Rise Eterna


Desenvolvido pelo estúdio da Forever Entertainment e pela Makee, Rise Eterna é uma das mais recentes propostas para a Switch (e não só), no que ao género do RPG de estratégia diz respeito. Uma aventura singular que tem por base um mundo de fantasia medieval, muito reminiscente de outras séries como Fire Emblem e Shining Force (embora sem a existência de criaturas fantásticas ou mesmo feiticeiros), Rise Eterna faz-nos assumir controlo de duas personagens de carácteres distintos, que se vêem unidas por força da mão do destino.

Por um lado temos a jovem Lua, única sobrevivente de uma aldeia cujos habitantes foram massacrados por um grupo de mercenários aos quais pertence (muito relutantemente) o nosso segundo protagonista, Nathael. Este último não participou do massacre, mas sentindo-se responsável toma a jovem rapariga debaixo da sua asa, iniciando assim a sua aventura conjunta. Nathael é um espadachim experiente e um pacifista no coração, que anseia por ver a sua terra natal, Ars Rare, livre do domínio dos Athracians. Por sua vez, Lua é uma combatente prodigiosa que aniquilou o grupo de mercenários de Nathael e cujas memórias do passado são turvas e imprecisas. A nossa aventura leva-nos então pelas diferentes vilas e cidades da ocupada Ars, em busca da obtenção da libertação do reino e da descoberta do passado de Lua. Pelo caminho iremos encontrar, ao bom estilo dos RPGs, múltiplas personagens, algumas aliadas, outras nem por isso, que irão fazer a história progredir.



Num total de 25 capítulos, o nosso grupo tem que cumprir determinados objectivos de forma a progredir para o capítulo seguinte. Com uma força inicial de apenas três elementos, o grupo em questão pode albergar até um máximo de seis elementos no campo de batalha, com personagens a pertencerem a diferentes tipos de classes. Cada classe tem os seus próprios atributos, tanto ofensivos, como defensivos. Por exemplo, arqueiros e alquimistas apenas podem atacar de longe, ao passo que os lanceiros podem atacar dois adversários em simultâneo e os assassinos conseguem fazer criticals com uma facilidade espantosa. Alguns, como os guerreiros, têm uma resistência grande a ataques físicos, ao passo que outros são capazes de curar compatriotas via habilidades medicinais (alquimistas) ou mesmo sacrifícios (lanceiros).

De salientar que, e uma vez que este é um jogo sem uma forma clássica de level up, diferentes personagens têm diferentes habilidades, mesmo que sejam da mesma classe. Tudo irá depender do nosso uso dos pontos (obtidos via a participação em batalhas) na skill tree e o atribuir de determinados itens como jóias e elixires, que permitem aumentar elementos como ataque, defesa., agilidade, movimento e range ofensivo, para além de permitirem desbloquear skills particulares. Grande parte destes itens e jóias podem ser obtidas no campo de batalha, através do loot dos muitos baús espalhados pelo mapa. Temos que ter em atenção que algumas das jóias vêm com defeitos, pelo que a sua utilização poderá ter como consequência a perda de alguns elementos de stats em troca pelo incremento de outros. Saber encontrar um equilibrio nessas situações é fundamental para um fortalecimento das personagens. Os outros itens do jogo também podem ser encontrados no campo de batalha, mas na sua maioria poderão ser forjados via a opção  crafting. Esta última serve-se de matérias-primas (representadas por bolhas azuis) encontradas nos mapas de jogo. Entre os itens que podem ser forjados temos armas de uso único (static shock, barbed blade, whetstone, wormwood oil, explosive/poison/paralysis bombs e harpoons), elixires de cura (strength, health, potions para encher energia ou curar determinados stats ailments), chaves (para abrir portas e cofres) ou equipamento de exploração (como axe, para cortar árvores, ou shovel, para escavar buracos).

De referir que cada personagem pode transportar consigo seis tipos de itens diferentes, sendo que cada um pode ser repetido cinco vezes. As poções e elixires serão bastante relevantes numa fase inicial , uma vez que, ao contrário da tradição dos RPGs de estratégia, não começámos a aventura com qualquer curandeiro na nossa party e com um número reduzido de equipamento. Como se não bastasse, Rise Eterna não tem os típicos comerciantes, cidades para explorar ou npcs para comunicar, pelo que a única forma de obter novos itens passa não apenas pela exploração do campo de batalha e pelo já referido crafting, mas também pela vitória sobre os bosses dos diferentes cenários (após o triunfo sobre estes, alguns itens poderão ser obtidos como recompensa pela vitória).



Para além desta gestão de equipamento e exploração do mapa, o jogador de Rise Eterna deve ter em atenção não apenas a oposição que encontrará no campo de batalha, mas também armadilhas escondidas que poderão causar incómodos danos nas nossas personagens. Desde picos (que causam sangramento contínuo) e chamas, passando por líquido venenoso, as armadilhas podem estar em qualquer lado e constituir o nosso principal obstáculo nesta aventura. Com uma dificuldade bastante generosa e acessível, Rise Eterna conta com adversários cuja A.I não é a mais perspicaz. Os inimigos normalmente apenas se mexem quando estamos perto do seu raio de ação e atacam normalmente o nosso aliado mais próximo ou fraco. O uso de um tanque (uma personagem com defesa elevada) como chamariz é o método mais fácil de vencer grande parte dos capítulos do jogo. Os inimigos são relativamente variados, oscilando entre hordas de ladrões e mercenários, até aldeões mal preparados e conjuntos de soldados das forças invasoras de Athracia. Temos também alguns templários e este ou aquele boss mais resistente e perigoso. Os nossos adversários têm padrões de ataques muito similares aos das nossas personagens, embora não sejam de todo tão poderosos (sobretudo com o aumento da customização do nosso grupo). De entre eles, os únicos que representam algum desafio são os bosses ocasionais de certos capítulos. 

Ora para triunfar em cada um dos mapas de batalha, determinados objectivos devem ser cumpridos. Nomeadamente: alcançar uma rota de fuga, exterminar toda a oposição, bater o boss e manter os nossos dois protagonistas intactos. Por vezes, apenas precisamos de concretizar um destes objectivos. Outras vezes, terão que ser todos. Convém ainda referir que não há consequências de maior se perdermos alguma personagem no decurso de uma batalha, uma vez que esta reaparecerá de perfeita saúde no mapa seguinte. Não há phoenix down que seja preciso usar ou morte definitiva que se tenha que temer. Cada uma das personagens ficará ainda mais forte com um aliado à beira, como nos velhinhos títulos de Shining Force. Contudo, e ao contrário do que acontece em Fire Emblem, esse é apenas um boost de batalha, pelo que não há aqui forjar relações afectivas de qualquer espécie.

A apresentação gráfica de Rise Eterna  é aceitável, com alguma variedade nos cenários apresentados (se bem que muitos deles sejam básicos) e sprites de adversários e aliados. O mapa-mundo, que nos permite revisitar capítulos passados, é um bom toque, assim com a existência de cutscenes desenhadas. Contudo, a qualidade destas últimas desce a pique à medida que vamos avançando. A música é um dos elementos mais fracos deste título, soando a genérica e nada épica ou inspiradora, como se exige neste género. 



A dificuldade de Rise Eterna é inexistente, sobretudo para jogadores experientes, que não terão dificuldade em bater o jogo em menos de 8 horas. Felizmente, e apesar de ter uma história que pode ser bastante convulsa e oca em certos pontos, Rise tem algum replay value que passa por algumas das personagens ocultas que este título possui. Ainda assim, e considerando a personalidade desagradável de quase 50% dos nossos heróis e aliados, muitos jogadores poderão não sentir estímulo em voltar a pegar nesta aventura uma vez findada. 

Em suma, um RPG de estratégia que cumpre com os básicos, assentando numa base que poderia ser bastante promissora, mas que acaba por ser facilmente esquecível.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Forever Entertainment.

Latest in Sports