Vane


De vez em quando, surge um título que desafia as convenções dos videojogos, tentando passar a sua mensagem através da experiência e não com base em qualquer texto ou diálogo. Vane, um exclusivo para a PlayStation 4, é um desses títulos, colocando-nos na pele de uma ave ou criança, deixando à imaginação do jogador a sua interpretação do ambiente que o rodeia.


Tudo começa na pele de uma criança, no meio de uma tempestade, rejeitada pelos guardiões que lhe fecham a porta dos edifícios, recusando proteção. Uma breve introdução, jogável, que precede a abertura do primeiro de 4 actos principais do jogo.


Uma ave no meio de um vasto e misterioso deserto. O que houve aqui? O que é suposto fazer? O jogador é deixado num mundo aberto sem qualquer instrução, compete-lhe explorar e descobrir com o que pode interagir. A exploração do deserto testará os limites de paciência do jogador, assim como a sua curiosidade, e é aqui que o jogo mostra o seu melhor lado, pois não há uma resposta certa. Caminhos diferentes poderão levar, de forma distinta, ao mesmo resultado, que será avançar para o segundo acto do jogo.

Pelo meio, a interação com objetos e estruturas poderá produzir resultados surpreendentes, ou simplesmente apresentar belos cenários para apreciar. Uma das grandes mecânicas do jogo será a transformação entre ave e criança, com uma restrição muito importante ao nível do game design: a ave só poderá ficar em criança em poços de uma dourada luz transformadora, enquanto que a criança poderá ficar em ave com um simples salto em profundidade.

Simples mecânicas para um jogo que depressa se apresenta complexo. A chegada ao segundo acto do jogo, a caverna, revela melhor aquilo em que consistirá o resto da experiência, puzzles ambientais que irão necessitar das duas formas da personagem e uma boa exploração e compreensão dos cenários. Como em tudo neste jogo, algo que pede paciência e tempo para apreciar.


Para um título que é suposto apreciar calmamente, é uma pena que os pontos de gravação sejam apenas no início de cada um dos quatro actos que compõem a aventura. Deixar um puzzle a meio será impossível, mas há sempre o modo de descanso da consola para compensar.

Artisticamente, o jogo tomou uma opção interessantíssima ao apresentar os gráficos de forma extrememente poligonal. É realmente bonito de se ver em movimento mas, infelizmente, há também demasiados glitches além dos intencionais. Sim, uma parede cujos triângulos parecem querer saltar fora é fácil de se perceber como opção estética, mas já o chão desaparecer por completo é claramente um erro. O facto dos controlos de câmara não serem os melhores faz com que muitas vezes a câmara vá parar a locais onde não era suposto, quebrando por completo a imersão que o jogo tenta criar.

Infelizmente, a própria jogabilidade poderia ter sido bastante melhor. Os controlos da ave nem sempre são fáceis, especialmente quando se pretende fazê-la voar até um local específico. Enquanto criança, os controlos são melhores, mas até aí poderiam ter sido mais refinados. Sendo um título indie, do estúdio japonês Friend & Foe, é compreensível que não haja orçamento para tudo, mas não deixa de ser uma pena que o jogo não tenha ficado um pouco mais no forno.


Vane teria ganho com mais algum tempo de desenvolvimento e atenção a problemas bastante evidentes de gráficos e controlos. A complexidade dos puzzles, assim como a exploração e curiosidade pedidas ao jogador, são fatores bastante interessantes, embora não seja comparável a, por exemplo, um jogo como Journey. Mesmo assim, para quem apreciar o género e perdoar as suas falhas, há aqui uma boa experiência para se ter na PlayStation 4.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Plan of Attack.

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