When The Past Was Around

Artigo por Jorge Salgado.

Por vezes, chegam-nos às mãos jogos que desconhecíamos por completo que acabam por se tornar obras-primas maravilhosas e arrebatadoras. É sempre curioso quando isso acontece. E When The Past Was Around, uma aventura point-and-click recheada de puzzles criada pelo estúdio Mojiken, insere-se claramente nesta categoria.

O jogo segue Eda, uma jovem violinista, numa montanha russa emocional – a alegria, a tristeza, o luto, a depressão, o amor, a música, a autoconfiança são alguns dos temas mais presentes na narrativa que, apesar de serem contados de uma forma metafórica, quase anacrónica, não deixam de ter um gigantesco peso e mostram como o passado está sempre presente dentro de nós. 

Sendo um point-and-click, é necessário controlar um pequeno cursor de maneira a investigar cada recanto e os objetos dos diferentes cenários do jogo e, desta forma, descobrir os itens que ajudam a solucionar os diversos puzzles – de uma forma geral, todos eles bastante simples e intuitivos, havendo um ou outro que poderá obrigar a puxar um pouco mais pela cabeça e, por vezes, até regressar a áreas prévias. É preciso abrir caixas com x-atos, lavar roupas para descobrir mensagens secretas, contar o número de objetos presentes no ecrã para abrir cofres ou colocar um código num aloquete. Apesar dos puzzles se tornarem exponencialmente mais difíceis à medida que vamos progredindo pelo jogo, a solução estará sempre por perto, algures escondida nos ambientes, cabendo ao jogador fazer as associações certas e chegar ao momento “EUREKA”!

When The Past Was Around é uma verdadeira ameaça tripla: para além de ser visualmente apelativo, a música é absolutamente excecional e, graças ao HD Rumble dos Joy-Cons da Switch, o jogo estimula simultaneamente a visão, a audição e o tato. Assim que ligamos o jogo, os gráficos saltarão imediatamente à vista: desenhados à mão, quase como se de uma BD animada se tratasse, é provavelmente a característica mais distinta do jogo. Cenários, personagens, todos os itens presentes no jogo, desde o mais pequeno ao maior, mereceram a mais meticulosa das atenções por parte do estúdio: assim sendo, cada frame do jogo é, basicamente, uma peça de arte digna de museu.

Mas o som não fica nada atrás. A banda sonora é imponente, melancólica, rica, numa mistura de instrumentos fantástica, indo desde o ambiental, passando pelo dramático até chegar ao melancólico, adequando-se sempre à cena que está, de momento, a decorrer no ecrã. Para além disso, cada pequeno utensílio – um candeeiro, um copo, um vaso – possui um som diferente quando interagimos com eles. São estes pequenos detalhes que realmente tornam este mundo vivo, real, uma experiência sensorial.

Este festim de sensações é ainda mais exacerbado pelo rumble dos Joy-Con e é, na minha opinião, uma das melhores implementações da tecnologia. Não é apenas uma “gimmick” mas sim uma forma de imergir ainda mais o jogador na história – quando uma porta é aberta, quando se toca num objeto, quando há algum momento mais emblemático na história, os comandos vibram. E sempre de forma diferente. Sempre da forma adequada. Estes são os tipos de coisas difíceis de explicar, é mesmo preciso experimentar.

É bom ver os títulos indies a ganhar cada vez mais relevância, muitos deles de tal maneira exemplares que conseguem até entrar no mundo do mainstream e competir com títulos AAA de grande peso. When The Past Was Around é pura magia, uma experiência transcendente que fica contigo e mexe o coração. É sem dúvida um jogo muito pequenino, com pouco mais de uma hora de duração, sendo possível completá-lo de uma só assentada. Seria bom que durasse um pouquinho mais, sendo mesmo o único ponto menos positivo que lhe consigo atribuir. Tirando esse pequeno detalhe, é uma obra-prima que mostra como os videojogos são, de facto, uma arte. 

Nota: Análise efetuada com base no código do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Chorus Worldwide.

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