma quase total liberdade em customizar Corvus. E na realidade é praticamente tudo o que podemos fazer. Pois Corvus conta com apenas duas principais armas: um par de sabres e umas misteriosas garras.


E aqui surge a grande essência de Thymesia e um dos pontos que mais gostei no geral! Pegando no tema da peste, que parece algo ignorado na narrativa do jogo, a estratégia base do combate é aplicar dano com ataques de sabre, expondo uma barra verde de vida nos adversários, para depois atacar com as garras pestilentas para provocar o dano real. Isto é fundamental contra os bosses que enfrentamos, pois se não formos rápidos a atacar com as nossas garras, eles recuperam rapidamente a sua vida! Atacar logo com as garras provoca um dano quase inexistente nestes adversários, tal como o foco no combate com sabres acaba por os derrotar, algo que nos “obriga” a estar frente a frente com o adversário para não perder a janela de oportunidade de os derrotar facilmente.

Tenho referido os ataques com estas duas armas, mas há todo um leque de armas especiais que vamos desbloqueando pelo jogo, armas estas que adquirindo absorvendo a energia dos inimigos, através de um ataque longo da garra. Deste modo temos sempre disponível um ataque que não é nada mais que a invocar, pois desaparece após um ataque. Felizmente os inimigos fazem ainda cair um item que nos permite ter sempre as suas armas à disposição, também através de um ataque especial que podemos melhorar, de modo a provocarem mais dano. De resto não há equipamento, assim por dizer, sendo bastante simples nesse aspeto onde além destas armas especiais podemos equipar 3 tipos diferentes de poções, e melhorar as mesmas com atributos adicionais.


Mas o que poderia ser um jogo de alta dificuldade, algo que esperamos dos jogos do género, com este acrescento de ter de estar constantemente a atacar os inimigos, não é bem o caso. Thymesia é um jogo de dificuldade leve, sendo que o maior obstáculo que encontrei durante o jogo todo foi precisamente no primeiro boss, devido a um salto de dificuldade enorme, muito por não ter desbloqueado várias das habilidades que nos ajudam durante o jogo. Mesmo os cenários são bastante simples, sem grandes armadilhas ou inimigos que aparecem de surpresa e nos derrotam num par de ataques, sendo que senti mais dificuldade ao perder-me em algumas partes do que propriamente ser derrotado.

Mesmo perdendo-me, cada um dos cenários é muito, mas muito curto, acabando tão rapidamente que dei por mim a pensar onde estaria o resto do nível. Também não ajuda que o número de diferentes zonas seja baixo, que por muito que o jogo nos leve a diferentes missões, bosses opcionais e alguns extras para chegar ao final “verdadeiro”, apenas vemos o mesmo nível reutilizado com uma pequena alteração. E ainda assim com isto tudo, o jogo tem pouco para explorar e visualmente peca ao apresentar uma quantidade enorme de objetos ou texturas que aparecem do nada a uns passos de distância, mas pelo lado positivo corre sempre tudo bastante fluidamente. A própria história é extremamente simples, com um leque de personagens muito reduzido e, ainda assim, não são acompanhados por voice-acting.


Os níveis em si são bastante interessantes, meio labirínticos muito por serem, em grande parte, repetitivos. Novamente, mesmo que estejamos a navegar por memórias de Corvus, o tema da peste que à primeira vista parece importante, acaba por parecer estar colocado de lado, não fosse o aspeto meio zombie dos inimigos. Onde acabo por sentir uma espécie de desperdício é no tema das memórias: sendo um mundo meio onírico de Corvus, perdeu-se o potencial de criar cenários com maior foco na fantasia ou imaginário.

Admito que fiquei muito mal habituado com Elden Ring, e que tão cedo não espero ter outro jogo do género que me surpreenda a esse nível, mas ainda sem expectativas ou comparações avancei para Thymesia esperado por grandes desafios, imensa exploração e bosses que me iam roubar noites inteiras para os derrotar, ou quase. No entanto ainda que bom é um jogo bem mais simples, com um grau de dificuldade bastante menor que, sinceramente, até pode ser um ótimo ponto de partida para quem quiser explorar o género, sem estar preocupado com elevados graus de dificuldade.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para Xbox Series, gentilmente cedido pela Team17

Latest in Sports