Digimon Story: Time Stranger
Mal meti as mãos no jogo, disse adeus ao mundo e passei um fim de semana "fechado" em casa a devorar por completo este jogo, ali com uma pausa domingo de manhã para assistir ao primeiro episódio da nova série Digimon Beatbreak, que calhou bem coincidir com o lançamento de Digimon Story: Time Stranger, para receber assim um fim de semana recheado de coisas boas! Foram poucos os jogos este ano que me fizeram desligar de tudo para me dedicar a eles a 100%, algo que soube particularmente bem, pois há muito que estava ansioso por um novo título.
Não digo isto de leve, os jogos Digimon são aqueles que vou acompanhando havendo novos lançamentos, dos bem conhecidos Cyber Sleuth aos que passaram despercebidos como Digimon World: Dawn e Dusk, ou até mesmo Digimon World: Next Order que… bem, não quero falar desse. Na realidade ando há demasiado tempo a pedir um novo jogo na série nos moldes de Digimon World: 2003, o meu favorito desde então, por nos levar a uma história coesa, cheia de boas surpresas e muitos monstros digitais.
Foi com Cyber Sleuth que parte desse desejo foi concretizado, tinha ali Digimon, mas… faltava-lhe o essencial: o mundo digital. Certo, exploramos ali uma internet em tons de azul, mas em momento algum temos a aventura de explorar os mundos fantásticos que vimos nas séries de animação. Tudo mudou agora com o lançamento de Time Stranger, que nos prometeu uma viagem ao mundo digital desde o momento que foi anunciado. Enquanto o jogo não era lançado tentei fugir a notícias, queria descobrir tudo no jogo ao explorá-lo, e ainda bem que o fiz!
Digimon Story: Time Stranger coloca-nos no papel de um agente de ADAMAS, uma organização secreta que preza pela segurança de tudo o que é relacionado com fenómenos estranhos. É exatamente um desses fenómenos estranhos que atinge a cidade de Tóquio, mais concretamente Shinjuku, e rapidamente nos vemos no meio do caos enquanto seguimos as instruções do nosso assistente. Há Digimon à mistura e, lutando fogo contra fogo é-nos dado um de três diferentes monstros à escolha para nos proteger da confusão que se gerou. A história desenrola e temos como objetivo proteger os cidadãos, entre elas uma rapariga com relativa importância, sem grande desenvolvimento, mas tinha ali um objetivo a cumprir. Entre o caos, lutas contra gigantescos Digimon, o apocalipse e já algum tempo de jogo terminava o "tutorial", o que o jogo fez questão de o afirmar ao colocar o seu logo no meio do ecrã.
Time Stranger é um bom RPG "à antiga", linear e que seguimos entre objetivos à medida que a história se desenrola, com algumas missões secundárias pelo caminho. As primeiras horas de jogo serviram para nos dar a conhecer o trio de personagens que moldam a narrativa: juntamente com o nosso protagonista, temos Inori que se vê também atirada para o meio da confusão e Aegiomon, que vai-se desenvolvendo com o desenrolar da história. São algumas horas nesta fase inicial até o jogo começar "a sério", entre muitos combates contra diferentes Digimon que podemos juntar à nossa equipa, usando um sistema em muito familiar para quem jogou Cyber Sleuth.
Distinto de outra icónica série de combater com monstros, Pokémon, aqui não capturamos as centenas de diferentes Digimon disponíveis, mas sim à medida que lutamos contra eles vamos aumentando uma percentagem de data que, atingindo os 100, podemos converter num novo monstro para a nossa equipa. Por isso, acabamos por querer repetir os combates para receber Digimon, usá-los em combate e treiná-los para atingir novas evoluções, isto é, digivoluções. A lista é extensa, tecnicamente um Digimon pode-se tornar em qualquer outro, através do atribulado sistema de digivolution e de-digivolution, onde revertemos um Digimon no patamar anterior, um mecanismo que usamos (e abusamos) para obter melhores atributos, que nos permite depois transforma-los em Digimon mais poderosos, que pedem atributos específicos.
Não é um sistema linear, está lá para ser abusado caso procuremos ter monstros específicos. Usando dois dos mais famosos, enquanto que Agumon facilmente digivolui para Greymon, já Gabumon — que fique claro, ainda é o meu favorito — tornar-se Garurumon envolve ter determinados atributos que não é tão fácil de obter, simplesmente subir de nível. Aqui, temos o mecanismo da Digifarm, um mundo à parte onde podemos deixar os nossos Digimon a subir determinados atributos enquanto avançamos no jogo, ou simplesmente pagar para acelerar o treino. Um sistema curioso, que promove a exploração e ver as distintas ramificações que os nossos Digimon conseguem atingir, tudo em prol de chegar aos nossos favoritos. Também não basta atingir um determinado nível e está feito, é preciso subir o nosso rank como agente, desbloqueando novos patamares de evolução, dos Champion ao Mega, passando pelo Ultimate onde estão muitos dos meus favoritos.
Algo que vamos fazendo à medida que avançamos na história principal, ou pelas imensas missões secundárias que podemos ir fazendo a bom ritmo. Em Time Stranger, tal como o nome indica, após os momentos iniciais damos por ela a viajar no tempo e ir parar ao passado, muito antes do caos se ter instaurado em Tóquio. É aqui que vamos conhecendo a história de Inori, Aegiomon e de tudo o que são Digimon que vamos conhecendo à medida que exploramos o mundo digital. Aqui entra a minha parte favorita, após uma longa espera temos um Digimon Story em que exploramos o mundo digital como deve ser, com cenários incríveis como cidades de ferro e torres imponentes, a florestas com colossais árvores, ao fundo dos mares onde magicamente conseguimos respirar. Para quem acompanhou as séries de animação mais antigas ou os jogos de então, foi um regresso à minha infância, explorando mundos assim que são bem desejados nos jogos.
Apesar de grandiosos, a exploração destes mundos é feita através de pequenas zonas lineares cheias de monstros e itens para apanhar aqui e acolá, com alguns segredos pelo meio. Algo que não me incomodou, até gosto deste grau de linearidade, contudo o que é infeliz é a repetição destas zonas, que acreditem, vão passar exatamente pelos mesmos sítios vezes sem conta, seja pela missão principal ou pelas opcionais. Dou como exemplo do início do jogo, onde exploramos os esgotos de Tóquio, com a história a levar-nos exatamente ao mesmo sítio durante umas boas horas, até seguir em frente. Um problema que, infelizmente, persiste no jogo todo mesmo até à última masmorra, com a história a reutilizar sempre os mesmos caminhos.
Estranhamente, a repetição é algo que surge também na história: por várias vezes temos lindíssimas sequências narrativas, representadas através por teatros de sombra tradicionais, contando os eventos que levaram até àquele momento. O que é grave, é que tinha sempre sequências que apresentavam o que tinha acontecido nem há cinco minutos, sem acrescentar nada, e isto o jogo todo, embora se enquadrem na história, porque estes momentos eram vistos pelas próprias personagens numa misteriosa sala de espetáculos. Foi infeliz, até porque gostei bem da história de simplesmente ir atravessando o mundo digital de zona em zona para resolver cada um dos problemas que as assolam, dando a conhecer um leque alargado de personagens.
Mas, explorar finalmente um mundo digital como deve ser, num jogo Digimon? Perfeito! Foi como se tivesse a ser transportado para os cenários que vemos nas primeiras séries de animação, onde a magia e a fantasia abraçam o mundo tecnológico, uma fusão que funciona na perfeição. Ainda por cima, podemos andar às cavalitas (ou nos braços de) vários Digimon como uma mount, apesar que dei por mim a correr simplesmente porque a velocidade não era assim tão diferente. Ainda assim, poder andar às costas de um Garurumon foi incrível! E há muito a explorar, apesar dos pequenos mapas, entre pequenos portais para áreas especiais com objetivos definidos, aos muitos NPCs que insistem em jogar o jogo de cartas presente, algo irrelevante e desinteressante, sendo apenas um jogo de quem tem o número mais alto (e nem sempre funciona).
Tudo é contado através de visuais que facilmente nos transportam para uma série de animação japonesa, o que encaixa perfeitamente, pois Digimon sempre foi responsável pelo surgimento de fãs através das séries de animação, nomeadamente as três primeiras. Os mundos são detalhados, mesmo que não sejam nada por aí além quando comparando com outros jogos da PlayStation 5, que estranho o jogo estar limitado aos 30 frames por segundo quando poderia bem correr mais fluído como na versão PC. Contudo, atendendo o estilo de jogo, foi algo que não me incomodou nada nem me impactou. Visuais anime bem acompanhados por um bom voice acting tanto em inglês como japonês, entre músicas onde podemos nerdar muito se comprarmos o pack de músicas das séries de animação, embora estejamos muito bem servidos com a banda sonora do jogo.
Apresentando-se como um RPG nos moldes tradicionais, são várias as mecânicas a explorar nos imensos combates, embora o jogo não tenha apresentado grande desafio no modo Normal. Após o terminar e desbloquear novos níveis de dificuldade, já passei um bom par de horas no modo mais difícil e vejo ali um bom desafio a abraçar, algo que farei eventualmente. Há uma boa dose de estratégia nos combates, pois cada Digimon tem um atributo associado, geralmente sendo do tipo Data, Virus ou Vaccine, entre alguns especiais que "fogem" a este tradicional jogo de pedra-papel-tesoura. Sobre isso há outra camada de estratégia, através dos típicos elementos de fogo, água, vento, entre outros, que podemos (e devemos) tirar partido, principalmente nos combates mais desafiantes.
Aqui há bastante liberdade para personalizar os ataques dos nossos Digimon, diria até que há "demasiada" liberdade porque cada monstro pode aprender qualquer ataque, além dos especiais e específicos a cada Digimon, ataques estes que têm direito a uma animação especial. Dei por mim a ter apenas uma equipa de favoritos em que dava quase que aleatoriamente um grupo de ataques a todos, sem pensar muito, mesmo que depois um Digimon do tipo Data não desse tanto dano como outro do tipo Virus, dependendo de contra quem estava a lutar. Em muito Digimon sempre se aproximou de Shin Megami Tensei (muito mais que Pokémon, até), outra série que adoro, mas nesse clássico da Atlus tinha de pensar bem na minha equipa de modo a cobrir estratégias, algo que aqui simplesmente não acontecer. Em parte, agradeço, porque assim consegui ter uma equipa com os meus Digimon favoritos do início ao fim!
E, sim, são muitos os combates que tive pelo caminho, algum grind pelo meio que me tornou algo que demasiado poderoso em parte, e embora as animações dos ataques dos Digimon fossem muito boas, dei por mim a perder a paciência e simplesmente avançar com a velocidade no máximo nos combates, saltando essas animações. É um RPG tradicional com Digimon, algo que há muito queria novamente, e foi bem entregue! Foi incrível ver as centenas de Digimon disponíveis, tornando-se até difícil definir os seis que queria na equipa, embora lamente muito que Time Stranger ignore por completo as séries de animação mais recentes, com a ausência grave de Gammamon de Digimon Ghost Game ou até de Gekkomon que inaugura a nova temporada, embora quem sabe, se os conteúdos adicionais que serão lançados nos próximos tempos, não os contemplarão. Já temos aí a primeira parte a ser lançada, que aguardo com alguma expectativa.
Embora tenha gostado muito da história que compõe primeira metade do jogo, ela deixou algo a desejar mais para a frente e principalmente na reta final, da repetição constante dos mesmos sítios, do momento em que a meio do jogo a narrativa perde-se um pouco e bate no ceguinho naquilo que é óbvio, apenas para causar zero surpresa nos momentos de grandes revelações. Gostei que explorassem o tema do Olympus XII, uma história que foi tocada aqui e acolá em jogos passados, mas agora com uma narrativa bem mais coesa, que se junta a outra história semelhante dos Royal Knights que exploramos através de missões secundárias, mesmo quando elas se tornaram num real enchimento de chouriços nas partes finais do jogo. Não gostei que houve ali coisas na história mal amanhadas, como certas personagens que serviram apenas para plot device, salvar-nos de um par de situações complicadas sem grande contexto, tal como fico de pé atrás com missões secundárias bloqueadas por detrás de um DLC pago que referenciam Cyber Sleuth (e não só), que podiam muito bem estar integradas no jogo base.
Refletindo um pouco, que mesmo não tendo destronado Digimon World 2003 como o meu favorito da saga, ficou agora muito bem posicionado no meu pódio pessoal dos favoritos da série, que certamente irei revisitar novamente! Deu-me aquilo que eu queria, combates entre os meus monstros favoritos e um bom sabor à Shin Megami Tensei, sem usar as criaturas da Atlus. E, agora que desbloqueei novos modos de dificuldade, estou bem curioso como serão as lutas contra determinados bosses que exploram mecânicas únicas no jogo, que espero que me "obriguem" a repensar um pouco na estratégia da minha equipa, ou até mesmo altera-la por completo, mais do que simplesmente fazer grind de mais uns níveis para superar o desafio.
Digimon Story: Time Stranger é um jogo feito a pensar nos fãs de longa data dos monstros digitais, que mesmo não tendo os Digimon mais recentes há um bom leque daqueles que são os favoritos de muitos. É também o jogo perfeito para os que têm curiosidade se estrearem, por ser acessível e ainda dar um cheirinho de alguns pontos familiares que acarinhamos, mesmo que não retrate o tema dos Digidestined que conhecemos das séries de animação. Um RPG tranquilo, calmo e com imensas horas de jogo pela frente, para saborearem aos poucos, ou se forem como eu, para o devorar todo de seguida sem descansar, até o completarem na totalidade!


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