Erica


Quando já ninguém esperava por Erica, eis que chega a Gamescom com o lançamento inesperado deste exclusivo para a PlayStation. Foi em 2017 que Erica foi apresentado pelo estúdio Flavourworks durante a Paris Games Week, anunciado como uma experiência imersiva que utilizaria o sistema PlayLink. Desde então que nunca mais se ouviu uma palavra sobre o jogo, caindo assim no esquecimento para muitos.

Erica regressa agora muito diferente desde a sua apresentação inicial. Embora com novos actores (incluindo a mudança de actriz principal) e uma história renovada, a essência do jogo permanece a mesma: um thriller psicológico em FMV (Full Motion Video) onde as nossas escolhas influenciam a história. A utilização da técnica FMV, em que os visuais criados digitalmente dão lugar a cenas em vídeo pré-gravadas como se de um filme se tratasse, está actualmente a viver uma fase de revivalismo. Em 2015, as sementes lançadas pelo brilhante jogo Her Story de Sam Barlow mostravam as possibilidades desta técnica nos dias de hoje, e o sucesso de Bandersnatch da série Black Mirror veio consolidar a aceitação de experiências interactivas que conjugam as linguagens de filmes e jogos no “mainstream”.


Felizmente para os jogadores, Erica não chega apenas numa época favorável para o seu género mas afirma-se também como um dos melhores jogos em FMV de que há memória. Entre o domínio do sobrenatural e o thriller psicológico, o enredo coloca-nos no papel da protagonista que procura desvendar um mistério com raízes na sua infância. O passado retorna para atormentar Erica, e a natureza da sua história ganha forma segundo as nossas escolhas e acções. Desde o primeiro momento que é palpável uma tensão entre o tom onírico que permeia todas as cenas e os cenários mundanos onde a acção decorre, algo que vai ao encontro da narrativa aberta a diferentes possibilidades e à nossa interpretação da história.

Um dos principais pontos que destaca Erica de outros jogos dentro do seu género é a sua bela cinematografia, tanto na qualidade e composição da imagem como na construção de uma atmosfera eficazmente imersiva. Mas é a qualidade dos actores que eleva Erica a um nível bastante acima do esperado. Holly Earl é fantástica no papel principal, graças à sua expressividade natural e capacidade de representação repleta de nuances. A actriz cria uma empatia quase imediata com o jogador, transmitindo de forma credível todo o sofrimento, dúvidas e medos de Erica. De referir ainda as actuações de Chelsea Edge como a paciente Tobi Neumann e Terence Maynard no papel do enigmático Lucien Flowers.

A história de Erica, embora não seja inovadora, é cativante do início ao fim e assenta em questões tradicionais de mistérios e thrillers: em quem podemos confiar? Quão longe estamos dispostos a ir para desvendar a verdade?


Narrativamente, Erica apresenta alguns “plot holes” que se manifestam de forma mais evidente ao jogar diferentes “playthroughs”. Contudo, essas falhas não diminuem a experiência, atestando assim a qualidade da sua escrita. A duração média do jogo ronda os 90 minutos / 2 horas, algo que poderá ser insatisfatório quando jogamos sozinhos mas que será adequado a uma noite de jogos com amigos. A curta duração de Erica e a intriga da sua história incentivam facilmente os jogadores a novos “playthroughs”, algo essencial para descobrir a história no seu todo. Há detalhes que apenas são descobertos a uma segunda ou terceira investida e que renovam o interesse neste título. Infelizmente, Erica não tem um sistema de pontos de retorno para cada escolha, sendo necessário começar de novo para escolher novas opções.

Erica beneficia ainda de uma sensação táctil durante toda a sua experiência, através da manipulação de pequenos movimentos por parte do jogador. Grandes decisões são entrelaçadas com movimentos como, por exemplo, limpar um espelho embaciado ou acender um isqueiro. Estes detalhes aparentemente insignificantes servem para aumentar a nossa imersão no jogo e tirar proveito “touchpad” / ecrã do telemóvel além da mera escolha de opções narrativas. Sobre como jogar Erica, aconselhamos o download da aplicação para smartphone ao invés da utilização do comando. O uso do telemóvel garante uma maior fluidez e rapidez de movimentos, ao passo que a experiência com o “touchpad” deixou muito a desejar devido à sua imprecisão e espaço limitado.


Este exclusivo da PlayStation está longe de ser perfeito, mas é indispensável para os fãs de aventuras interactivas e entusiastas de thrillers. Da nossa parte, podemos dizer com certeza: esta não será a última vez que revisitaremos Erica.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela SIEE.

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