FAR: Lone Sails


Journey, Firewatch, GRIS... Jogos onde a narrativa atinge o coração dos jogadores de forma a abrilhantar as suas vidas, jogos que se focam numa jornada, onde a experiência é mais importante do que a tradicional jogabilidade. Jogos como estes, podem facilmente perder-se a caminho do objetivo, estagnar ou tornar-se repetitivos. No entanto, quando acertam, podem ser inesquecíveis.

FAR: Lone Sails, desenvolvido pelos alemães Okomotive, acaba de chegar ao mercado com precisamente essa intenção, oferecer uma experiência que fique no coração do jogador. Será que o consegue fazer?

O protagonista não tem nome, não tem cara nem qualquer identidade. Um típico protagonista mudo que tem uma jornada pela frente devido a um acontecimento. No início, nada é propriamente explicado ao jogador, apenas é visível que o falecimento de uma pessoa importante teve tal impacto que a personagem principal decide fazer algo em relação ao sucedido. Assim se embarca numa jornada que só no final fará sentido ao jogador.


O intuito é aguçar a curiosidade, incentivar a prosseguir com uma jornada cujo final, sem qualquer tipo de spoiler, poderá deixar aquela lágrima no canto do olho. O jogo é realmente imprevisível do começo ao fim,deixando muito à interpretação do jogador. Um cenário pós apocalíptico, vazio, onde não existe qualquer vida selvagem ao redor, não existe mesmo nada além das montanhas e desertos, praias vazias e neve...

Para esta viagem, o nosso pequeno protagonista tem ao seu dispor um curioso e enorme veículo, por momentos faz lembrar o Castelo Andante do filme de Hayao Myazaki. Este veículo é movido a vapor, energia que é recolhida durante a jornada, e uma vela enorme no topo que é adicionada pouco depois do início. Mais pela frente, o próprio veículo terá alguns upgrades que irão facilitar muito mais a vida do pequeno aventureiro. A vela dará um boost ao veículo, mas há também uma espécie de aspirador para recolher objetos e produzir energia. Objetos recolhidos pela aventura, perdidos pelo caminho, tais como simples caixas, rádios, cadeiras, bolas e por aí fora. Estes têm de ser recolhidos e colocados numa secção do veículo para que este absorva a sua energia e se possa mover.

Outros upgrades vão sendo efetuados durante a jornada e isso é o que dá vida ao jogo, senão podia muito bem ser cansativo. Se no início parece meio lento, com todas estes upgrades, o jogador terá de saltar de um lado para o outro. Por exemplo, se alguma máquina no interior pegar fogo, é necessário recorrer à mangueira para apagar o incêndio provocado por um acidente. Uma máquina com uma avaria tem também de ser reparada, ou o veículo deixa de funcionar. O jogador, parecendo que não, estará em constante movimento. O veículo não anda sozinho, por assim dizer, é preciso pôr mãos à obra tal como um comboio dos antigos necessita do carvão. É preciso pressionar os botões de movimento, soltar o vapor, içar ou baixa a vela, dar energia ao veículo, tudo isto é fundamental para a jornada seguir em frente.


Como é evidente, o jogo não se foca só no andamento do veículo, muitas das vezes se terá de sair para o exterior de forma abrir portões gigantes que bloqueiam o caminho. Quando o jogador é obrigado a sair do veículo, terá de solucionar puzzles bastante simples que vão dar a continuidade à aventura, afinal de contas, é uma experiência graphic novel - não é suposto fazer o jogador perder a cabeça com enormes quebras cabeças, esse não é o objetivo de todo.

O que está realmente fascinante é que toda a jornada conta com acontecimentos improváveis. Há um momento espetacular em que se chega a uma fábrica já com os “pneus” gastos, que será preciso substituir por novos para seguir a jornada. Tal como um momento em que, de repente, o jogador se encontra numa situação de desespero devido a uma saraivada que cai sobre o veículo, danificando-o imenso, tendo de estar constantemente a reparar os danos severos. Existe todo o tipo de ambientes, basicamente pode-se dizer que o jogo passa-se em todas as estações do ano pelos cenários que se irá atravessar. Sem querer falar da história, posso dizer que são estes acontecimentos, além do ambiente do jogo, que o tornam verdadeiramente envolvente.
 
A banda sonora é fantástica, memorável e viaja com o jogador até ao fim. O mais engraçado é a música parar quando pára o veículo e só quando se volta a arrancar, a música dá também o seu arranque. Fica também a dica de que a podem encontrar no Spotify.


O jogo não leva muito tempo a ser terminado, cerca de 3 horas que vão passando sem se dar por ela, por ser uma experiência mesmo apaixonante. Não é perfeito, mas conseguiu cativar e levar-me na aventura com um sorriso, fazendo-me chegar ao fim no próprio dia que comecei: não parei nem para fazer uma pausa. FAR: Lone Sails pode não ser o jogo mais marcante do género, mas mesmo assim é uma experiência muito recomendável a quem gosta deste tipo de jornadas.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Xbox One, gentilmente cedido pela Mixtvision

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