Astral Chain


PlatinumGames e jogos de acção. Dois termos inseparáveis, como se entre ambos houvesse uma ligação até mesmo ao nível astral. Com um vasto catálogo de títulos do género lançados ao longo dos últimos 10 anos, desde MadWorld e Bayonetta até ao recente Nier: Automata, é normal que nem todos tenham tido a mesma qualidade ou popularidade, mas é inegável o esforço de todos eles em inesquecíveis momentos de acção. Precisamente por isso, este não poderia ser um caso diferente.

Astral Chain leva-nos até um futuro distante, onde a Terra sofreu um estranho ataque vindo do espaço e que pretende acabar com a humanidade. Portais de ligação a outra dimensão, o Plano Astral, foram arrastando para o seu interior as pessoas, transformando-as depois em monstruosas quimeras prontas a destruir tudo o que encontrem pela frente. Agora, a última esperança reside num projecto científico que tem estudado essa estranha dimensão, com uma ligação física e psicológica onde se torna possível para alguns humanos controlar os Legion, criaturas do plano astral cientificamente alteradas com o objetivo de se evitar uma potencial extinção.

A história centra-se nos gémeos Howard, cuja ligação astral é mais forte do que a de qualquer outro membro da polícia. Fica à escolha do jogador qual deles será o protagonista (rapaz ou rapariga), o que terá leves impactos na história, com diferentes falas e atitudes da outra personagem ao longo do jogo. Enquanto polícia, terá como objetivo ajudar as pessoas no seu dia-a-dia e investigar o mistério em torno de alguns crimes e acidentes, mas graças ao companheiro Legion irá rapidamente perceber-se o impacto do plano astral na vida das pessoas.


Sim, a temática parece saída de um filme de animação japonesa e não é caso para menos. O jogo não deixa qualquer dúvida em relação ao seu público-alvo, com uma introdução que rapidamente coloca os jogadores em plena ação numa mota em alta velocidade, enquanto ainda passam os nomes da equipa de desenvolvimento, até mesmo ao genérico que facilmente se veria numa série animé. Até mesmo a estética do jogo, assim como sua a própria temática sci-fi com toques de cyberpunk, têm aqui um público-alvo algo específico, mas que certamente irá adorar a experiência.

Em termos de estética, assenta que nem uma luva na Nintendo Switch, com uma fluidez visual impecável tanto em modo TV como em Portátil. Os combates são realmente impressionantes, com belíssimos efeitos de luz e cor que acabam por deslumbrar tanto quem joga como quem vê a jogar, algo bem mais perceptível em vídeo do que em meros screenshots. Por isso mesmo, a primeira grande pergunta que o sistema apresenta é o nível de dificuldade pretendido, oferecendo uma supreendente opção "Unchained" com um sistema de combate automático, onde até quem não tiver "jeito" com intensos jogos de ação poderá apreciar Astral Chain como se fosse uma fantástica série a dar na televisão.

Nesse aspecto, o jogo oferece níveis de dificuldade para todos os gostos. O modo "Casual", recomendado aos menos experientes com títulos de ação, conta com um folgado número de vidas que irão evitar as frustrações de um "Game Over", permitindo até ativar o modo "Unchained" em combates que o jogador considere muito difíceis. Mais interessante ainda, é a possibilidade de automatizar apenas algumas coisas. Por exemplo, se a dificuldade do jogador for apenas ao desviar-se de um ataque inimigo, poderá ter esse comportamento automático na personagem sem perder o controlo de mais nenhum movimento. Excelente no que diz respeito à acessibilidade.


Já o modo de dificuldade "Pt Standard" é dedicado aos mais habituados a este género e que não precisam de ajudas, com a sua prestação classificada de nível a nível, sendo que o verdadeiro desafio será o modo "Pt Ultimate", cujo acesso vai sendo desbloqueado à medida que se vai avançando no jogo, para mais rejogabilidade. Para os mais experientes, é até possível tirar-se partido do jogo num estado puro, sem qualquer informação como o HP, mapa ou outras informações. Personalização é algo que não falta neste título.

O jogo em si está dividido em múltiplos episódios ("File") divididos em diferentes partes ("Chapter"), que irão fazer alternar entre o papel de polícia de investigação e todo o combate contra os monstros do plano astral. Sem querer entrar em pormenores da história, visto que esta vale mesmo a pena ser descoberta pelo jogador, há uma tentativa de ritmo entre momentos calmos e outros bastante intensos que nem sempre é bem sucedida. Em alguns dos episódios, há momentos de investigação que parecem extremamente longos, enquanto que noutros toda essa componente parece quase "esquecida". Nos melhores momentos, porém, a transição entre investigação, exploração e combate parece realmente uma boa série de televisão, com os devidos dramas entre personagens a aparecer pelo meio.


Sendo um título da PlatinumGames, naturalmente, o grande ponto deste título está nos intensos combates de ação, aqui focados no controlo simultâneo de duas personagens, tanto a protagonista como o seu Legion. O jogo gere muito bem a introdução das suas mecânicas, incluindo vários tutoriais com o pretexto de treinos da polícia. Na realidade não são exigidos muitos botões, havendo também uma boa autonomia do Legion no combate. Um simples botão serve para invocar o Legion, chamá-lo para perto do polícia ou enviá-lo em direção ao adversário. Com o tempo são facilmente adquiridas novas habilidades, que se vão também tornando instintivas para quem joga.

A própria corrente não é meramente estética. Com ela, é possível criar-se uma barreira para impedir o avanço de um inimigo, ou fazer o Legion girar em torno de um grupo de adversários de forma a que fiquem acorrentados. Com a experência que se vai ganhando, é possível depois desbloquear novas habilidades e assim aprofundar cada vez mais tanto a jogabilidade como o aspecto visual de cada combate.

Apesar de se começar o jogo com a ligação a apenas um Legion, ao avançar na história a personagem irá até um total de 5 criaturas, cada uma com diferentes caraterísticas e habilidades, podendo trocar entre elas a seu belo prazer, tanto em combate como durante a exploração. Com isto, há também um bom nível de rejogabilidade, pois certas áreas e combates dos diversos capítulos só serão acessíveis com algumas habilidades específicas de alguns Legion que só se encontram mais perto do final.


Com tanto a acontecer em simultâneo, é realmente impressionante que o combate se mantenha uma maravilha estética sem sacrifício da jogabilidade mas, mesmo assim, ofereça a quem considera difícil a possibilidade de o automatizar. Com uma vasta lista de opções em termos de câmara e jogabilidade, os criadores deixam que cada um personalize a experiência ao seu gosto, incluindo câmaras automáticas e mais ou menos cinemáticas.

Infelizmente, fora do sistema de combate e exploração, a componente de investigação criminal é uma experiência inferior que, por vezes, se prolonga mais do que seria recomendado. Não é que seja algo de negativo, mas que simplesmente não está à altura do restante conteúdo do jogo. Felizmente, e sendo este um título que, após as cerca de 20h para se completar a história, investiu muito na sua rejogabilidade, ao selecionar capítulos já completados é perfeitamente possível saltar-se a parte da investigação se for essa a vontade do jogador. Além disso, após completada a história há ainda bom conteúdo em termos de combates com uma dificuldade superior.

Como dito anteriormente, é um título realmente feito à medida para a Nintendo Switch, com um estilo artístico que tira partido das limitações da consola e assim oferece uma estética ao nível de uma grande animação feita em 3D. Infelizmente, as personagens oferecem pouca expressão ao nível das caras e a sincronização dos lábios com as vozes, que foi feita apenas para o áudio em japonês. Por outro lado, a boa notícia é precisamente que se pode jogar com todas as vozes em japonês!


Astral Chain é um excelente começo para uma nova saga, que sem esconder as suas referências e inspirações consegue trazer algo de novo e surpreendente, com uma óptima história a acompanhar. Um mundo original e com uma boa dose de mitologia, no qual não será de espantar o lançamento de futuras sequelas ou, quem sabe, até mesmo um bom filme ou série de animação. O melhor de tudo, no entanto, é mesmo o fantástico sistema de combate onde não há qualquer sacrifício da jogabilidade. Totalmente recomendado para fãs de sci-fi e boas doses de ação!

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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