Wingspan

Artigo por João Efigénia

A onda de jogos de tabuleiro convertidos em versões digitais, à boleia de uma pandemia que dificulta os encontros entre amigos e familiares, não pára, nem dá sinais de abrandar tão cedo.

21 meses após o lançamento do jogo original, Wingspan chega pela primeira vez ao mundo digital, pelas mãos da Monster Couch. Mantendo a aposta no design original, e também as fantásticas ilustrações, conseguirá recriar a sensação de calma e serenidade, misturada com o pensamento racional, que o original transmite com tanta confiança? 

Comecemos pelas regras: em nada se alteram face ao original (como seria de esperar). Os jogadores jogam por turnos e tentam atrair diferentes pássaros (mais de 170 diferentes, todos reais) para os seus habitats. Alguns pássaros só habitam as florestas, outros os rios, e ainda uns quantos que não são esquisitos na hora de fazer o ninho. Para isso, devem utilizar diferentes comidas, que aqui servem como recursos para obter as aves, para pagar os custos únicos de cada ave. Umas pedem peixe, outras pedem grão, entre 5 comidas diferentes. À medida que os habitats vão sendo preenchidos, determinadas ações específicas de cada um vão ficando cada vez mais eficientes: o habitat da floresta, por exemplo, com apenas uma ave, permite ao jogador ir buscar uma unidade de comida disponível. Com 3 aves, já permite ir buscar duas unidades. Outras ações incluem colocar ovos nos ninhos das aves e ir buscar mais aves para acrescentar à sua mão. 

De notar que cada carta de ave tem também uma ação associada e exclusiva a essa mesma ave. Estas são ativadas de 3 formas diferentes: quando a ave é colocada no habitat, quando o jogador faz alguma das 3 ações básicas de habitat, ou quando um jogador adversário cumpre um requisito em específico. E uma vez que é possível ativar até 5 cartas num habitat, o jogador consegue criar uma espécie de mecanismo em que despoleta todas as ações de cartas de aves de um determinado habitat num só turno. O engine building é extremamente importante se quisermos ser um bom entusiasta de aves. Para facilitar a visão, é possível visualizar todos os nossos habitats em simultâneo com o premir de um analógico, o que ajuda à elaboração dos nossos mecanismos. 

O jogo conclui ao fim da 4ª ronda, sendo a 1ª composta por 8 turnos, e cada uma subsequente com um turno a menos, ficando a última ronda com apenas 5 turnos. No final, contam-se os pontos de cada ave do nosso habitat, assim como pontos pelo número de ovos, comida e cartas anexadas a cada ave, e também os pontos de fim de ronda e de cartas bónus. 

Os jogadores já familiarizados com o jogo original sentir-se-ão à vontade com a jogabilidade. Mesmo assim, aconselho vivamente a que façam o tutorial para aprenderem a navegar no tabuleiro. Apesar de explícito, a visualização e a navegação dos menus podem ser avassaladores a início: todas as teclas e analógicos são utilizados, e muitas vezes damos por nós a querer selecionar uma determinada opção e não percebemos que acidentalmente ativámos a vista das cartas da nossa mão. Pessoalmente, achei mais simples jogar através do ecrã de toque da consola, uma vez que o jogo funciona essencialmente com um cursor que navega entre as diferentes opções disponíveis. Em caso de dúvida, há um botão de “?” no canto superior esquerdo, que coloca legendas em todos os botões possíveis de selecionar naquele momento, o que ajuda à navegação inicial. 

E já que falamos em funcionalidade de jogo, este suporta até 5 jogadores em modo local e online. É possível fazer sessões privadas ou em salas abertas, bastando para isso ter a subscrição “Nintendo Online”. Em relação ao multijogador local, apenas um pormenor a apontar: o jogo suporta apenas um comando (ou 2 joy-cons para um jogador). Uma vez que é um jogo que ocorre por turnos, não afeta a jogabilidade em si. No entanto, é necessário passar o comando para o jogador seguinte quando for a sua vez. A meu ver, nada que um update futuro não consiga resolver. 

O Automa, modo de jogo a Solo que veio incluída com o jogo original, também marca presença, com o seu conjunto de regras específicas. É uma boa contrapartida a uma sessão de um jogador contra 4 jogadores AI. 

O jogador tem também a possibilidade de arquivar uma sessão de jogo, podendo revisitar os habitats de uma sessão que queira guardar para revisitar mais tarde e explorar diferentes estratégias. 

Ao criar uma sessão de jogo nova, seja local ou online, o jogador pode determinar quantos jogadores humanos ou AI participam, e até determinar a dificuldade individual de cada AI, assim como os padrões de fundo dos habitats. 

Este último ponto leva-me ao design e apresentação do jogo: as mais de 170 aves não só são importadas diretamente do jogo de tabuleiro, como são acompanhadas de clipes de som que reproduzem os piares e chilreares das diferentes espécies, e também de pequenas narrações de factos verídicos, (e alguns bem curiosos) sobre cada uma. Como referi acima, uma novidade são os diferentes panos de fundo que os jogadores podem selecionar para os seus habitats, assim como um avatar para o seu entusiasta, algo que traz alguma customização às sessões. Aliado a todos estes fatores está uma banda sonora deliciosa, composta principalmente por tons suaves e calmantes: afinal, é um jogo de estratégia relaxante. 

Existe também uma espécie de aviário, que é uma compilação de todas as cartas disponíveis no jogo, com ilustrações, sons, factos e até um mapa-mundo com os locais onde as aves se encontram. Uma dica: os entusiastas do jogo original poderão ver nos créditos um conjunto de ilustrações de cartas criadas especificamente para este lançamento, com diferentes aves assim um pouco “humanizadas”: segurando microfones, a utilizar um computador portátil ou até mesmo a jogar a versão física do jogo. 

O jogo está disponível em 11 línguas diferentes, sendo uma delas o Português do Brasil, e as vozes em 3. Praticamente todos os elementos de apresentação do jogo são customizáveis, desde o volume do áudio dos diferentes elementos às próprias animações, e a frequência com que as curiosidades são ditas durante o jogo. 

Após jogar várias sessões e experimentar os diferentes modos online e offline, Wingspan revela ser uma boa adaptação do jogo de tabuleiro original. Quando dei por mim, estava embrenhado na minha 4ª ou 5ª partida contra as AI, e a descobrir cartas novas a cada sessão. Tem o seu quê de longevidade, e que esperemos que seja ainda mais ampliada com uma potencial expansão, à semelhança do jogo de tabuleiro.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Monster Couch

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