Suikoden II HD Remaster Dunan Unification War


Quando me perguntam que jogos me definiram como ávido fã de videojogos, principalmente no género RPG, Suikoden II é dos jogos que imediatamente me vêm à cabeça. Conforme havia dito na análise do remaster do primeiro Suikoden, quem me conhece sabe o quão chato consigo ser a falar desta série da Konami, é algo que me corre no sangue e não consigo ignorar quando há qualquer coisa mínima a falar da série. O anúncio do remaster dos primeiros dois jogos foi das melhores maneiras de acordar, no dia que o anunciaram... mas, embora adore o primeiro capítulo, era a sua sequela que mais me entusiasmou.

Depois dos eventos do primeiro jogo, eis Suikoden II HD Remaster Dunan Unification War.

Após os eventos de Tir McDohl e a sua rebelião contra o imperador Barbarossa, unindo as forças de 108 Stars of Destiny que resultaram na sua vitória, praticamente todas as personagens partiram nas suas próprias aventuras, algo que nos é resumido de forma muito breve durante os créditos do jogo. Tal como elas, o mundo em si mudou, transformou-se e viria a ter novos eventos, novas guerras, acontecimentos que pareciam brincar com o destino. A história parecia querer-se repetir e é exatamente com essa premissa que vemos os acontecimentos de Suikoden II Remaster Dunan Unification War, geograficamente mesmo a norte da região do primeiro jogo.


Tudo começa com Riou e Jowy, os melhores amigos desde a infância que estavam no seu último dia como membros da brigada jovem de soldados de Highland, região que havia chegado a um cessar-fogo com as Cities States, um conjunto de cidades e regiões que habitam naquilo que será o mapa a percorrer neste segundo jogo. O início desta história é trágica e, em breves minutos, vemos a verdadeira face de Highland e do seu príncipe (e líder) Luca Blight, aquele que rapidamente se apresenta como o grande antagonista desta história. Vemos à nossa frente um massacre a acontecer e a única solução era fugir, marcando assim o início desta grande aventura!

Se há algo que aprecio imenso em Suikoden II é a maneira como a história é contada, reforçando muitos dos temas que encontramos no primeiro jogo, onde nem tudo é tão branco e preto, onde o bem e o mal não são assim tão lineares. Esta sequela eleva tudo isso a um grau mais elevado, através de uma história que desenvolve muito bem as suas personagens, onde o tema das 108 Stars of Destiny é ainda melhor explorado, muito além de serem apenas personagens do combate, com muitas mais mecânicas a desbloquear não só para a nossa base, como para os combates de grande escala. A evolução do jogo é mais viva, sentimos o mundo a mudar à nossa volta tal como as personagens que nos acompanham, que vão crescendo connosco face aos eventos que se vão desenrolando. O destaque das personagens é algo notório logo nas primeiras horas do jogo, com o regresso de caras conhecidas como Viktor e Flik, duas das personagens mais importantes do primeiro jogo que aqui têm ainda mais destaque, como líderes de um grupo de mercenários das City States, inimigos do nosso protagonista, que desde o início recebem-nos de braços abertos apesar das diferenças. Mesmo personagens completamente secundárias e opcionais do primeiro jogo como Apple ou Sheena regressam e têm aqui um papel mais ativo e importante.


Juntamente com Riou e Jowy temos Nanami, irmã do nosso protagonista e membro importante do trio de personagens que moldam a história de Suikoden II, onde a história acaba por se focar à volta dos 3, estes que acabam por ser mais importantes no desenrolar dos acontecimentos do que parece inicialmente. Algo que adoro ainda mais neste segundo jogo, comparando com o primeiro, é que somos novamente rebeldes e iremos combater contra as nossas origens, tal e qual como Tir McDohl fez, um tema explorado na série que, relembro, é inspirada na história dos 108 bandidos "Margem da Água". Enquanto que no primeiro jogo parece que somos rapidamente forçados a nos revoltarmos contra as nossas origens, aqui Riou leva o seu tempo, os temas são abordados sem grandes tropeções e ainda demoramos um bom bocado até desbloquear a nossa base.

É um RPG a jogar sem grandes pressas, há muito a descobrir logo nas primeiras horas, sem estarmos ansiosos por saber quando é que vamos desbloquear isto e aquilo. Este remaster veio resolver muitas coisas mal contadas, erros de tradução ou algumas gafes no jogo que foram agora consolidadas com o primeiro título. Digo que é para jogar nas calmas porque a história é, também, muito melhor explorada, com imensos eventos a acontecer consecutivamente e sem grandes entraves. Apesar de ser um jogo 2D retro com belíssimos (e expressivos) sprites, este é um jogo sangrento onde há massacres uns atrás de outros, onde personagens morrem e, mesmo se não vemos a sua morte, tudo é descrito através das personagens que fazem questão de explicar tudo o que aconteceu quando não estamos lá. Há momentos que me marcaram, outros que se tornaram memes dos quão icónicos se tornaram, fico feliz por saber que mais pessoas poderão experienciar esta narrativa agora, por surgir uma nova oportunidade com este lançamento.


Luca Blight é um vilão bárbaro, quer reinar o mundo sob uma pilha de corpos e a sua força bruta é a sua maior virtude. Do outro lado temos Riou, o novo líder das Stars of Destiny que, no meio de alguns eventos, vê-se portador da Bright Shield Rune, enquanto que Jowy recebe a Black Sword Rune, duas faces da Rune of Beginning, uma das 27 principais Runes da série e a responsável pela criação do universo, segundo as lendas. Mas... de um lado temos o terrível Luca Blight e do outro Riou, sendo visto como um herói bondoso, o que contradiz quando digo que nem tudo é preto e branco na história do jogo. Sem querer entrar em spoilers, digo apenas que Luca é apenas um dos grandes males do jogo, numa história recheada de surpresas.

A história subiu bastante a fasquia nesta sequela, no entanto, o mesmo se pode dizer a praticamente tudo o que encontramos no jogo. A sua jogabilidade é bem mais acessível, com uma melhor configuração da nossa equipa, novamente composta por 6 personagens. Há um melhor sistema de Runes com várias que dão atributos especiais aos seus portadores, algo que podemos (e devemos) explorar até porque agora temos um máximo de 3 slots para equipa Runes em cada personagem, podendo até criar combinações entre elas! Pois, tudo de resto volta, como os ataques Unite que combinam duas ou mais personagens num ataque especial, as melhorias das armas através do ferreiro. Se há uma diferença grande é que cada personagem tem 3 espaços para equipamentos especiais e itens, podendo equipa itens mágicos que dão ataques equivalentes a Runes, o que agradeço imenso porque são uma ajuda importante no início quando equipar Runes é algo raro. Os combates são também mais rápidos, com as personagens a atacar em simultâneo quando são ataques básicos, o que agiliza bastante as random battles.


Voltam também os combates corpo a corpo entre 2 personagens, mas, a minha evolução favorita é nos combates de larga escala. Enquanto que no primeiro jogo assistimos a uma luta de pedra-papel-tesoura glorificada, em Suikoden II as guerras são uma espécie de jogo de estratégia onde controlamos exércitos através de uma grelha, usando habilidades especiais e configurando cada uma das equipas de modo a explorar as melhores combinações de personagens. É aqui que definimos se uma unidade é mais vocacionada em ataques de cavalaria, magia, arqueiros, entre outros, trazendo um melhor controlo para estes combates sem ser um jogo de sorte, como muitas vezes acontecia no jogo anterior.

Outra melhoria significativa face ao primeiro jogo são os visuais, agora ainda mais embelezados neste remaster que, só não tem uma diferença tão notória porque o Suikoden II original já era belíssimo, no estilo RPG retro em duas dimensões. Sinto que podiam ter ido um pouco além aqui, principalmente nos retratos das personagens que só levaram uns retoques porque as ilustrações originais já eram muito detalhadas, mas, agora estão um pouco atrás das que foram feitas para o remaster do primeiro jogo. Mesmo os cenários do original já eram incríveis, mas agora há partes do jogo em que estão devidamente animadas e dão uma nova vida aos visuais, onde só é pena que estes momentos sejam demasiado pontuais e nada frequentes em todo o jogo. Ao nível de banda sonora este é um jogo belíssimo, com músicas icónicas que ainda hoje me ficam no ouvido, como a de combate contra um certo vilão que marca novamente a sua presença.


Acima de tudo, Suikoden II foi na altura um jogo muito nostálgico para mim, algo estranho, pois era a primeira vez que o jogava e já sentia esse sentimento. Isto é o resultado de ver tantos rostos familiares do jogo anterior a regressarem, personagens que falam dos eventos do primeiro jogo ou outras que eram de locais referidos já nesse jogo. Há uma ligação muito forte entre os dois jogos, daí dizer que devia ser proibido jogar o segundo jogo sem ter jogado o primeiro, ao que recomendo (muito) terminarem-no, criarem o save de conclusão e só aí começar o segundo jogo, com os dados do primeiro carregados. Não me faz sentido ver personagens que partilharam vários acontecimentos tratarem-se como desconhecidos, algo que acontece se não carregarem estes dados e, só tenho pena, que a Konami se tenha ficado com um simples remaster fiel ao jogo original, sem aprofundar melhor os encontros entre personagens que já lutaram lado a lado.

Ainda assim, Suikoden II é um jogo que considero perfeito, mesmo reconhecendo as várias lacunas dele e problemas que ainda persistem, como as 108 Stars of Destiny que se juntam a nós sem qualquer aviso ou a típica mensagem que se juntaram. O remaster veio corrigir vários problemas, no entanto, continuamos com o problema do inventário que é limitado e pode causar alguns transtornos na fase inicial do jogo... Esta atualização veio também corrigir alguns bugs ou exploits do jogo original, que nos faziam quebrar por completo o jogo logo nas primeiras horas, algo que admito ter pena embora saiba perfeitamente que não poderia ter sido feito de outra forma. Por outro lado, vieram retirar uma restrição de tempo absurda do jogo original que, para ver toda a história de uma personagem tínhamos de fazer uma espécie de speed-run que não fazia sentido algo. Agora podemos levar o jogo ao nosso ritmo, sem pressas ou sacrifícios, que somos recompensados.


Ao jogar este remaster foram muitas, mas muitas as memórias que tenho associadas ao original, jogo que devo ter jogado mais vezes do que aquelas que deveria admitir. Normal, é um jogo que me marcou imenso e que foi incrível jogar de novo, agora na Nintendo Switch, versão onde se mantém os estranhos sacrifícios de performance num jogo praticamente 2D, embora nada aqui estrague a experiência do jogo. Fico curioso com a versão deste remaster para a Nintendo Switch 2, ou se haverá algum update possível para quem o tem na Nintendo Switch, ondo acredito que a nova versão será para a colocar a par das restantes.

Tal como o primeiro, o regresso à história de Riou e dos acontecimentos na região de Dunan foi tão memorável como a primeira vez que o joguei, mesmo que saiba praticamente tudo de cor também aqui, num jogo que é mais complicado lembrar-me de tudo porque há também muito mais a descobrir. É uma aventura mais longa quando comparado com o primeiro, chega ao número de horas habituais dos RPGs dos finais dos anos 90, embora agora seja mais facilitado por podermos apressar a velocidade em combate cuja decisão estranha de acelerar a música é agora corrigida.


Não sei quantas mais vezes irei repetir a frase "joguem Suikoden II", até porque quando o digo peço também para jogarem o primeiro, pois são dois títulos que me é impossível separar, como se fossem dois atos de uma grandiosa história, onde agora têm aqui um conjunto jeitoso para o fazerem. Até porque muitas histórias que surgiram no primeiro jogo, têm a devida evolução na sequela que, como fã de ambos os jogos, delicio-me a assistir. Sinto que este remaster podia ir um pouco além de ser uma recriação o mais fiel possível ao primeiro jogo, gostava que abordassem temas que surgiram nos jogos que se seguiram, nem que fossem de leve, até porque há ligações entre este jogo com Suikoden III e Suikoden V.

Terminando, Suikoden HD Remaster I&II Gate Rune & Dunan Unification Wars é um excelente ponto de partida se quiserem aventurar-se no mundo dos RPGs, um bundle com dois grandiosos jogos que não vos vão roubar centenas de horas, algo que é um receio frequente quando tento introduzir o género a alguém. Espero, também, que este seja um novo ponto de partida para a Konami, que ao fim destes anos todos se parece ter lembrado desta icónica série e que, honestamente, espero ver os restantes jogos da série receberem também um muito merecido remaster!

Nota: Análise efetuada com base no jogo para a Nintendo Switch, adquirido pelo autor do artigo.

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