Sonic Origins


Foi há 31 anos que nasceu Sonic the Hedgehog, a aposta da SEGA num jogo de plataformas e numa mascote, dando finalmente uma cara à companhia. O sucesso foi imediato, quase tão rápido como a velocidade que o “Blue Blur” corria níveis fora desde então, trazendo-nos uma série de plataformas diferente que fomentou a primeira grande rivalidade mundial nos videojogos. Uma série que acompanhei de perto, desde as horas passadas na Mega Drive no original, colado ao ecrã, aos jogos que têm saído ao longo destas décadas.

De forma a celebrar este aniversário chega Sonic Origins, uma nova compilação dos principais jogos da Mega Drive e Mega CD, com cara lavada e algumas novidades! Seja para correr Green Hill Zone fora pela milésima vez, ou poder finalmente desfrutar de Sonic 3 & Knuckles em wide-screen e nas plataformas atuais, esta é ao mesmo tempo uma viagem pela nostalgia entre muitos, e um bom convite para os restantes conhecerem as origens desta tão icónica e memorável série. É verdade que o que não faltaram ao longo destes anos todos foram coleções com jogos do Sonic, ainda assim Sonic Origins chega como a versão definitiva de Sonic the Hedgehog, Sonic CD, Sonic 2 e Sonic & Knuckles, com extras que celebram estas 3 décadas do ouriço azul.


Admito: o número de vezes que já joguei estes jogos, em diferentes consolas e formato é grande. Recordo-me bem dos primeiros momentos após a SEGA sair do mercado das consolas para, depois, lançar jogos como Sonic Mega Collection, que comprei mal pude para a PlayStation 2, ou quando tive a Game Cube onde à primeira oportunidade adicionei Sonic Adventure 2 Battle à minha coleção, mesmo quando já tinha jogado exaustivamente o original na Dreamcast. Até mesmo recentemente, com o lançamento dos dois primeiros Sonic na Nintendo 3DS, usei a desculpa de os poder jogar com o efeito 3D para, novamente, comprar jogos que já tenho em tantos lados. Não é de admirar que anseava pelo lançamento de Sonic Origins a partir do memento que foi revelado ano passado.

Mas algo que sempre acompanhou diversas coleções da SEGA, mesmo as mais recentes, é a emulação chegar quase sempre com problemas. Ora questões como latência nos controlos, problemas visuais e a nível sonoro, casos extremos como Sonic Classic Collection na Nintendo DS que são simplesmente “injogáveis”. Felizmente são pontos que não assombram Sonic Origins, fiéis às experiências originais, com alguns bugs que regressam desses jogos e outros totalmente novos, mas que nunca me arruinaram a experiência de jogo ou me levaram a re-iniciar o mesmo.


Uma coleção que se aproxima das versões lançadas para mobile por Christian Whitehead (The Taxman), cujo motor que criou foi depois aproveitado para o remaster de Sonic CD em 2011 e que está de regresso para Origins, acabando por serem ports dessas versãos e não das originais. Surgem melhorias visuais como novos sprites e animações nas personagens, que se juntam a outras das versões mobile, como a resolução superior com formato wide-screen e, acima de tudo, uma boa fluidez nos jogos, que notamos principalmente nos níveis especiais, como em Sonic 2. Se nunca jogaram a versão de telemóvel deste, e ainda têm memórias bem vivas do original na Mega Drive, preparem-se para uma experiência totalmente nova! De resto outros bonus como poder jogar com Tails e Knuckles no primeiro jogo de Sonic, ou o regresso de Hidden Palace Zone, nível originalmente retirado de Sonic 2 mas entretanto restaurado.

Este jogo quase que se separa em dois modos principais: Classic, onde podemos revisitar os jogos num ecrã “quadrado” de 4 por 3, tel e qual o original mas com algumas melhorias gráficas; e o modo Anniversary com ecrã a 16 por 9 com novidades como Sonic poder usar o Drop Dash, introduzido em Sonic Mania. Talvez a maior diferença entre modos é o uso de vidas no modo Classic, que são trocadas por moedas em Anniversary, estas que depois podem ser usadas no modo Museum para comprar ilustrações, músicas ou animações. Há ainda outra utilidade para elas, que é poder repetir os níveis especiais caso não tenhamos conseguido apanhar a Chaos Esmerald, uma função bem vinda para evitar a frustração de terminar cada jogo sem apanhar todas as esmeraldas, embora não faltem oportunidades para as ter durantes cada jogo.

Dito isto, a primeira coisa que fiz mal comecei Sonic Origins foi ir de imediato ao Story Mode. Aqui jogamos com Sonic desde o primeiro jogo até ao combate final em Sonic 3 & Knucles, seguindo jogo por ordem cronológica. De forma a ligar os jogos temos pequenas mas incríveis sequências de animação, recheados de nostalgia e com a participação do compositor Tee Lopes, acabando por ligar todos os jogos numa espécie de jogo único. Atenção que estas animações estão também presentes em cada um dos jogos, mas ganham todo um propósito no modo de história. É uma explosão de nostalgia arrancar com Sonic, receber a companhia de Tails a partir de Sonic 2 e voar até ao espaço no derradeiro combate final. Sinto que é a derradeira forma de jogar esta coleção, embora não seja possível jogar este modo com vidas, já que usa o modo Anniversary e as suas respectivas moedas.


Temos também todo um conjunto de missões completamente novas, pequenos excertos de níveis criados de raiz para esta coleção, onde temos de apanhar anéis, destruir um número de inimigos ou terminar o objetivo num determinado tempo. São várias as missões, mesmo que curtas e, muitas delas, colocam a nossa destreza em prática se quisermos obter o rank S. Cada jogo tem ainda um modo Boss Rush e, talvez o mais estranho de todos e ao mesmo tempo desafiante, Mirror Mode, onde jogamos tudo ao contrário. Um modo que desafiou toda a memória muscular que tinha de cada jogo. Acreditem, vão morrer dos modos mais idiotas se conhecem os jogos de uma ponta a outra.

Mas com diversos modos de jogo surge todo um conjunto de inconsistências na coleção… Por exemplo, não é possível jogar com ecrã wide-screen e com vidas, pois somos obrigados a usar as moedas no modo Anniversary, embora que em Boss Rush tenhamos este ecrã a 16 por 9 e vidas. Também não é possível jogar o Story Mode com Tails ou Knuckles, restrição inexistente depois em cada jogo individualmente. Para gerar ainda mais confusão, não conseguimos jogar com Knuckles em Sonic CD, embora ele esteja disponível no remaster do jogo de 2011, ou até mesmo ser possível jogar com a combinação Knuckles e Tails em Sonic 2, mas não em Sonic 3 & Knuckles. Ainda no tema das personagens, perdeu-se a oportunidade perfeita de ter Amy ou Metal Sonic como personagens jogáveis, ou até mesmo aproveitar Mighty e Ray que regressaram para Sonic Mania.

A própria utilidade das moedas para comprar conteúdo no museu acaba por ser desnecessária, onde teria preferido desbloquear tudo à medidad que ia avançando nos jogos ou concluíndo as missões. O mais grave é ter parte deste conteúdo audio-visual desbloqueado detrás de conteúdos adicionais pagos, onde além de galerias Premium ganhamos personagens animadas no leitor de música… Defeitos à parte o museu está recheado de conteúdo, músicas memoráveis e bastantes vídeos para desfrutar, com algumas surpresas!


Já que falamos da música, há um certo assunto que não consigo deixar de apontar. O tema das licenças das músicas em Sonic 3 (& Knuckles) tem sido debatido ao longo de anos a fio, suposto motivo para a sua não inclusão em diversas coleções ou re-lançamentos recentes. Quando Sonic Origins foi anunciado pensei que seria o final do assunto, mas infelizmente a resolução foi um conjunto de músicas aproveitadas do protótipo de Sonic 3 que deixam algo a desejar, não propriamente pelas músicas em si mas pela qualidade questionável das mesmas. Há ainda uma mudança na música de Super Sonic neste título, que sem motivo aparente para a sua alteração lembra-me imenso do fatídico Sonic the Hedgehog 4.

São vários pontos que acabam por retirar muito do mérito e potencial que podia ser Sonic Origins, que sai com várias inconsistências e decisões estranhas que me fazem sentir que ainda não foi desta que temos uma coleção no ponto. Acima de tudo é quase tudo pontos que poderão vir a ser melhorados em updates futuros, onde talvez o que mais anseio é poder jogar em wide-screen mas com vidas, além da uniformização da seleção de personagens. Ainda assim, foram alguns tropeções pelo caminho de uma viagem memorável, que me fez voltar atrás no tempo e que não consigo deixar de recomendar, principalmente aos fãs da mascote azul da SEGA.


Problemas à parte é uma coleção incrível, cheia de níveis únicos e desafiantes, então jogando no modo de história onde têm horas a fio de jogo, que podem parar e voltar a jogar sem ter de recomeçar tudo. Notar que cada jogo foi retocado para tirar partido do wide-screen, algo que notamos logo no primeiro boss do primeiro jogo com uma re-disposição das plataformas e a animação do próprio Dr. Eggman Robotnik, nota-se que acima de tudo houve um certo cuidado nesta coleção. Serve ainda para nos lembrar que os jogos clássicos de Sonic ainda são hoje bastante bons e atuais, mesmo que não seja propriamente fã de Sonic CD. Um lançamento que reforça a vontade que tenho de ver uma sequela de Sonic Mania, mas que seja lançada com bastante afeto e cuidado.

Tendo-o jogado na Nintendo Switch, poder pegar na consola a qualquer momento, ou em qualquer lado, e jogar “mais um nível” de Sonic 3 & Knuckles é uma experiência cheia de nostalgia, lembrando-me que numa série tão conhecida por lançamentos… estranhos… ainda é capaz de me trazer momentos de diversão únicos, mesmo no irritante do boss final de Sonic 2 onde não há um único anel para me ajudar.


Nota: Análise efetuada com base no jogo para a Nintendo Switch, adquirido pelo autor do artigo

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