The Walking Dead: The Final Season - Episode 3


Análise por André Santos // Parceria Future Behind

“Broken Toys”

Em setembro de 2018 chegava-nos a triste notícia que era o fim da história para a Telltale, uma novidade que deixou muitos de queixo caído e apanhou o universo gaming de surpresa e que viria a ser ainda mais real com a entrada do pedido de falência da produtora em novembro de 2019. Com isto, títulos como The Wolf Among Us: Temporada 2, Game of Thrones: Temporada 2 ou mesmo um projecto ainda sem nome sobre o universo de Stranger Things chegavam ao fim bem antes do que seria de esperar… embora os fãs ainda tenham alguma esperança que estes jogos vejam a luz do dia, o mais provável é que isso não aconteça.

Outra série da Telltale que estava em desenvolvimento, e talvez uma das séries que ajudou a trazer o estúdio para ribalta, era The Walking Dead. A meio da última temporada e com os dois episódios finais já anunciados, o futuro parecia tão negro quanto o dos títulos que já vos falei, mas os fãs da série puderam respirar de alívio quando Robert Kirkman, criador da banda-desenhada The Walking Dead, anunciou durante a Comic Con de Nova Iorque que a sua própria empresa, a Skybound Entertainment (através da Skybound Games), tinha chegado a acordo com a Telltale para continuar a produção dos últimos dois episódios do drama interactivo. Contratando, para o efeito, a mesma equipa de desenvolvimento do jogo que trabalhava na Telltale.

Agora, quatro meses depois das notícias que abalaram a indústria gaming e que deixaram centenas de pessoas a procurar um novo estúdio que as deixasse continuar a fazer a sua arte, chega-nos o terceiro episódio da última temporada de The Walking Dead e é anunciado o quarto e último capítulo do jogo antes produzido pela Telltale. Sendo a equipa de produção a mesma, não esperava encontrar muitas diferenças dos episódios anteriores para este terceiro. A verdade é que não as encontrei, a arte do jogo continua maravilhosa e aquele sentimento de “o que é que vai acontecer a seguir?” continua presente no jogo onde acabamos sempre por nos questionar: “E se eu tivesse escolhido antes aquele outro caminho?”.


A primeira grande diferença, aquela que me fez perceber que a Telltale já fazia parte do passado foi quando, nos créditos de abertura, fui presenteado com um “Skybound Games apresenta” em vez de “Telltale apresenta”... aqui percebi que o estúdio que ajudou a mudar a forma como olhamos para os videojogos já não nos vai encantar com os seus contos.

Peço desculpa pela divagação, mas torna-se complicado falar de Walking Dead sem falar da Telltale e do seu fim… agora já chega. Vou falar do que me trouxe aqui, The Walking Dead - Temporada Final, Episódio 3.

Se nos primeiros dois episódios desta temporada tínhamos feito novos amigos, conhecido estranhos que andam entre os walkers, encontrado um novo lar, voltado a encontrar velhos conhecidos e por fim perdido alguns desses amigos, neste terceiro episódio é altura de recuperar os amigos que nos levaram… para isso vamos precisar da ajuda do principal inimigo e perceber que afinal os Walkers são um pouco mais que criaturas guidas pela fome. Ou então não, porque se essa foi a minha decisão a vossa pode ser diferente não é verdade?

Para quem nunca jogou Walking Dead, o título agora produzido pela Skybound Games é um verdadeiro drama interactivo, onde cada uma das nossas decisões vai influenciar o nosso futuro e também a nossa relação bem como o destino daqueles que nos rodeiam. É um daqueles jogos que podem jogar duas ou três vezes sem se sentirem cansados, pois muito provavelmente vão encontrar diferentes ramos de uma história muito bem contada. O terceiro episódio desta última temporada não desilude e apresenta-se exactamente da mesma forma, foram cerca de duas horas em que fui transportado de tal forma para dentro do universo de Walking Dead que, no fim, pareceu meia hora. Sem qualquer tipo de cansaço, estava mais que pronto para começar o quarto episódio, é uma pena estar disponível apenas em março. Vou ter que esperar.


Até aqui nada aparentava que a empresa responsável pelo jogo fosse outra, os movimentos das personagens continuam bastante naturais e os comandos continuam a responder muito bem, tornando a experiência de jogo ainda melhor. As cutscenes do jogo continuam maravilhosas, com uma arte muito própria e com um nível de detalhe fantástico, e a história… essa continua a ser um dos pontos mais fortes desta série criada pela Telltale. Melhor (na minha humilde opinião) que a história da série televisiva que todos conhecemos, mas os dramas interativos têm sempre um charme diferente, concordam?

Mas nem tudo pode ser perfeito e a verdade é que do segundo para o terceiro ato deste drama certos aspectos tiveram um pequeno declínio, queda essa que pode ser um pouco enervante. Joguei todo o Walking Dead com as vozes originais, em Inglês, e legendas em Português. Acontece que as legendas em Português sao na verdade em Português do Brasil. Nada contra, mas existem certas expressões que não fazem parte do nosso vocabulário, o que pode deixar as coisas um pouco mais confusas caso os conhecimentos de Inglês sejam baixos. Ainda sobre as legendas, é preciso referir que a qualidade das mesmas baixou do segundo para o terceiro episódio e, por algum motivo que me é desconhecido, existem segmentos em que as legendas apresentadas estão em frances... falta de cuidado no QA ou um erro que pode ser atualizado no futuro (caso exista equipa para o fazer).

Algo que me tem vindo a incomodar desde o incio da série é o facto de, sempre que a nossa personagem morrer, termos que rever a cutscene anterior ao momento da morte. Isto deve-se ao facto do autosave ser automaticamente antes de cada cutscene e não depois, algo que faria muito mais sentido. Estes pontos na história são maravilhosos, mas chega-me perfeitamente vê-los uma única vez.


Com a aproximação do final do episódio, o suspense ia ficando cada vez mais alto, entrar num local fechado sem sermos vistos mas mesmo assim acabamos apanhados… dei por mim a entrar na cabeça da minha personagem e pensar, com ela, se vale pena arriscar uma vida para salvar outra. Arrisquei e segui na minha missão de salvar os amigos que ainda podiam ser salvos, estou quase a enfrentar a mente por detrás dos raptos quando de repente puf… tudo parou. A conversa entre personagens continuava, cada vez mais distante mas eu não conseguia mexer a minha personagem de forma a continuar a narrativa e finalmente enfrentar o inimigo. Reiniciei o jogo uma vez e nada, depois da cutscene lá estava a minha personagem… imóvel enquanto a história ia continuando até onde podia sem mim. Uma segunda tentativa: reiniciei The Walking Dead bem como a aplicação da Epic Games e aí sim, depois da cutscene a minha personagem lá se mexeu, a história continuou e enfrentei o inimigo… Agora resta-me esperar pelo quarto e último episódio da série para saber se salvei os meus amigos, o cliffhanger foi muito bem construído para nos deixar à espera do que está para vir.

O episódio três de The Walking Dead: Temporada Final está de facto muito bom, mas não conseguiu ultrapassar toda a narrativa sem pequenos erros aqui e ali, que acabaram por me estragar a experiência geral com o jogo. Não se tratam de deal breakers mas acabam por ser incomodativos, no entanto é preciso pensar que é melhor ter um terceiro e quarto episódio com pequenos erros do que não ter nada… e essa realidade esteve muito perto de acontecer.

Por fim, quero apenas deixar a minha opinião sobre a plataforma a utilizar, experimentei The Walking Dead, o ano passado, numa PlayStation 4 Pro e agora fiz esta review num Lenovo Legion Y720. Penso que a forma como o jogo está construída, a sua jogabilidade, assenta que nem uma luva no computador. Não porque corre melhor ou porque a qualidade do grafismo é melhor mas pelo facto de ser jogado com rato e teclado em vez de um comando de consola, os movimentos das mãos são mais naturais e no meu caso isso ajudou a mudar a minha opinião sobre este título, tornando a minha tarefa de interagir com o drama muito mais fácil.


Quem ainda não experimentou The Walking Dead que o faça, comecem na primeira temporada e continuem o caminho até esta temporada final, pois não se vão arrepender. Para além de terem a possibilidade de ficar a conhecer esta história maravilhosa, terão ainda a possibilidade de celebrar a coragem de Robert Kirkman ao pegar nesta série (e nas mentes por detrás dela) para a finalizar e também, mais importante ainda, celebrar o trabalho de todas as pessoas que viram as suas vidas quase que interrompidas com o fim de linha para a Telltale.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para o PC via Epic Store, gentilmente cedido pela Ecoplay.

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