Hyrule Warriors: Age of Imprisonment


Uma das memórias que tenho da Nintendo Wii U foi o anúncio de Hyrule Warriors: o primeiro Musou — jogos ao estilo Dynasty Warriors, da Koei Tecmo — dedicado a The Legend of Zelda, numa época em que nem tínhamos jogos no estilo que exploravam icónicas séries como Dragon Quest, Fire Emblem ou Persona. Hyrule Warriors viria a criar esta tendência, naquilo que acabou por se tornar numa série em si e, agora, chega o mais recente título!

Hyrule Warriors: Age of Imprisonment foi um dos primeiros jogos agora anunciados para a Nintendo Switch 2, se descartar as edições melhoradas de Breath of the Wild e Tears of the Kingdom, é também a grande estreia de The Legend of Zelda na nova consola da Nintendo. Um jogo que nos leva aos eventos que antecedem Tears of the Kingdom, explorando melhor a aventura que Zelda tem no passado, juntamente com Rauro e Sonia, e até mesmo a presença marcante de Ganondorf nos eventos que aconteceram.


Antes de falar em Age of Imprisonment, admito que nunca fui o maior fã de Age of Calamity, um spin off de Breath of the Wild que bem podia ser uma prequela, mas, afinal decidiu recontar os eventos de maneira diferente. Foi giro visitar personagens que apenas conhecemos brevemente, mas a execução do jogo deixou-me um pouco desinteressado. Quando Age of Imprisonment foi anunciado, questionava-me se isto seria uma prequela “a sério” ou se seria mais uma história alternativa do jogo em que se baseia. Sabendo agora a resposta, este é mesmo uma prequela dos eventos de Tears of the Kingdom, com algumas invenções que não destoam nem alteram a história já contada.

Viajamos, então, para um passado muito longínquo, milénios atrás, quando o reino de Hyrule era apenas uma pequena amostra daquilo que se iria tornar um dia. Zelda acorda num local desconhecido, mas estranhamente familiar, sendo recebida pelo rei e raínha de Hyrule: Rauro e Sonia. Rapidamente Zelda explica o sucedido e, em poucos minutos, já tem uma arma nas mãos e já estamos prontos para matar centenas de inimigos que se cruzam no nosso caminho. Hyrule do passado era um local hostil, com Bokoblins, Lizalfos e Moblins a torto e a direito, o que para nós até é bom porque implica mais inimigos para despejar tudo o que é ataques em cima.


Os eventos de Age of Imprisonment são, bem… conhecidos. Tendo jogado (e devorado) Tears of the Kingdom já sabia com o que contar, muito graças aos pequenos eventos que eram contados através de cutscenes que descobria à medida que explorava Hyrule. No entanto, agora temos um muito melhor desenvolvimento dos eventos, ordenados cronologicamente e com mais história apresentada, mostrando personagens e acontecimentos criados em específico para este jogo. Não temos muito tempo para respirar, pois, em poucas horas estamos já a lidar com aquilo que coloca o reino em risco, ao ponto que até gostava que tivessem explorado um pouco melhor a história entre Zelda e as restantes personagens, antes da queda do Carmo e da Trindade lá do sítio.

Saltando para a ação, este é um Musou extremamente familiar para os fãs da série, ou até mesmo para aqueles que jogaram os Hyrule Warriors anteriores. Aqui cada missão é um mapa, com objetivos que vão surgindo à medida que percorremos as diversas zonas e matamos centenas e centenas de inimigos, numa explosão de efeitos especiais e monstros que facilmente voam sempre que os atacamos. Além dos inimigos comuns há uns quantos de maior dimensão, onde temos de aplicar alguma estratégia e atacar nos momentos certos, se os quisermos derrubar rapidamente, sendo que as nossas personagens têm ataques mais do que o suficiente para lidar contra todos os ataques que lhes são atirados em cima.



No meio disto tudo, há um certo caos delicioso que me satisfez muito, dando por mim a querer limpar os mapas todos e certificar-me que tinha morto tudo o que era inimigo. Até porque há um certo grau de exploração, apesar de tudo, com tesouros escondidos e até o regresso das Korok Seeds, quando encontramos os pequenos Korok escondidos. Há muito mais que é aproveitado dos recentes jogos da série, como usar itens para “receitas” nos acampamentos, trazendo benesses para mais experiência ou velocidade, entre outros power-ups. Há armamento para melhorar com itens, usar o loot largado pelos inimigos para determinados ataques, ou pequenas missões que nos trazem benefícios nos combates mais intensos. São muitas as coisas que podem acontecer, se assim as quisermos explorar. Temos ainda a funcionalidade com amiibo, para receber por dia itens, o que é bastante útil para ir cumprindo as várias missões onde entregamos coisas, melhorando não só as personagens como o estado de Hyrule.

Age of Imprisonment estudou bem o material da fonte, pois além de explorar os campos de Hyrule, os céus do reino e as profundezas cavernosas, toda a temática dos Constructs é usada. Pequenos artefactos que vão de pequenas armas a partes de um todo, resultado em autênticas construções desde veículos a robôs, equipados com tudo e mais alguma coisa para destruir o que nos aparece à frente. Embora seja um pouco o tema de Mineru, que invoca todas estas construções, todas as personagens podem usar as mais variadas Constructs seja para queimar, eletrificar ou congelar inimigos, até não termos mais energia disponível para os usar, energia esta que pode ser recuperada com um item.


Cada personagem acaba por explorar modos de jogabilidade diferentes, com armas para os mais variados gostos onde nunca me preocupei sobre as suas combinações, fora uma ou outra missão que exigia ataques de água, para limpar o lamaçal que enchiam o terreno e protegiam os inimigos. Na prática, acaba por usar sempre as minhas personagens favoritas e, caso precisasse de pegar fogo a alguma coisa ou congelar inimigos, usava os Constructs capazes de o fazer e estava tranquilo. Em parte acabou por retirar muita da estratégia necessária, onde tinha de pensar quem levar para que missão, porque com os Constructs conseguia fazer “tudo”.

Quanto à história ela compõe grande parte do jogo, são imensas as cutscenes que vão contando tudo, dando-nos a conhecer melhor a história de Rauro, Sonia, Mineru e Zelda, tal como a de Ganondorf. Conhecemos um pouco melhor o passado dos quatro Sages que representam cada uma das tribos de Hyrule, e não só. Há umas quantas personagens inventadas e algo que meio irrelevantes, sendo que contribuem com os seus estilos de jogabilidade para não serem todos iguais, embora grande parte dos seus ataques e modos de jogo são aproveitados dos restantes Hyrule Warriors e, ainda, de outros Musou.



O trabalho em equipa acaba por ser um tema recorrente no jogo, dos sete sages aos vários soldados de destaque que nos ajudam, que mesmo só podendo ter no máximo quatro personagens na equipa, muitos eram os que apareciam no campo de batalha a ajudarem. Há ataques especiais cooperativos entre todos eles, embora muitos sejam ataques genéricos, há alguns únicos com resultados bem diferentes como ter Zelda a bordo de um robô feito de Constructs, ou Rauro ajudar-nos com golpes dignos de Dragon Ball Z. Há muito flair e aparato notório nestes ataques, que me enchiam a vista com explosões gratificantes.

No meio de personagens criadas para este jogo, há duas que se destacam: um pequeno corajoso (e por vezes chato) Korok de nome Calamo e o Mysterious Construct. O primeiro usa todo um conjunto de frutas com diferentes propriedades, mas o segundo acabou por ser a personagem que faz tudo e mais alguma coisa. É extremamente semelhante a Link, foi mesmo a maneira deles colocarem Link de alguma maneira, pois os seus ataques são baseados nos movimentos do herói em Hyrule Warriors: Age of Calamity, usando agora a temática dos diferentes Constructs para lhe dar uns quantos ataques extra (ou substituir outros). Honestamente, sempre que o podia usar, usava, ele sozinho conseguia resolver tudo!


É também graças a este Mysterious Construct que surgem momentos únicos onde varia a jogabilidade em Age of Imprisonment! Mais do que as missões de derrotar inimigos e enfrentar aquele ou outro inimigo, durante a aventura surgiam pequenos momentos de jogo que se transformaram num shooter de aviões, ou naves como em Star Fox, ou até mesmo Panzer Dragoon para quem o conhece. Ou, se quisermos manter tudo no universo The Legend of Zelda, o minigame de Twilight Princess onde nas costas de uma misteriosa ave tínhamos este estilo de jogo. Esta mudança de estilo de jogo foi uma boa surpresa, sempre que tinha uma missão do género ia logo para ela.

Porque, se há algo a reter de Age of Imprisonment é que foi um jogo que me divertiu imenso, muito mais do que o seu antecessor, apesar da jogabilidade ser semelhante. Continuamos com os ataques onde combinamos dois botões para criar combos, à medida que usamos ataques especiais, quer para lidar com mecânicas nos inimigos principais, quer para matar hordas de inimigos à maluca, com uma performance em muito superior, agora tirando partido da Nintendo Switch 2, oferecendo uma experiência mais fluída, sem grandes quebras notórias mesmo quando tínhamos centenas de inimigos a atacarem no ecrã.



Com dezenas e mais dezenas de missões à disposição, tinha sempre algo para fazer além das missões principais que me faziam avançar na história. Era levado para todos os cantos de Hyrule rapidamente, ouvia músicas não só dos mais recentes jogos da série como dos mais antigos, apelando à nostalgia, mas principalmente reforçando que apesar de ser um spin-off, este é um The Legend of Zelda com um twist. Muitas foram as missões que destacavam uma ou outra personagem (e cooperações entre elas), que geralmente duravam cerca de cinco minutos cada, perfeitas para eu constantemente dizer “só mais uma”, dando por mim a investir horas sem dar por ela, que contribuiram para as várias horas que dediquei ao jogo até ver os créditos.

Um jogo que pode ser jogador com outro jogador para avançar a campanha cooperativamente, seja através do GameShare ou pelo tradicional split screen, onde aqui sim, a fluidez passava para metade (vamos dizer os 30 frames por segundo), ainda que mais fluído do que aquilo que sentia a jogar sozinho em Age of Calamity, jogo que já merecia um update considerável na Nintendo Switch 2. Um jogo que joga-se muito bem sozinho, pois podemos comandar as nossas personagens para resolver dramas em locais diferentes, mas sem dúvida divertido de jogar com amigos campanha fora.


Foi um grande regresso à série, após ter ficado algo desapontado com o anterior jogo, o uso perfeito destes spin offs para nos trazerem uma prequela em condições, contando-nos um pouco melhor os eventos que levaram a The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, mas sem inventar demasiado como aconteceu com Age of Calamity. Sim, há personagens com destaque que não constam naquilo que conhecemos destes eventos, mas sem entrar em grandes detalhes, digamos que me fizeram abrir novamente a última grande aventura da série para ir verificar ali algumas coisas.


Hyrule Warriors: Age of Imprisonment é um jogo muito divertido, principalmente para aqueles que têm prazer em ver tudo o que é inimigo voar ecrã fora, jogo que vou pousar já, há ali umas quantas missões por fazer que fui deixando para depois. Uma boa colaboração entre a Nintendo e a Koei Tecmo, para uma bela maneira de saciar um pouco a fome por um novo The Legend of Zelda enquanto esperamos pela próxima aventura de Link na Nintendo Switch 2, que sabemos lá quando é que isso poderá acontecer! 

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch 2, gentilmente cedido pela Nintendo.


"Terminando, e com uma nota pessoal como já tem vindo a ser hábito, foi no ano em que saiu The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom que numa das inúmeras conversas que tinha com o Telmo, ele dizia o quanto queria ver um Hyrule Warriors que contava a história de Zelda no passado, onde ela tinha sido enviada. Uma prequela sem invenções, expandindo o jogo com foco na Zelda, Rauro e Sonia, que de certo modo espero que ele esteja a ver o desejo dele ser concretizado."

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