Stray
Ao inicio pensei que Stray fosse um título solitário de exploração atmosférico, bem ao jeito de Abzu ou Journey, mas depressa se tornou numa jornada sentimental repleta de robôs para conhecer, saltos e ninjas com cebolas. Opá... que maçada este final!
O facto deste título introduzir um gato como personagem principal torna a aventura fresca, no sentido de abrir novos horizontes para uma mobilidade e estilo de jogo diferente de outros títulos de aventura e exploração. Obrigado Blue Twelve Studios por implementarem um botão especifico para se ouvir um "miau".
Stray segue a aventura de um felino super simpático, que decide juntar-se aos seus companheiros numa caminhada matinal pelos caminhos escorregadios e tumultuosos de uma cidade em decadência e entregue, na sua maioria, à natureza. Os vestígios da humanidade estão apenas presentes nas habitações deixadas para trás, já que aparentemente os acontecimentos ocorrem num futuro distante. Durante um salto mais complicado, o inesperado acontece e o nosso protagonista perde uma das suas 9 vidas ao cair, de uma altura considerável, para uma cidade subterrânea habitada por robôs. Ao ver-se sozinho e a cambalear, a única solução será a de procurar uma saída, ou uma subida.
A primeira interação com algo, sem ser animal, que o jogador terá, será com uma cabeça de robô, chamado B/12. Este pequeno mas astuto pedaço de metal está cheio de recursos que ajudarão na aventura quer seja na procura de objetos necessários para concluir a missão que lhe fora incumbida, conclusões de eventuais puzzles, ou até mesmo se o jogador se encontrar um pouco perdido, com a possibilidade de dar pequenas dicas do próximo objetivo. Este também é o ponto de ligação entre o gatinho e os robôs habitantes da cidade. Tal como o mundo "exterior", o interior da cidade encontra-se com um aspeto decadente mas habitado por robôs com vestimentas e personalidades diferentes. Alguns com o sonho de poderem visitar ou até mesmo habitar o mundo "exterior".
Mas porque não podem simplesmente aventurarem-se para fora dos muros da cidade? Bom, existe um inimigo comum que se começa a alastrar para o interior da cidade e que deixa todos os habitantes de fios em pé. Uma estranha infestação de Zurks, uma espécie de carraças com aspeto de "face huggers", criada pelos humanos com o intuito de comer o lixo. Não é desvendado se esta foi a causa para a decadência da humanidade, no entanto, os Zurks adaptaram-se e começaram a comer literalmente de tudo, seja metal ou pele. Curioso ou não, ou apenas a minha imaginação, os ninhos de Zurks, que são possíveis encontrarem-se nos diversos prédios de certos pontos da cidade, criam uma atmosfera que lembra o "Up Side Down World" de Stranger Things.
O objetivo e a necessidade de chegar à "superfície" para a reunião com os seus companheiros felinos, junta-se ao sonho de algumas das personagens de chegarem ao mundo "exterior" das muralhas da cidade. A juntar ao objetivo principal, existem missões secundárias que sem grandes alaridos conseguem de facto despertar a curiosidade. Os níveis são pequenos mas com bastante por explorar. Ainda que não seja possível perder na totalidade a noção do local onde se encontra, é interessante a exploração vertical que é possível fazer-se.
Quanto à jogabilidade, importa referir que é possível arranhar sofás, carpetes e até portas, com o simples pressionar de dois botões, neste caso os gatilhos do DualSense. Como se isto já não fosse o suficiente, é ainda possível miar à vontade com o botão especificamente para esse efeito e empurrar objetos de locais mais altos. O sonho de um gato!
Stray tenta manter tudo o mais simples possível. Não existe um texto extenso nas extremidades do ecrã a indicar ao jogador o que terá de fazer. Está completamente em aberto ao jogador as decisões do que fazer a seguir, da maneira que quiser. Ainda que não seja possível saltar para todas as plataformas de forma livre, as que são, são apresentadas com botão afeto ao salto. Não é uma aventura particularmente desafiadora neste sentido e a única maneira de sofrer dano é no confronto direto conta os Zurks.
O movimento de câmara é bastante suave, intuitivo e bastante satisfatório, deixando em aberto ao jogador a sua completa movimentação.
Mesmo considerando que esta é uma aventura algo curta, com uma duração entre as cinco/seis horas, a produção do ambiente e os seus diferentes níveis são bastante interessantes. A atenção ao detalhe de uma cidade cyberpunk decadente, com todas as luzes e fumo, tornam tudo de certa maneira natural e ajudam a transportar o próprio jogador para o que se passa no ecrã. Até mesmo as pequenas interações entre o gato e os diversos robôs, como o esfregar na perna e aparecer um coração nos monitores que servem de cabeça, o miar, ou até mesmo provocar uma queda mais aparatosa ao colocar-se à frente do passo apressado de alguma personalidade mais desajeitada.
Claro que sim! Eu que o diga.