Decay of Logos


Portugal começa lentamente a entrar no mapa da indústria dos videojogos. Desenvolvideo pelo estúdio Amplify Creations, Decay of Logos é uma produção nacional que se quer destacar no mercado, um jogo que entra a pés juntos para levar o jogador a um universo inspirado em Dark Souls. Mas estará este jogo ao nível do melhor que se faz lá fora?

Decay of Logos começa com uma pequena vila em chamas, invadida por misteriosos inimigos e sem qualquer explicação do sucedido. Assim, a nossa protagonista, muito parecida à famosa raça dos elfos, embarca numa viagem com a sua criatura Elk, os quais seguem caminho por vales e montanhas em busca de respostas. Diga-se já que o foco na história é perdido assim que o jogador começa a ter controlo da personagem, até porque não são muitos os NPC’s a vaguear, diria que quase escassos e, por isso mesmo, o ponto fulcral de Decay of Logos é a sobrevivência neste lugar inóspito de criaturas que vagueiam e que não demonstram sinais amigáveis, apenas querem a morte da protagonista.

A jogabilidade é boa, o controlo e movimentos da personagem são bons, pelo menos a nível da versão PC que tivemos a oportunidade de analisar. É possível jogar com os textos localizados na língua de Camões, confesso que já tinha saudades de ler textos em videojogos que se encontrassem totalmente em PT-PT. O próprio menu e quaisquer diálogos ou informação de localização, tudo num Português perfeito. No entanto, as vozes (as poucas existentes) encontram-se apenas em inglês.


Este jogo é sem dúvida bastante ambicioso, mas há realmente muita coisa a limar para tornar a experiência mesmo muito boa.

De referir que um ponto positivo é a sua arte, com um estilo cartoonesco que vai desde a relva às montanhas e rios, com cores bonitas. É pena, por isso, que muitas vezes os cenários pareçam um pouco despidos e vazios. O mesmo acontece com a música. Se ao jogar The Legend of Zelda: Breath of the Wild eu me queixei que poucas eram as vezes que escutava música pelo jogo fora, em Decay of Logos é praticamente nula, o que pode tornar o jogo aborrecido com a sensação de "vazio".

Mas não se pense que esta é uma aventura para qualquer um, pois o jogo é mesmo desafiante, a um nível extremo. Os inimigos até são simples de derrotar: o jogador apenas tem de se esquivar dos seus ataques e contra-atacar, tendo como alternativa realizar um contra ataque direto. No entanto, a barra de stamina desce sempre, tanto sendo a esquivar, como a correr, como fazer contra-ataque, por isso mesmo, Decay of Logos vai criar aos jogadores uma quantidade absurda de "rage quit".


O primeiro inimigo, que mais parece uma cebola hiperativa, apenas tem de trincar o jogador duas vezes para o derrotar. Mais à frente, um inimigo mais "típico" com a forma de um humano em fusão com uma árvore, apenas necessita de acertar uma única vez para derrotar a protagonista. Pior disto tudo, é a personagem ficar cansada e as suas estatísticas, como a força e defesa, baixarem a cada morte. Para recuperar, terá de encontrar locais específicos pelo mapa para o descanso mas, para piorar, estes locais podem ser atacados durante a noite por um trio de inimigos. Se normalmente já é quase impossível derrotar dois inimigos em simultâneo, então esta é uma tarefa extremamente punidora e árdua.

Com as estatísticas em baixo, sem se encontrar um acampamento, a personagem terá de seguir caminho com a impossibilidade de correr (afinal de contas, está extremamente cansada) e receberá o dobro do dano. A única hipótese de este voltar a ter as estatísticas no ponto é mesmo subindo de nível, mas o jogo é duro para o jogador e nem mesmo os seus avanços são fáceis de acompanhar. A barra de experiência, por exemplo, é inexistente, dando apenas um sinal de longe a longe quando se sobe de nível no canto inferior esquerdo que diz “Subiu de nível”, sem mostrar qualquer estatística, deixando o jogador na ignorância daquilo que é necessário para chegar ao nível seguinte.

O Elk também não desempenha um papel muito relevante. Damos de comer à criatura para não entrar em stress e assim poder montar a criatura, mas a jogabilidade é confusa e o animal lento, o que faz com que rapidamente se decida desmontar e seguir o caminho a pé, a correr em direção ao destino. O Elk é útil nas sequências obrigatórias, em que terá de fazer peso para abrir portas por exemplo. A sua principal utilidade é poder carregar alguns itens do jogador, visto que o protagonista tem um inventário muito pequeno para carregar armaduras e armas. Ao jogar, não encontrei necessidade de estar junto ao bicho, embora nos escrãs de loading, as mensagens indiquem que ao criar uma boa relação com o Elk, este poderá ajudar numa batalha dura, algo que ainda não presenciei.


A experiência é dura, o jogador irá encontrar dificuldades a tempo inteiro, o que pode ser doloroso, mas a ideia dos criadores é mesmo essa. Talvez seja demasiado, isto porque não existe um equilíbrio, o jogador terá de sofrer e terá de ser extremamente paciente, lutar contra cada inimigo como se de um boss tratasse. Os itens a apanhar durante a aventura são escassos, as armas têm um limite de duração, o próprio equipamento igual. Os cogumelos que podem ser encontrados pelo mapa são totalmente aleatórios: ou fazem mal à saúde por estarem envenenados, ou restauram a saúde. Raramente restauram, o que leva o jogador a evitar qualquer cogumelo que encontra. Existe magia, o que seria de esperar, chamado de Magicae, no entanto o jogador vai pensar múltiplas vezes se há-de ou não utilizar. A barra de magia é a da saúde, e se a saúde já é preciso conservar, será que vale a pena utilizar a magia? Poucos ingredientes são recolhidos dos inimigos, sejam fracos ou fortes, o que leva o jogador a tentar escapar das lutas evitando o pior.

Os inimigos são quase sempre os mesmos: ora abelhas, ora lesmas, ora homens árvore... Não há muita diversidade e o padrão é sempre o mesmo. O principal problema é sofrer qualquer golpe, no caso de se sofrer dois é "game over" e voltar ao checkpoint anterior (que às vezes pode ficar bastante longe), obrigando o jogador a correr e a eliminar novamente todos os inimigos até poder avançar. É realmente sem dó nem piedade de quem estiver a jogar.


Em termos de PC, não há quaisquer quebras de framerate e, em termos técnicos, funciona bastante bem. No entanto, há muitos aspectos em que a experiência poderia ser melhorada sem que isso sacrificasse a dificuldade do jogo, sendo esta uma clara intenção do estúdio no desenvolvimento deste Decay of Logos. Uma aventura realmente difícil, mas que ainda assim vale a pena experimentar.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código do jogo para PC via Steam, gentilmente cedido pela Rising Star Games.

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