Final Fantasy VII Rebirth


Abril de 2020: a longa espera por Final Fantasy VII Remake terminava, saciando todos os fãs da saga que aguardavam um dos remakes mais esperados da história dos videojogos, enquanto lidávamos com uma pandemia global. Uma nova visão de um jogo icónico, aquele ainda hoje visto como dos RPGs mais importantes alguma vez lançados, que cativou todo um novo público a experimentar um género considerado de nicho. Saboreei todos os minutos que passei em Midgar com Remake que, mesmo com alguma amargura pelo caminho, foi uma aventura doce e fiquei com fome por mais. E… aqui estamos hoje, 4 anos depois desse lançamento surge, finalmente, a segunda de três partes desta saga: Final Fantasy VII Rebirth traz de volta Cloud e o seu grupo, numa jornada que começa poucos momentos de escaparem de Midgar!


Admito que a espera por Rebirth não foi tão intensa como a que tive com Remake… O que não tem faltado ultimamente são jogos incríveis (tenho tanta coisa para jogar!), mas ainda assim, arrumei a agenda para me poder dedicar totalmente a este jogo, até porque morria de curiosidade por saber o seu desfecho. Fugir a trailers, muito conteúdo e possíveis leaks levou-me a um certo isolamento do mundo online, pois, afinal, seria em Rebirth que um dos mais famosos spoilers da indústria dos videojogos se tornou numa espécie de feature, ou incógnita. Se jogaram o original sabem do que estou a falar, se não… bem, provavelmente também já sabem, mas não vou desenvolver. Foi difícil evitar tanta coisa, até porque Remake deixou muito em aberto sobre o que seria possível fazer com esta continuação. Felizmente consegui jogar livre de spoilers, dou por mim a respirar fundo e a conseguir dizer isto: o meu tempo com Final Fantasy VII Rebirth foi incrível!

Mas… vamos com calma. Depois dos eventos de Remake (e o seu DLC) a nossa equipa encontra-se em Kalm, pequena localidade próxima de Midgar onde Cloud conta quem é Sephiroth e porque é uma ameaça. Um flashback que arranca a história, que nos deixa jogar com o icónico Sephiroth e destruir tudo o que se atravessava à nossa frente, enquanto que Cloud, bem mais jovem, tropeçava nos seus próprios movimentos. Habituei-me de novo aos controlos do jogo sem grandes dificuldades e, sensivelmente uma hora depois já me sentia apto a enfrentar qualquer desafio. Aos poucos era recordado do quão divertido é o sistema de combate, frenético que mistura ação com alguma estratégia dos RPGs por turnos, ao poder chamar o menu de habilidades “congelando” o jogo para pensar no que fazer, era o que sentia falta na série após ter ficado algo desconsolado com os combates de Final Fantasy XVI.


Flashback terminado e via um grupo de personagens confusas, a pensar no melhor a fazer. Com uma viagem longa pela frente o melhor era mesmo aproveitar os momentos de paz para relaxar e pude finalmente explorar Kalm, muito, mas muito mais extensa quando comparava com o jogo original! Um sítio que rebentava de movimento como se fosse uma festa, com várias surpresas escondidas, momento que terminou abruptamente e nos leva a fugir de lá em breves minutos. À minha frente surgiam as Grasslands, a primeira grande área do jogo, onde tive a sensação que estava a começar o jogo, mesmo que já lhe tivesse dedicado umas boas horas. Via um mundo aberto, um enorme mapa com tanta, mas tanta coisa para fazer que não descansava até concluir o máximo de missões que iam aparecendo, que me levou a explorar os diferentes cantos do mapa, com muitas novidades quando comparado com o material de origem.

Quando há uma tendência para ser “tudo” open-world, Rebirth é mais tímido, apresentando-nos diferentes zonas para explorar sem estarem propriamente ligadas. Nada disso estragou a sensação de estar numa aventura épica, deixando-me curioso, e ansioso, para saber o que ia encontrar do outro lado do mapa, tudo coisas que não senti muito em Remake. Estava de volta ao Final Fantasy VII como o conheci na minha adolescência, olhava para tudo em redor com o mesmo espanto, agora com imenso detalhe enquanto explorei um mapa cheio de atividades! Não é, no entanto, um mundo perfeito e por vezes sentia-me confuso sem saber como chegar a certos locais, até porque um monte aparentemente escalável não dava, de todo, para trepar. Cruzava-me com monstros, que pareciam uma mecânica de sítios específicos e não um perigo sempre à espreita, dando por vezes a sensação que os mapas tinham zonas vazias mesmo quando estavam recheados de conteúdo. Ainda adorava olhar tudo no meu redor, regressei entusiasmado àquele mundo, ainda mais quando cavalgava nas costas dos chocobo, que nos permitem explorar melhor cada uma das zonas. O mapa do mundo é isto mesmo, segmentado em diferentes zonas, cada uma delas com coisas exclusivas que as diferenciam das restantes, como muitas missões secundárias que nos levam a explorar ainda mais.


Recebendo e concluindo missões umas atrás das outras, rapidamente elas tornaram-se num dos pontos fortes de Rebirth que, mesmo não sendo obrigatórias para progredir no jogo, incentivo que as façam. Elas foram feitas com bastante cuidado, receberam a mesma atenção que deram à história principal sem um “encher de chouriços” que tivemos em Remake. Servem para desbloquear coisas, expandir o mundo e a sua história, a mitologia, reforçam a ligação entre as personagens criando uma party bem conseguida. Uma equipa coesa que sente bem os dilemas de todos os membros, onde todos interagem entre si e reagem ao que está a acontecer, que mesmo em combate nos assistem mesmo que não estejam na equipa ativa de 3 membros. Não é uma aventura que fazemos sozinhos, onde Cloud nem sempre é o protagonista, onde por várias vezes jogamos com outras personagens e ficamos a conhecê-los melhor.

Os capítulos vinham uns atrás dos outros, estava ansioso por saber onde a aventura ia-me levar e, mesmo conhecendo o jogo original, não descansei até ver os créditos finais. No entanto, a partir de determinado momento fui ignorando uma ou outra missão, até porque já não aguentava ouvir mais o Chadley que regressa do primeiro jogo agora com o intuito de nos dar missões e chatear-nos ainda mais. Nem sou de ignorar conteúdo por causa de NPCs, mas Chadley exagerava… se calhar estou a depositar alguma da minha frustração, de a cada dia que passava era mais difícil fugir a spoilers, motivo este que também ajudou para querer progredir rapidamente até ao final. Praticamente todos os capítulos estão bem construídos, com a exceção de um ou outro que são bastante fracos: o pior deles arruinar por completo um dos meus momentos favoritos do original, a troco de abusar de uma mecânica irritante de atirar caixas para ativar diferentes coisas e ativar botões, com controlos meio manhosos. Fora isso, no geral cada capítulo explora muito bem as diferentes partes do jogo introduzindo bastante conteúdo sem arruinar as minhas expectativas.


Uma progressão bem acompanhada por uma jogabilidade viciante, num sistema de combate refinado quando comparado com Remake. Temos bastante mais e melhor para tirar partido dele, equipar diferentes Materia com magias e habilidades que se tornam em estratégias para cada uma das personagens. Em cima disso cada membro da equipa tem uma jogabilidade algo diferente, com ataques especiais únicos deles onde ninguém é menos eficaz que outro, todos diferentes para haver sempre um ou outro favorito entre todos os jogadores. Explorar as fraquezas de inimigos mais difíceis, tirar partido das mecânicas do jogo enquanto depositamos todo um leque de ataques combinados entre duas personagens, tudo é frenético, tudo é bem executado. Só tenho pena que sinta que pioraram o sistema de progressão face ao jogo anterior, onde em vez de melhorar cada uma das armas vamos desbloqueando coisas numa skill-tree, que não há muito a divergir e simplesmente vamos desbloqueando tudo. Agora não é razoável jogar o tempo todo com a Buster Sword de Cloud, por exemplo, pois torna-se irrelevante face às armas mais fortes que conseguimos depois.

“Final Fantasy VII Rebirth é mais Final Fantasy VII”, uma frase que me ecoa na minha cabeça, pois pega no material de origem e traz imensas novidades que dão destaque a muitas coisas que sempre mereceram atenção, mas nunca foram devidamente exploradas. Não senti que inventaram “demasiado” ou fugiram muito ao que esperava do jogo, as adições na história foram bem-vindas e enquadra-se perfeitamente! Também houve… certas coisas que me irritaram, senti o dedo de Tetsuya Nomura a inventar demasiado, mesmo quando ele (aparentemente) já não tinha tanto peso no jogo. Coisas como o destaque a personagens introduzidas em spin-offs e até jogos de mobile, que me lembrou da confusão que é acompanhar a história de Kingdom Hearts. Algo que até já sentia quando joguei o DLC de Remake, mas esperava que tivesse ficado por lá. Não que sejam coisas que estraguem o jogo, elas estão bem enquadradas e dão o feedback necessário para compreender o que está a acontecer, mas o conhecimento prévio sobre algumas personagens traz algumas vantagens.


Sinto que tomaram alguns riscos com as decisões na história em Remake, que se estendem agora em Rebirth e, dando como nota, não esperem que o jogo seja uma cópia exata do jogo original, seja por coisas que mudam a narrativa ou outras que expandem a lore. Ao mesmo tempo, há certos momentos em que senti que não foram corajosos o suficiente, depois dos eventos de Remake, há um ou outro ponto que parece que queriam resolver pontas soltas, apenas para colarem estes momentos a cuspo. Independentemente disto tudo a história do jogo funciona extremamente bem, mesmo já conhecendo para onde ela me levava fui constantemente surpreendido do início ao fim, com vontade de debater teorias, mas que guardei o sentimento até agora. Por isso, já sabem, se quiserem vir debater a filosofia do jogo estou por cá. É inegável o peso de Final Fantasy VII e como a sua história moldou gerações, temas como niilismo estão bem vincados e muito bem presentes em Rebirth, após a sua aparente ausência em Remake.

O que me traz a outro ponto que senti falta até agora… Este é um jogo parvo, por vezes estranho, que adoro profundamente! Aqui podia estar frente a frente com um momento sério e deprimente, para minutos depois estar diante uma parada espetacular em Gold Saucer, o parque de diversões onde entretenimento é a palavra do dia. Já muito antes disso temos a chegada da equipa a Junon em que temos de nos infiltrar no exército da Shinra para podermos progredir, onde Rebirth não desilude e deu-me dos melhores momentos do jogo. É divertido, não tenta dar um ar sério e maduro quando temos Cloud a desfilar num exército nas ruas cheias de gente a festejar, que não foge da festa na praia em Costa del Sol, dando um descanso merecido à equipa e quebrando até a figura estoica que Cloud tenta sempre transmitir.

Se no original Gold Saucer era o centro dos minijogos… bem… as coisas mudaram para melhor! Praticamente todo o jogo tem imensas atividades: são on-rails shooters onde Barret tenta destruir coisas a bordo de um carrinho de mina, jogos de ritmo a tocar piano, temos uma espécie de Wave Race, um Rocket League, o regresso do tower-defense em Fort Condor… Muita coisa, mesmo. Parece que nos deram ordens para nos divertimos muito neste jogo, perante o drama todo que vamos vivendo pelo caminho. Há ainda Queen’s Blood, um jogo de cartas que na realidade é um jogo de tabuleiro onde temos de controlar o máximo de áreas possíveis com valores elevados. Temos alguma estratégia, embora não tenha encontrado grandes desafios nas suas partidas, ao ponto que a partir de certa altura já nem mudava o meu deck pois as cartas que tinha (já a meio do jogo) eram mais que o suficiente.


Mais que Remake, que deixei de parte por muito tempo após o ter terminado, Rebirth deixa-me com vontade de o terminar a 100%, pois senti que deixei muito por explorar e quero ver tudo o que o jogo tem para oferecer. Tudo isto ao som de uma banda sonora fenomenal que fica no ouvido, nos dão pica para os combates mais definitivos como é o caso do boss final, que eleva o conceito de “ainda não viram a minha forma final” ao extremo. Visualmente as personagens estão incríveis, detalhadas ao mais ínfimo pormenor e lhes dá vida, o que contrasta imenso com o resto do jogo pois os cenários, muitas vezes, precisavam de mais trabalho. Sejam texturas que estão constantemente a mudar de qualidade, efeitos inexistentes como os de água, soluços na performance ou coisas do cenário que ficam a flutuar. Parte destes problemas surgem por jogar no modo Performance que até torna o jogo meio “desfocado”e, mesmo ao escolher a opção que baixa os frames em prol da qualidade visual, o jogo fica aquém de outros jogos que já vimos na PlayStation 5. Dito isto, em nada, absolutamente nada os visuais impediram-me de ficar admirado com o jogo, com uma direção artística incrível!

Olhando para o Final Fantasy VII original recordo-me que das minhas partes favoritas do jogo é precisamente o que passamos agora em Rebirth, quando conhecemos a equipa toda e descobrimos praticamente todo o mundo que temos pela frente. Colocando fiquei muito satisfeito com a adaptação feita agora, embora algumas questões de desenvolvimento da história tenham ficado confusas. Ou seja, grande parte do jogo estamos a ver mais conteúdo a um bom ritmo, só que subitamente parece que nos apressamos para a conclusão do jogo, descartando até zonas importantes para o jogo. Fui, no entanto, recompensado com um dos melhores momentos que vi na série, uma performance incrível da cantora Loren Allred que, certamente, vai-me acompanhar até às últimas horas da conclusão desta trilogia.


Concluindo, Final Fantasy VII Rebirth marcou-me, pode não ser dos meus jogos favoritos dos últimos tempos mas, ainda assim, não consigo deixar de pensar nele. Quero-o repetir, agora em Hard, mas criei para mim o plano de jogar Final Fantasy VII Remake do início sem saltar uma única cutscene para, logo de seguida, avançar para Rebirth como se a espera de 4 anos nunca tivesse existido. Talvez seja óbvio, mas, não avancem para este sem ter jogado o primeiro, mesmo que haja um breve resumo a contar os principais eventos do início e, sinceramente, espero que desfrutem da viagem em Rebirth como eu!

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 5, gentilmente cedido pela Ecoplay.

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