Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy


Por vezes temos séries icónicas com longos anos de existência, que só nos agarram verdadeiramente já numa das muitas sequelas. Esta é, um pouco, a minha relação com Ace Attorney, mítica série que viu os primeiros jogos serem relançados em tantas consolas que já perdi a conta… Foi na Nintendo DS que pensei “é agora, é desta que me dedico a Phoenix Wright” ao comprar Apollo Justice: Ace Attorney que, ironicamente, explorava um novo protagonista. Independentemente de quem vestia o papel de advogado, o jogo agarrou-me de imediato, levando-me a jogar os restantes jogos da série.


Um jogo que regressa na nova coletânea da série Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy, juntamente com o quinto e sexto jogos que haviam sido lançados para a Nintendo 3DS. Junta-se assim aos remasters dos primeiros 3 jogos da série e de Great Ace Attorney que decorre no passado, dando por concluído o lançamento de todos os jogos da série principal nas plataformas atuais. À semelhança das outras duas coleções houve um bom trabalho a preservar todo o jogo original, dando uma melhoria significativa aos visuais e algumas mecânicas que agilizam a jogabilidade.

É a enésima vez que jogam um dos títulos, querem saltar o primeiro capítulo que serve apenas de tutorial? Tenho boas notícias, pois podem saltar para capítulos específicos em cada um dos jogos, algo que até senti que fosse útil para regressar a certos capítulos anteriores, pois tivemos algumas revelações mais à frente nos jogos. Juntamente com poder mudar os fatos às personagens em certos jogos, esta é a versão definitiva para jogar cada um dos jogos, onde o que mais me surpreendeu foi mesmo Apollo Justice: Ace Attorney, o primeiro desta trilogia, por contar com visuais bastante bons mesmo que em 2D, onde todas as personagens estão devidamente ilustradas e faz-me pensar “porque é que não tiveram este trabalho na primeira trilogia?”


Falando em cada um dos jogos… não quero entrar em muitos detalhes, pois logo nas primeiras horas de cada estão recheadinhos de spoilers para quem não jogou nada na série. Cada um dos jogos explora 3 distintas histórias com um foco em personagens diferentes, embora que Apollo acabe por ter destaque, pois é nestes jogos que o passado dele é explorado. Personagem esta que parecia não ter muita back-story durante o primeiro jogo, mas, subitamente, recebe arcos bastante distintos nos jogos a seguir que mais parecem personagens diferentes por um motivo que, ainda hoje, me deixa um bocado confuso.

A sua história na série começa em Apollo Justice: Ace Attorney, lançando-o ainda muito novato logo para um caso onde morreu alguém. Pensaria ser algo muito dramático, mas, bem, lidar com casos de homicídio é o pão nosso de cada dia nesta série, o que me faz lembrar o quão perigoso é Japão… aliás… Estados Unidos? O dilema da localização da série ainda hoje é curioso: por um lado agradeço um bom trabalho de adaptar os jogos ao público a que se destina, mas não iria tão longe ao ponto de mudar completamente a história do jogo, como o setting onde se passa. Fora algumas mudanças dramáticas como a série decorrer em Los Angeles, há um bom trabalho de localização que nos deixa com poucas dúvidas sobre o que é para fazer, algo importante num jogo com uma extensa narrativa. Esta trilogia é rica em cultura japonesa, principalmente em Spirits of Justice e, bem, correu melhor do que inicialmente contava sem estragar a continuidade da série no ocidente.


Voltando ao jogo que arranca esta coletânea, como se restassem dúvidas o foco é em Apollo Justice, nos seus primeiros passos no mundo da advocacia e crescemos muito com ele em cada um dos 4 casos, aprendendo muito sobre o mundo que rodeia o leque de personagens que nos vão acompanhando. Uma história que ainda é a minha favorita da série, que queria entrar em detalhes… e não o devo fazer. Ao lado de Apollo temos sempre Trucy (e o seu fantástico fantoche Mr. Hat), filha adotada de Phoenix Wright que rapidamente se torna uma assistente incrível, sempre com truques na manga e soluções bizarras, mas eficazes para os principais dilemas que encontramos pela frente. É um jogo com surpresas a cada minuto que, tal como na primeira vez que o joguei na Nintendo DS, ficava ansioso por ver o que acontecia a seguir, mesmo já tendo conhecimento do jogo todo.

A sua sequela, Dual Destinies, marcou o início da série na Nintendo 3DS com visuais 3D que adaptaram extremamente bem o estilo artístico da série, perfeito também para novos lançamentos em alta definição on basta “escalar” tudo, que em princípio fica tudo bem. Enquanto que o jogo anterior dava foco em Apollo, desta vez a personagem na luz da ribalta é Athena Cykes, com o seu passado também ser devidamente explorado durante o jogo todo. Enquanto que Apollo tem a capacidade de reparar em pequenos “tiques” involuntários que as pessoas têm, Athena consegue ler as emoções com quem fala, por muito que as tentem esconder. Um jogo com, talvez, o início mais bombástico da série (literalmente), que nos leva a locais bastante distintos da série e por caminhos que nunca imaginaria, que também dava um salto na série apresentando-nos sequências de animação nos momentos mais importantes do jogo!


A trilogia termina com Spirit of Justice, que se parece muito a conclusão da série, reunindo Phoenix, Apollo e Athena na defesa da justiça. Como dizia há pouco, o trabalho da localização neste título foi algo curioso, com foco em dois locais distintos no mundo. Um é reino de Khura’in no Extremo Oriente, onde Phoenix e Maya encontram um sistema que fugiu ao sistema tradicional de tribunais, em troca de algo mais mágico. Entretanto, do outro lado do mundo em Los Angeles, Apollo e Athena mantém o trabalho na agência de Phoenix Wright, onde lidam com uma crise que não só envolve um dos seus membros, como todo o futuro da agência em si. Sinto que é uma conclusão da série, embora deixe muito em aberto para um sétimo jogo na série que há muito nos é prometido. Também pareceu ser o título mais longo da série, não necessariamente o mais entediante, com muita, muita história a percorrer.

Por muito que cada um dos jogos funcione independentemente, há muito contexto que nos é apresentado que nos passa ao lado se não tivermos jogado os jogos anteriores, coisas que até podem nem ser importantes para lidar com o caso em mãos, ou a história que nos colocam à frente. Se nunca jogaram a série e estejam interessados nesta trilogia, recomendo mesmo, mesmo muito começar em Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy, sendo que podem deixar a coleção The Great Ace Attorney Chronicles de lado, a não ser, claro, que estejam investidos na série.


Com este lançamento fica assim disponível toda a série… ah, espera! Imagino um dos advogados da agência de Phoenix Wright a gritar por “objeção”, pois ia dizer uma asneira. Sim, temos agora toda a série principal de Ace Attorney disponível nos sistemas atuais, mas ainda existem jogos por sair, como Professor Layton vs. Phoenix Wright que coloca lado a lado duas figuras icónicas do mundo dos mistérios e puzzles, jogo que está atualmente preso na Nintendo 3DS sem a possibilidade de o podermos adquirir, que merecia muito um tratamento de remaster como esta coleção. Temos ainda os dois jogos de Ace Attorney Investigations onde jogamos com Miles Edgeworth num jogo mais à base da investigação, cujo segundo jogo nunca chegou ao ocidente sequer. Um remaster ou até mesmo remake destes títulos seriam mais que bem-vindos!


Agora, sim, com esta informação dada, volto onde estava. Com o lançamento desta trilogia fica disponível toda uma série de jogos incríveis que recomendo jogarem de uma assentada só, seguindo cada um dos capítulos fora como se estivessem a assistir a uma série interativa. Todas as personagens são memoráveis, a história muito bem conseguida e com mistérios que nos deixam a querer saber mais, até porque mesmo que um caso se dê por terminado, muitas são as coisas que ficamos a descobrir bem mais tarde. Mesmo já tendo jogado cada um dos jogos, voltar a experienciá-los foi uma viagem nostálgica, onde esboçava um longo sorriso ao ler determinados diálogos entre personagens, sabento exatamente o que estavam a esconder.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Ecoplay.

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