The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel
Andava aqui com um sabor estranho na boca depois do último RPG que analisei, que tinha um medo genuíno de pegar neste The Legend of Heroes. Trails of Cold Steel – outro RPG japonês com um daqueles nomes. Investiguei bastante, vi o tempo que demorava a acabar e benzi-me: trabalho é trabalho, não é?
E foi assim que me lancei a uma nova série que só tinha ouvido/lido, mas que nunca tinha posto a vista em cima. Digamos que o mais próximo foi o Ys VIII que gostei bastante, daí que já tinha a Falcom em boa conta.
É estranho cair de paraquedas numa série nova com bastantes jogos. A série Legend of Heroes é enorme! E já existe desde 1989, ufa! Os jogos não são todos sequenciais e alguns podem ser jogados sem se conhecer os outros; depois há as duologias, as trilogias e esta quadrologia.
Há quatro jogos na série Trails of Cold Steel, espalhados por vários consolas e com qualidades variadas, mas é seguro dizer-se que estas versões PS4 são as definitivas e, por essa razão, teremos de esperar bastante tempo para que lancem tudo. Um problema de primeiro mundo destas séries mais paralelas é que demoram bastante tempo a confirmar a localização. E quando o fazem! Mas quando saem, oh se valeu a espera!
Uma vez que não tenho meios de comparação com as versões anteriores, irei focar-me apenas na versão PS4 que a uma primeira vista é bela! Esta nova versão corre a uns lindos 4K, a 60 FPS, dando-lhe um aspecto não-Vita, mas de um jogo que saiu recentemente. A versão PS4 também permite optar pelas vozes japonesas ou inglesas – tendo experimentado as duas, optei pelas inglesas, mas podem alternar a qualquer momento.
E ficam a saber que a nova versão contém todo o DLC e isto inclui texto e diálogos adicionais. Não sei o que faltava nas versões base, mas aqui terão pano para mangas de conteúdo. Há outras melhorias que desconheço se também já existiam, mas que irei apontar a seguir: o modo Turbo. Eu adorava apertar a mão de quem acabou as versões anteriores porque o jogo é lento para cacete, mas sublinhem o lento e metam a negrito. Se tivesse de analisar a versão da PS3 dava-lhe uma nota negativa e nem iria querer acabar. A velocidade normal deste jogo parece um modo câmara lenta, dada a velocidade com que as personagens andam ou lutam.
Esta adição não só melhora a minha experiência de jogo como corta alguma palha quando temos de percorrer mapas enormes para as sidequests ou grindar. O diálogo também é acelerado, mas as vozes não soam ao Alvin e os Esquilos, ficam completamente normais.
Podemos gravar em qualquer lugar! Trails respeita o nosso tempo e quando estamos numa masmorra enorme, nada melhor do que poder gravar em qualquer lugar e ir fazer outra coisa. O tempo é curto e quando temos de jantar ou ir para a cama, não temos de esperar pelo fim da masmorra ou pelo boss. Vamos ao menu, Save, feito. Siga!
Fast Travel! Tão bom não ter de andar de um lado para o outro para falar com X e Y ou entregar sidequests. Também é só abrir o mapa e escolher o sítio. Feito!, mas atenção que só funciona nas cidades e para os sítios já visitados.
São apenas alguns detalhes que estão a melhorar a minha experiência e é algo que não sabia sentir falta até agora. Quem me dera que fossem a norma nesta nova geração de RPG.
O combate por turnos não inventa a roda, mas é competente. O modo Turbo ajuda para que não seja uma seca descomunal, podendo passar as batalhas sempre a abrir. Admito que ainda estou a aprender a controlar o campo de batalha, mas sinto que tenho feito progressos e nota-se na velocidade com que demoro a despachar um boss. O nível de personalização do campo de batalha é quase ilimitado. Não só escolhemos as posições das nossas personagens como podemos personalizá-las à nossa medida. Para tal, temos as Master Quartz que são como a classe das personagens e que podem ser trocadas à nossa vontade; estas vão aumentando de nível, ganhando habilidades como magias (Arts) ou técnicas (Crafts). Claro que as personagens já têm as suas afinidades, mas nada nos impede de experimentar. Também podemos equipar Quartz normais para usarmos as suas habilidades.
O jogo tem depois um sistema de Link que permite combinar ataques com outras personagens – para tal, temos de interagir com elas fora das batalhas ou procurar um romance para que o par seja imparável. Por outro lado, caso se odeiem, não esperem milagres.
Visualmente, além da limpeza visual que houve nesta versão, não há muito para desenvolver. Feliz ou infelizmente, Trails opta por um estilo muito anime que é o vai ou racha para muitos jogadores. Temos os cabelões com as cores do arco-íris e penteados que desafiam a gravidade, as miuditas com mamas com física própria, enfim. Nada de novo para quem joga Tales ou Dragon Quest. Admito que tenho um fraco por este estilo e que ainda não atingi o meu limite, mas ter isto e uma história brutal ou um estilo realista e um enredo a deixar a desejar, venham mais Trails, Tales, entre outros, não?
A música não é nada do outro mundo, para além do tema inicial que é cantado e que é bastante catchy, os restantes temas cumprem o seu dever, preenchendo e complementando o anime de 60 e mais horas. Não é má, mas não é memorável, há duas ou três que escapam. Como já mencionei, podemos escolher entre as vozes japonesas e inglesas e aqui já entra o gosto pessoal. Gosto das duas, mas por preguiça, deixei em inglês. Às tantas já me habituei e não sei se volto. Não sou um purista, vou mais pela qualidade.
Chegámos até aqui e estão a pensar, “está bem, mas do que se trata Trails”?
Convém dizer que o jogo é enorme – cerca de seis capítulos e ainda vou no quarto, portanto não meto as mãos no fogo quanto à qualidade global da narrativa ou do que aí virá, mas esta primeira parte – assim como o primeiro jogo da quadrilogia é apenas uma introdução do que virá nas sequelas. E disto fiz questão de me spoilar um bocadito. Tenho esta mania, que querem? O primeiro jogo serve para estabelecer as personagens, locais e o conflicto que é assim: o jogo passa-se no Império de Erebonia, um mundo retro-futurista que vive uma paz inquieta entre a Nobreza e os Comuns.
Nós somos Rean Schwarzer, um aluno da turma VII, do Colégio Militar Thors. Rean e os restantes colegas que roubaram os nomes a um dicionário franco-belga, com uma pitada de random generator, passam os capítulos em visitas de estudo com o intuito de conhecer, e dar a conhecer ao jogador, o império e o dia-a-dia da sua população. Enquanto resolvemos problemas menores e vamos conhecendo as personagens, o novelo de uma conspiração desenrola-se em segundo plano. E sobre este, bico calado, porque irá abalar as sequelas.
O jogo é lento e quem for às cegas poderá cansar-se da repetição, mas é como um prato a cozinhar lentamente para mais tarde saborear. Além disso, metem uma componente social para agarrar os fãs de Persona. Ora, não estivéssemos na escola, não? Há miúdas giras, miúdos engraçados, tudo à mão de semear e desejosos de conversa. Se quiserem investir neste aspecto podem fortalecer os colegas em combate ou obter outras recompensas; vão às aulas, ajudam a associação de estudantes, enfim, uma pausa para respirar quando não estamos a colar o mundo com fita-cola.
Tudo dito, mas com aquela sensação que podia ficar aqui a falar, The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel é uma agradável surpresa e também uma maldição porque agora quero, aliás, tenho de jogar aos outros.
É um investimento de tempo, tem os seus defeitos, mas a soma de todas as partes dá um resultado positivo. Espero que daqui a uns valentes anos possa atar tudo e dizer que sim, senhora, que série! Até lá, ficamos com a promessa deste I e do II em breve.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Marvelous.