Thank Goodness You're Here!
A vertente mais independente da indústria dos videojogos nos últimos anos é cada vez mais a salvação criativa da mesma. Opinião pessoal e bastante firme. É este espaço de criação - ainda não muito agarrado à necessidade e expectativa corporativa de agradar a gregos e a troianos ou de atingir X (inserir milhões aqui...) número de vendas - que ainda nos vai presenteando experiências diferentes que podem não ser perfeitas e que não têm de ser necessariamente para todos mas que são isso mesmo... diferentes.
Thank Goodness You're Here! é algo que encaixa nesta narrativa. O mais recente jogo do estúdio britânico Coal Supper faz regressar aquele humor tipicamente britânico que parece ter sido abandonado pela cultura pop algures no fim do século passado e que teve o seu pico um pouco mais atrás na história com os famosos Monty Python. A sátira, o exagero e o absurdo andam de mãos dadas durante um par de horas.
Neste jogo, somos um comercial que chega à pacata cidade de Barnsworth, cuja população é bastante caricata e onde parece que toda a gente um problema qualquer para resolver.
O nome deste jogo não podia ser mais apropriado visto que quase todas as iterações iniciais com a população nativa vão parar ao típico "Ainda bem que chegaste..", "Já que estás aqui, dá aí uma ajudinha..." ou similar.
Todo este enredo vai-nos levar a situações bastante caricatas, por vezes absurdas mas sempre hilárias.
A progressão em Thank Goodness You're Here! é muito linear e a dificuldade em ultrapassar os obstáculos ou puzzles que nos aparecem pela frente é mínima. Tudo é mais ou menos dado como adquirido em termos de jogabilidade de modo a não tirar qualquer destaque àquilo que é o principal foco do jogo, o humor. Embora tudo decorra muito sobre os limites que o estúdio Coal Supper impõe no jogo, a nossa travessia pelos eventos que vão sucedendo é prazerosa e divertida. Quase todos os NPC's que encontramos pelo caminho têm uma história ou algum comentário divertido para contar, as interações que temos com o ambiente que nos rodeia provocam sorrisos e a própria progressão normal do jogo vai desbloqueando resoluções engraçadas e absurdas para situações que a uma primeira passagem por elas, não têm resolução aparente.
Todo este ambiente cómico não tem apenas origem no conteúdo dos diálogos, o aspeto visual e sonoro também contribui muito para isso. O jogo é apresentado como um cartoon, com todas as personagens a serem um estereótipo exagerado quer a nível visual quer a nível de personalidade para que a suas representações neste mundo sejam também elas uma ativação cómica. Toda a animação foi feita à mão e foi inspirada na história e folclore tradicional do condado de Yorkshire e até o próprio dialeto é incluído.
Comédia à parte, penso que haveria espaço neste jogo para puzzles mais complexos e um platforming mais desafiante para que a linha entre "experiência interativa" e "videojogo" não estivesse tão diluída.
Percebo a intenção do estúdio mas senti a falta de ativações cinéticas e nem a curta duração da experiência mascarou isso na perfeição.
Thank Goodness You're Here! é a versão Monthy Python de uma experiencia semelhante a um jogo mobile do Panda e os Caricas. A exagerada simplicidade nos puzzles, a sua curta duração e a facilidade sem qualquer atrito com que terminamos este jogo contrastam com a saudosa complexidade de um humor britânico que anda demasiadamente ausente do mainstream. Por essa mesma razão, talvez não seja uma experiencia para todos pois se o humor não estiver a funcionar para um jogador, dificilmente a jogabilidade o conquistará.
Para mim, a homenagem feita ao humor britânico e a sua integração na experiência "videojogo" salva Thank Goodness You're Here! do esquecimento e fá-lo de uma maneira olímpica pois se retirarmos essa variável da equação, pouco mais este jogo tem para oferecer.
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PC, gentilmente cedido pela popagenda.