Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club


Está na altura de pegar no casaco, chapéu e lupa de investigador! Pela frente? Um sinistro homicídio cuja vítima foi o aluno do terceiro ciclo Eisuke Sasaki, encontrado morto com um saco de papel na cabeça, saco esse que tinha um bizarro sorriso desenhado. Um detalhe misterioso e fundamental para o caso, não pela estranheza em si, mas por estar associado a outros crimes com mais de uma década que deram origem ao mito, ou lenda urbana de "Emio, The Smiling Man". É com esta premissa que Famicom Detective Club regressa, um terceiro capítulo de uma série que surgiu em 1988, que recentemente ganhou nova vida com um remake dos primeiros dois capítulos para a Nintendo Switch.


O protagonista dos primeiros dois jogos regressa, juntamente com Ayumi Tachibana e Shunsuke Utsugi, este que também é diretor do centro de investigação a que pertencemos. Nunca tendo jogado os dois títulos anteriores pensei que ia cair neste jogo completamente perdido… o que não foi o caso, de todo! Não é preciso ter qualquer conhecimento dos eventos passados que reúnem estas personagens, nem o que as ligam, pois, durante o jogo todas elas são devidamente exploradas, mesmo quando o foco é Eisuke e tudo o que rodeia a sua morte. Por isso, se estão a pensar jogar os jogos anteriores antes de partir para este podem-no fazer, mas não é necessário.

Esta é uma visual novel muito detalhada, com uma quantidade bem, bem longa de diálogos que vão explorando todos os pormenores da história, dos pequenos tiques que as personagens apresentam à visão generalizada dos ambientes que nos rodeiam, de um Japão bastante calmo e longe da confusão que vemos habitualmente nas cidades principais como Tóquio ou Quioto. Sendo uma aventura com imensa escrita, todos os momentos do jogo são acompanhados por falas narradas, totalmente em japonês, o que torna tudo mais imersivo.

Olhei para o jogo como um romance da Agatha Christie, ou qualquer outro romance policial de nome, mais do que um jogo. Certo que o sentimento que dá é estar a jogar as sequências de investigação que temos em Ace Attorney ou até mesmo a exploração possíveis em jogos da série Professor Layton, que constantemente estamos sempre a ver todos os detalhes nos cenários à procura de pistas, hábito que também tive em Emio – The Smiling Man. Mas o modo como o joguei foi diferente, geralmente jogando-o à noite antes de me deitar com pouca iluminação no quarto, tal e qual como se estivesse a ler um livro. E foi incrível!


A história agarrou-me, o mistério em torno do jogo começa no primeiro capítulo e seguem-nos até aos últimos capítulos, com muitas surpresas e reviravoltas pelo caminho. Várias eram as personagens que pensava serem o assassino, pelo modo como falavam e agiam, mas muitas delas ia excluindo como suspeitos por não encaixarem nos factos e eventos que iam acontecendo à medida que avançava na história. Eu tenho um péssimo hábito de ir adivinhando os jogos (ou filmes) todos ao ponto de, por vezes, estragar a história aos outros por deduzir algo que se calhar deveria ter guardado para mim. Mas aqui a história surpreendeu-me, sem querendo dar grandes dicas ou pistas para não vos estragar a surpresa.

Mesmo sendo literalmente só diálogos e exploração, o jogo cativou-me muito pelos visuais, pelo modo como tudo era apresentado através de cenários muito bem detalhados com animações suaves, mas que traziam vida a tudo. As próprias personagens raramente estavam estáticas, pequenos movimentos ou gestos davam-lhes vida como se estivesse a assistir a uma série de animação, através de uma direção artística que gostava de ver regressar seja em próximos capítulos para a série como em novos jogos ou séries. Sendo o foco dado às personagens rapidamente percebemos as suas mudanças de humor tal como reações ao que lhes era dito ou apresentado. Tudo embelezado com um ótimo voice acting e uma banda sonora bastante simples, muito típica nos visual novels, mas eficaz.


Contamos também com um leque muito, mas muito extenso de personagens com quem nos vamos cruzando recorrentemente. Além do nosso trio de investigadores cruzamo-nos várias vezes com Junko Kuze, inspetora da polícia bastante rígida no seu trabalho, juntamente com o seu assistente Daisuke Kamihara com quem trocamos várias vezes ideias. Embora haja um protagonista (cujo nome é decidido por nós ou… quem jogou os anteriores jogos na Nintendo Switch tem uma surpresa interessante) jogamos várias vezes com Ayumi enquanto ela também investiga o caso. É num destes momentos que surge Tsubasa Fukuyama, professor na escola onde estudava Eisuke e também amigo de infância de Ayumi. Entre as famílias envolvidas no caso e as mais importantes para o jogo, deparamo-nos com uma história onde todos parecem estar ligados, de algum modo, ao mito urbano que envolve a morte de Eisuke. No meio de tanta escrita e fala o jogo ajuda-nos a manter o foco, destacando nomes ou palavras chaves importantes para saber o que fazer a seguir, algo que podemos desativar, mas em dias mais cansativos, agradeço todas as ajudas na leitura.

A cada capítulo surgiam cada vez mais informações que envolviam esta ou aquela personagem, o que me deixou cada vez mais curioso, pois poucos foram os momentos em que a história é forçada e mesmo as ligações entre personagens faziam sentido. Tratando-se de uma visual novel policial, por assim dizer, foram vários os momentos ou pequenas histórias que iam surgindo no jogo, que embora não fossem respostas para o assassinato desenvolvia bem as personagens. Só tenho pena que em vários momentos muitas eram as personagens que desapareciam ou tornavam-se irrelevantes, o que constantemente me fazia pensar que o seu desaparecimento poderia ser uma pista para a identidade de Emio, o que me fez entrar que meio em paranoia com as personagens do jogo.

Há um foco na história, mas, como é a jogabilidade? Bem, o desafio é praticamente inexistente, sendo que podemos jogar quase que aleatoriamente a percorrer todas as opções e investigar os pontos todos de modo a avançar. Não vi um Game Over que fosse, ou melhor, houve um por dizer mal um nome, mas segundos após ver esse ecrã estou de regresso ao jogo com uma personagem a dizer quase “Hah, estava a brincar”. No entanto, a história está muito bem encaminhada para seguir uma boa linha de pensamento, ao ponto de não sentir qualquer necessidade em ter um desafio que me barrava o caminho caso não fizesse a dedução certa, pois das duas uma: ou tentava novamente e escolhia a opção certa, ou as personagens criticavam (ou gozavam) com a minha dedução e respondiam por mim.


Pois, era no fim de longos dias de investigação que as personagens reuniam as suas notas e tentavam chegar a várias conclusões. São partes bastante interessantes, que trazem algo de diferente ao resto do jogo onde só escolhia sobre o que perguntava, procurava coisas no cenário ou tentava encontrar a pessoa certa com quem falar. Estes momentos de dedução são uma espécie de questionário com escolha múltipla e, mais interessante ainda, procurar nas notas que recolhemos (e vamos atualizando) automaticamente ao longo do jogo, tentando encontrar as palavras certas nas notas dos suspeitos, ou até mesmo apresentando os próprios suspeitos como resposta a uma dúvida. Um bom jogo de dedução, sem grande consequência, que se torna mais difícil mais para a frente no jogo quando temos dezenas de suspeitos nas notas. Não tão interessante eram os momentos em que tinha de digitar manualmente nomes ou palavras através do teclado da Nintendo Switch, algo que podia muito bem ser interessante, mas sem poder consultar as notas nestes momentos, muitas foram as vezes que me enganava, procurava nas notas pela solução e depois respondia novamente.

É certo que aqui podia haver um desafio, nestes jogos de dedução podíamos ter um número de tentativas diferentes e errando demasiadas vezes receber um ecrã de Game Over… mas olhando para Phoenix Wright novamente, quando acontecia isso nesse jogo simplesmente voltava atrás e tentava novamente, tornando essa penalização irrelevante e desnecessária para Emio – The Smiling Man. A história é interessante que chegue para tornar o jogo interessante e, sendo puramente uma visual novel, o estilo de jogo cumpriu muito bem com as minhas expectativas, mesmo que não esteja muito habituado a jogar o género fora séries específicas.


Mas volto atrás um pouco… ao momento em que Emio foi introduzido ao nosso mundo através de publicações nas redes sociais, criando ali um burburinho de curta duração, mas eficaz. O anúncio gritava jogo de terror por todos os lados, o que honestamente foi bem cumprido, pois os conteúdos que nos são apresentados durante o jogo são de horror, apresentando vários temas sem tabu que podem não ser recomendados para todos os jogadores. Não é um jogo gráfico, de forma geral, nem chega ao horror visual ou descritivo que encontramos em 999: Nine Hours, Nine Persons, Nine Doors, o que sinceramente até gostaria de ver algo do género a ser representado aqui, mas a história consegue descrever todos os eventos na perfeição, quase que atirando-me para dentro do jogo.

Talvez seja um potencial que vejo perdido ou a minha pouca habituação (e exposição) a muitos visual novels, por muito que tenha adorado a história do início ao fim, mesmo aceitando um ou outro problema na narrativa e o próprio desenrolar do jogo, vejo aqui potencial para fazerem mais no futuro, quem sabe, num jogo que vá além de ser uma “simples” visual novel. Ainda assim é muito gratificante ver o regresso de Yoshio Sakamoto, que sendo ele conhecido por Wario Ware, Rhytyhm Heaven ou mais importante, Metroid, Famicom Detective Club foi o seu primeiro grande projeto onde assumiu um cargo de maior responsabilidade, com os jogos The Missing Heir e The Girl Who Stands Behind, títulos que podem explorar atualmente na Nintendo Switch.


Concluindo, e embora não seja definitivamente um jogo para todos, embora podendo ser a primeira experiência visual novel para muitos, Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club foi uma experiência bastante diferente ao que estou habituado a jogar, mesmo quando visual novels não sejam novidade para mim. Fico curioso com o que esperar de um futuro capítulo desta saga, agora que os visuais e o próprio motor do jogo parecem estar mais que prontos a receber mais títulos, pois certamente estarei cá para devorar uma futura história nesta franquia!


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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