Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club
Esta é uma visual novel muito detalhada, com uma quantidade bem, bem longa de diálogos que vão explorando todos os pormenores da história, dos pequenos tiques que as personagens apresentam à visão generalizada dos ambientes que nos rodeiam, de um Japão bastante calmo e longe da confusão que vemos habitualmente nas cidades principais como Tóquio ou Quioto. Sendo uma aventura com imensa escrita, todos os momentos do jogo são acompanhados por falas narradas, totalmente em japonês, o que torna tudo mais imersivo.
Olhei para o jogo como um romance da Agatha Christie, ou qualquer outro romance policial de nome, mais do que um jogo. Certo que o sentimento que dá é estar a jogar as sequências de investigação que temos em Ace Attorney ou até mesmo a exploração possíveis em jogos da série Professor Layton, que constantemente estamos sempre a ver todos os detalhes nos cenários à procura de pistas, hábito que também tive em Emio – The Smiling Man. Mas o modo como o joguei foi diferente, geralmente jogando-o à noite antes de me deitar com pouca iluminação no quarto, tal e qual como se estivesse a ler um livro. E foi incrível!
Mesmo sendo literalmente só diálogos e exploração, o jogo cativou-me muito pelos visuais, pelo modo como tudo era apresentado através de cenários muito bem detalhados com animações suaves, mas que traziam vida a tudo. As próprias personagens raramente estavam estáticas, pequenos movimentos ou gestos davam-lhes vida como se estivesse a assistir a uma série de animação, através de uma direção artística que gostava de ver regressar seja em próximos capítulos para a série como em novos jogos ou séries. Sendo o foco dado às personagens rapidamente percebemos as suas mudanças de humor tal como reações ao que lhes era dito ou apresentado. Tudo embelezado com um ótimo voice acting e uma banda sonora bastante simples, muito típica nos visual novels, mas eficaz.
A cada capítulo surgiam cada vez mais informações que envolviam esta ou aquela personagem, o que me deixou cada vez mais curioso, pois poucos foram os momentos em que a história é forçada e mesmo as ligações entre personagens faziam sentido. Tratando-se de uma visual novel policial, por assim dizer, foram vários os momentos ou pequenas histórias que iam surgindo no jogo, que embora não fossem respostas para o assassinato desenvolvia bem as personagens. Só tenho pena que em vários momentos muitas eram as personagens que desapareciam ou tornavam-se irrelevantes, o que constantemente me fazia pensar que o seu desaparecimento poderia ser uma pista para a identidade de Emio, o que me fez entrar que meio em paranoia com as personagens do jogo.
Há um foco na história, mas, como é a jogabilidade? Bem, o desafio é praticamente inexistente, sendo que podemos jogar quase que aleatoriamente a percorrer todas as opções e investigar os pontos todos de modo a avançar. Não vi um Game Over que fosse, ou melhor, houve um por dizer mal um nome, mas segundos após ver esse ecrã estou de regresso ao jogo com uma personagem a dizer quase “Hah, estava a brincar”. No entanto, a história está muito bem encaminhada para seguir uma boa linha de pensamento, ao ponto de não sentir qualquer necessidade em ter um desafio que me barrava o caminho caso não fizesse a dedução certa, pois das duas uma: ou tentava novamente e escolhia a opção certa, ou as personagens criticavam (ou gozavam) com a minha dedução e respondiam por mim.
É certo que aqui podia haver um desafio, nestes jogos de dedução podíamos ter um número de tentativas diferentes e errando demasiadas vezes receber um ecrã de Game Over… mas olhando para Phoenix Wright novamente, quando acontecia isso nesse jogo simplesmente voltava atrás e tentava novamente, tornando essa penalização irrelevante e desnecessária para Emio – The Smiling Man. A história é interessante que chegue para tornar o jogo interessante e, sendo puramente uma visual novel, o estilo de jogo cumpriu muito bem com as minhas expectativas, mesmo que não esteja muito habituado a jogar o género fora séries específicas.
Talvez seja um potencial que vejo perdido ou a minha pouca habituação (e exposição) a muitos visual novels, por muito que tenha adorado a história do início ao fim, mesmo aceitando um ou outro problema na narrativa e o próprio desenrolar do jogo, vejo aqui potencial para fazerem mais no futuro, quem sabe, num jogo que vá além de ser uma “simples” visual novel. Ainda assim é muito gratificante ver o regresso de Yoshio Sakamoto, que sendo ele conhecido por Wario Ware, Rhytyhm Heaven ou mais importante, Metroid, Famicom Detective Club foi o seu primeiro grande projeto onde assumiu um cargo de maior responsabilidade, com os jogos The Missing Heir e The Girl Who Stands Behind, títulos que podem explorar atualmente na Nintendo Switch.
Concluindo, e embora não seja definitivamente um jogo para todos, embora podendo ser a primeira experiência visual novel para muitos, Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club foi uma experiência bastante diferente ao que estou habituado a jogar, mesmo quando visual novels não sejam novidade para mim. Fico curioso com o que esperar de um futuro capítulo desta saga, agora que os visuais e o próprio motor do jogo parecem estar mais que prontos a receber mais títulos, pois certamente estarei cá para devorar uma futura história nesta franquia!
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.