SteamWorld Quest: Hand of Gilgamech


A série SteamWorld é um fenómeno do mercado indie dos videojogos. Apesar de um começo algo obscuro na Nintendo DSi com o jogo SteamWorld Tower Defense, tornou-se um verdadeiro sucesso com SteamWorld Dig, um original jogo de plataformas e aventura que chegou às principais plataformas de videojogos, sempre aclamado pela crítica e os seus jogadores. Ainda antes da merecida sequela, porém, a Image & Form surpreendeu tudo e todos com SteamWorld Heist, um inesperado jogo de estratégia por turnos que repetiu a proeza de conquistar tudo e todos.

Não é qualquer companhia que arrisca apostar em algo fresco quando tem nas mãos um grande sucesso e ainda assim cativar todo o tipo de público, mas é isso mesmo que este estúdio tem vindo a fazer. Depois de SteamWorld Dig 2, voltam a surpreender com SteamWorld Quest, um RPG de turnos baseado em cartas com uma temática steampunk medieval. Terá sido a jogada certa?

Devido à qualidade e sucesso dos jogos anteriores, o universo SteamWorld tornou-se facilmente reconhecível também pela sua arte e todo o ambiente steam punk. Mesmo com a temática medieval, SteamWorld Quest não é de maneira nenhuma uma exceção. O inesperado é mesmo este Quest surgir como um RPG de turnos com um sistema de combate movido por cartas baralhadas aleatoriamente, que servem de comandos para a ação do jogo.


Uma vez mais, os robots são os protagonistas, que se destacam perfeitamente no jogo. Os seus diálogos são de partir a rir, as personagens estão mesmo muito bem conseguidas pois cada uma delas tem o seu carácter e as suas expressões, tais como os motivos pessoais que as levam a embarcar nesta aventura épica.

Um mundo desenhado à mão, mas com cenários distintos dos típicos da série, para uma autêntica jornada numa época medieval. Em troca dos cenários steampunk, embora estejam presentes os típicos robots da série (aliados ou inimigos), ao redor tudo é preenchido por bosques, grutas e castelos. Uma nova experiência refrescante que, para evitar qualquer tipo de spoiler nesta análise, caberá ao jogador descobrir como se enquadra neste universo.

Logo após uma breve sequência de introdução, são apresentadas duas das personagens principais, Armilly e Copernica, duas robots e cada uma delas com o seu estilo de luta. Armilly tem o sangue fervoroso de aventureira nas veias e um fascínio pelas espadas com o sonho de ser tal como o seu ídolo Gilgamech, Herói Anciano. Já Copernica dedica-se às artes mágicas, com uma sabedoria imensa no que diz respeito à alquimia. As duas protagonistas caminham pelos bosques onde nos é apresentado o tutorial de como o esquema de lutas funciona. O primeiro encontro ensina o jogador a entender as mecânicas lindamente, até porque o jogo não é de todo complicado de se jogar, requer é esperteza, sabedoria e também alguma sorte pelo meio, diga-se.

O sistema de combate é relativamente simples pois isto é, no fundo, como um jogo de cartas. O jogador terá ao seu dispor as Punch Cards, estas são as cartas que recebem em cada turno. Seis cartas retiradas do baralho, todas elas chegam às mãos de forma aleatória e cada uma representa as habilidades que os heróis podem usar, estando devidamente especificadas. Existem 3 estilos de cartas: Strike, Upgrade e Skill. Como o nome indica, Strike são cartas de ataque, Upgrade são o tipo de cartas que dão um boost temporário ao jogador e por fim as Skills, que são habilidades únicas de cada uma das personagens. Existem cartas que gastam Steam Pressure (SP), que conta com os seus limites. Cada carta normalmente consome um SP, mas algumas requerem maior quantidade, daí não poderem ser utilizadas de imediato.


Em cada turno, duas das cartas podem ser baralhadas novamente, dando a possibilidade de obter uma melhor mão para combater. Se o jogador utilizar 3 cartas destinadas ao mesmo herói, este pode executar um golpe ou habilidade extra, de nome Heroic Chain, que significa uma jogada a mais no mesmo round em vez das 3 habituais. Como em muitos outros RPG, existem diversos elementos como fogo, gelo, tempestade. Para dizimar os inimigos, cada um deles conta com as suas fraquezas, por isso será preciso estudar os movimentos do adversário e tentar compreender qual a melhor jogada para o atingir. Além disto, existem as Status Conditions que algumas cartas podem infligir, como veneno, paralisação, entre outros.

Para além das cartas, é possível consumir itens para recuperar a saúde dos heróis, seja durante uma batalha ou no exterior, através do menu. Fora das batalhas, a equipa explora um mapa relativamente linear. Existem algumas alternativas, com vários caminhos, mas nem sempre, o que deverá ser o aspecto menos positivo em SteamWorld Quest, pois dá a sensação de ter um mapa pequeno com apenas algumas secções e quase elas todas obrigatórias a visitar. No entanto, alguns dos cenários contam com detalhes muito bonitos no fundo, com paisagens e personagens em movimento. A arte neste universo SteamWorld nunca desilude.

Ao longo do mapa existem várias estátuas do Herói Anciano Gilgamech, que lhe prestam homenagem e servem de repouso para o jogador. É aqui que se pode gravar o jogo e restabelecer a saúde de todas as personagens, mas atenção que, sempre que isso é feito, todos os inimigos espalhados pelo mundo voltam à vida. De referir que a cada batalha travada, no final, o jogador é presenteado com dinheiro e objetos para criar cartas novas com poderes diferentes que podem, na maior parte das vezes, salvar a pele do jogador e fazer toda a diferença nas batalhas. Como em qualquer outro RPG, a cada subida de nível, os heróis tornam-se mais fortes e a saúde é igualmente aumentada.



Neste jogo, o dinheiro serve para comprar itens de restauro de saúde, ressurreição dos membros de equipa e equipamento. É possível utilizar os objetos ganhos através das batalhas para a criação de cartas para surgirem no Deck, o que é importantíssimo para progredir. Todas estas compras têm de ser efetuadas através de uma personagem misteriosa com uma carruagem carregada de “entulho”. Como em praticamente tudo no jogo, o humor surge aguçado quando esta personagem surge no ecrã, pois ver uma carruagem numa gruta tão estreita é no mínimo questionável, até os heróis começam com piadas acerca do assunto. Já se sabe que é propositado e, na verdade, dá mesmo jeito a presença da dita carruagem embora nem sempre haja dinheiro para comprar ou criar uma nova carta.

A escolha de cartas para ter no baralho está limitada a 8 por herói, e, por isso, é necessário escolher com muita atenção antes de entrar em uma batalha, pois é nisto que irá assentar toda a estratégia de combate, além da componente de sorte na ordem com que as cartas vão saindo. Uma mecânica que rapidamente se torna viciante e que faz mesmo toda a diferença ao jogar, especialmente quando se chega aos bosses. Por isso acaba por ser mesmo importante a questão de ir comprando e forjando cartas, assim como procurar tesouros escondidos pelo mapa onde se podem obter destas.

A maior parte dos capítulos do jogo termina em combate contra algum boss. Aqui a banda sonora destaca-se especialmente, o tema tocado durante estas lutas é épico! Geralmente, as lutas podem levar acima dos 15 minutos ou até mais conforme as habilidades de cada um, mas é isso que torna o jogo interessante, puxando pela cabeça em tentar decifrar como derrotar o boss da forma mais eficaz, é aqui que SteamWorld Quest realmente brilha. Também por causa disso, é um jogo que funciona mesmo bem com a Nintendo Switch em modo portátil, sem perder nenhuma da beleza que tem quando ligado à TV.


SteamWorld Quest é somente um dos jogos do ano, extremamente viciante, inteligente e capaz de apelar a qualquer jogador. Num mercado saturado de jogos com o mesmo tema e género, o que torna os jogos incríveis é a sua capacidade de marcar pela originalidade e diferença, ainda para mais quando era tão fácil aproveitar o sucesso para fazer mais do mesmo. Depois deste jogo, só fica no ar a seguinte questão: haverá algum género que este estúdio não consiga explorar?

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Thunderful Publishing.

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