Live A Live


Recordo-me bem quando Octopath Traveller foi anunciado, também da minha reação meio cética ao jogo de estilo retro, quando o que pedia na altura era um novo Bravely Default. E de como mais tarde esse anúncio apelava à minha nostalgia, dos grandes RPGs lançados para Super Nintendo e Mega Drive que aquele estilo, agora conhecido como HD-2D, facilmente me fazia viajar no tempo e gradualmente deixar-me cada vez mais ansioso para o jogar. Um jogo muito inspirado pelo clássico de 1994 da Squaresoft Live A Live, que conta a história de 8 diferentes heróis de épocas no distintas no tempo e que, de algum modo, as suas histórias se uniam. É curioso ver que o jogo que inspirou o estilo HD-2D recebe agora um remake nesse mesmo motor, sendo também a primeira vez que o jogo é lançado no ocidente.


Takashi Tokita conhecido pelo seu trabalho em Final Fantasy IV, Parasite Eve ou Chrono Trigger, regressa para este remake acompanhado pela equipa da história Inc., responsável por jogos como Caligula Effect. Uma aventura onde viajamos entre 8 distintos capítulos, todos eles com inspirações claras de diferentes média, com cada herói a representar um estilo próprio.

Uma aventura na pré-história sem diálogos, onde todos comunicam através de simples sons e emoções. Um drama na china imperial onde um mestre de kung fu procura pelo seu sucessor, lembrando muitos filmes de ação asiáticos. Ação na era Edo do Japão com muitos shinobi e mitologia japonesa à mistura, que testa a nossa habilidade de stealth. Um western onde cowboys têm duelos e lutam pela sobrevivência, tal e qual como vemos em tantos filmes do faroeste. Todo um conjunto de combates e ação no presente, onde um lutador tenta ser o mais forte, numa história que rapidamente nos lembra de Street Fighter. Um futuro próximo onde um jovem com poderes telepáticos se vê envolvido com robôs gigantes e criaturas igualmente colossais. E por último num futuro distante, acompanhamos um pequeno robô a bordo de uma nave, no meio do espaço, numa história sci-fi que se inspira em filmes como 2001: Odisseia no Espaço ou Alien.


Aos que experimentaram a demo do jogo, cuja progressão pode depois ser usada no jogo completo, podem ver 7 heróis disponíveis, sendo que uma oitava personagem não está logo disponível, mas encontra-se presente em todo o lado, desde a capa do jogo a toda a sua promoção. Assim que a desbloqueamos, seguimos uma história ao bom estilo de RPG tradicional na era medieval. Não querendo entrar em spoilers, para cada uma das personagens e respetivos capítulos, todos eles são acompanhados com algumas surpresas e, embora sejam todos distintos uns dos outros, há pequenos elementos que os unem, desde a jogabilidade à narrativa.

Esta nova versão é extremamente fiel ao jogo original, com algumas melhorias, mas, na prática, é um RPG retro dos anos 90. Tal como o original não contamos com random battles na maior parte do jogo, algo que para a altura já era diferente e até inovador, pois podíamos evitar todo um conjunto de combates. Não é um jogo difícil, muito pelo contrário, sendo bastante acessível pois os combates não requerem muita estratégia, embora ela exista. O combate em si é feito em grelha, numa espécie de mistura de jogo tático e RPG por turnos, onde procuramos não só atingir as fraquezas dos inimigos como o maior número possível deles. É certo que foi feito tudo para respeitar ao máximo o jogo original, mas senti falta de terem dado um passo à frente e acrescentar mais, nem que fosse um grau de dificuldade superior para colocar à prova estratégias que podemos ter em combate. Mesmo questões como equipamento ou itens são limitadas, com algumas mecânicas para os receber, mas no geral recebemos quase tudo dos inimigos.


Tal como a jogabilidade, as histórias de cada personagem em si estão idênticas, onde a maior mudança está a nível audio-visual, aproveitando bem o estilo HD-2D e acrescentando diálogos com vozes, tanto em inglês como japonês. Aqui sinto que se perdeu algum potencial, pois tanto temos capítulos com alguma longevidade e outros que terminam mais cedo do que esperamos! De forma geral são todos relativamente curtos, embora alguns se prolonguem bastante, como é o caso da oitava personagem. Podia ter sido interessante ver conteúdo acrescentado para o jogo no geral, até porque cada cenário tem mecânicas únicas bastante interessantes, que podiam ser aproveitadas melhor pois grande parte não volta a aparecer.

Há um trabalho excecional por parte de Yoko Shimomura, a compositora do jogo original que regressa também com o conhecimento acrescido que ganhou em séries como Xenoblade Chronicles, Kingdom Hearts ou Mario & Luigi. Cada personagem conta com músicas muito próprias, levando-nos bem aos tempos que elas representam e, pelo meio, temos momentos incríveis. Um deles é a música Megalomania (dos combates contra bosses) que quando toca, sabemos que estamos perante o momento decisivo de cada história. Servindo de curiosidade, Toby Fox inspirou-se neste nome para a sua icónica música. Esta banda sonora está toda disponível no leitor dentro jogo, com músicas que vamos desbloqueando ao concluir cada história.


Foram muitos os elementos que me agradaram, muito pelo estilo motor que tanto preserva o estilo retro como moderniza os mesmos e, enquanto tanto em Octopath Traveller como em Triangle Strategy vejo uma procura por aplicar uma pixelização em todos os visuais do jogo, Live A Live experimenta com elementos mais realistas pelo meio. Por exemplo, os cenários no futuro distante mais depressa nos recordam de jogos da era da PlayStation ou Nintendo 64, quando começaram a sair os primeiros jogos em 3D. São pequenas coisas que vão enriquecendo o estilo HD-2D, que sou fã, e espero que continuem a lançar jogos dentro do estilo.

Resumindo, Live A Live é um RPG bastante acessível, onde cada capítulo acaba por ser um jogo diferente com elementos únicos, todos em torno de uma história comum que os mais atentos irão perceber as ligações aos poucos. É uma aposta num remake de um jogo muito desconhecido, que espero abrir portas para outros futuros projetos H2-D2 e que, acima de tudo, estarei cá para os receber!


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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