Resident Evil 2


Foram precisos 20 anos para surgir uma notícia que podia muito bem dividir os jogadores. O anúncio do remake de Resident Evil 2 criou uma mistura de sentimentos em mim. Não sabia se havia de estar feliz ou extremamente irritado mas, após algum tempo, pensei para mim: porque não? O receio era que arruinasse um dos jogos do meu top 5 de favoritos de sempre e, como muitos fãs da série, o meu Resident Evil favorito.

Resident Evil 2 teve a sua estreia em 1998 na primeira PlayStation e, desde então, ainda contou com múltiplas adaptações a outros sistemas. Foi um sucesso puro, e a Capcom espremeu o máximo possível para que o jogo estivesse na boca de toda a gente. Agora, chegou o remake à Playstation 4, Xbox One e Microsoft Windows PC. Estará à altura da expectativa?

Em RE2 joga-se com duas personagens, cada uma com a sua campanha: o agente novato Leon Scott Kennedy e Claire Redfield (irmã de um dos protagonistas do primeiro jogo, Chris Redfield). Ambos chegam a Racoon City com objetivos diferentes, enquanto Leon tem um objetivo que não condiz com o do jogo original, Claire manteve neste remake o objetivo de encontrar o irmão Chris. O interessante é que apesar de ambos seguirem os primeiros passos da mesma forma, ambos têm diálogos diferentes. E se com Leon nos deparamo com a sexy Ada Wong, com Claire iremos estar na companhia da pequenina e adorável Sherry (menina que surge já adulta em Resident Evil 6).

Após a chegada de ambos ao centro da cidade, o caminho é curto até ao Departamento de Polícia de Racoon, no entanto mais adiante os jogadores vão explorar outras partes da cidade de forma passageira porque grande parte do jogo é de facto passada dentro da esquadra, nos esgotos e por fim no laboratório.


As duas campanhas começam exatamente no mesmo local, a estação de gasolina, até a sequência inicial é a mesma, a história de ambas está completamente interligada. É curioso, as diferenças em relação ao jogo original são tantas e ao mesmo tempo tão poucas. Se por um lado a grande parte dos cenários são os mesmos, o facto de estar em 3D e de alterar a forma como a história é narrada torna a experiência completamente nova, o que faz deste um remake realmente impressionante. A maioria dos vilões, monstros e até aliados estão de regresso, mas agora com um grafismo absolutamente soberbo.

Os puzzles são muito ligados aos originais, ou seja, os objetos são quase todos os mesmos usados no original, mas com diferenças na forma como os solucionar. Por exemplo, se um dos puzzles era abrir uma porta com peças de xadrez colocadas num painel, neste remake é necessário colocar estas mesmas peças, mas de forma totalmente diferente. Ao mesmo tempo que reaproveitam os objetos e ideias, conseguem sempre trazer algo novo com este jogo. Existem também puzzles específicos e completamente novos, tanto para Ada Wong como Sherry, uma surpresa agradável.

Quem pensar que vai ter a vida facilitada neste RE2, um remake dos tempos modernos, desengane-se. Mesmo jogando ambas as campanhas no modo Standard (Normal), posso dizer que tive uma boa dificuldade. O melhor é evitar os zombies sempre que possível, nunca desperdiçar balas a não ser que não haja outra opção. É inevitável ser mordido por um zombie caso este esteja por perto, a não ser que se tenha em posse uma faca ou granada, flash ou explosiva. Estes zombies não facilitam nem vão contra as paredes como no jogo clássico, assim que encontrem o jogador, farão de tudo por uma mordidela suculenta. Eles abrem portas aos empurrões e o jogador terá de estar em modo alerta constante, pois as únicas portas que eles são incapazes de abrir são as salas de gravação típicas da série, onde aqui até a famosa música começa a dar numa versão remisturada assim que o jogador acenda a luz de cada um destes quartos/salas. Na dificuldade standard, é possível gravar sem o famoso Ink Ribbon, mas nos dois modos acima será obrigatório obter um para salvar o jogo.


Falando um pouco mais destes mortos vivos, o grafismo é surreal, sinceramente, de todos os zombies que vi em videojogos, estes são os mais realistas de sempre e para finalizar, eles não vão ao chão com 1 ou 2 tiros na cabeça, a melhor forma de os “paralisar” é disparar para as pernas para que eles fiquem no chão a arrastar pois estes zombies são uma verdadeira dor de cabeça, tenham medo, tenham muito medo…

Mas não é só de zombies que isto se trata, aliás, o jogo no Japão chama-se Biohazard, por isso mesmo: armas biológicas. Existem mutantes, monstros, tudo aquilo que era um ser orgânico foi infetado e a culpa foi das ratazanas e baratas que infetaram tudo e todos, trazendo o caos a toda a cidade Racoon City.

Com isto, é necessário mencionar os perigosos lickers, e quem jogou o original sabe a que é que me refiro. Estes monstros com garras afiadas são ainda mais problemáticos agora, é difícil de esquivar porque tudo está em 3D, quando antes era possível o jogador aproveitar-se dos cenários pré-renderizados. Agora imagine-se duas destas criaturas horrendas em simultâneo. Já os dobermann que vagueiam no parque de estacionamento da polícia não são uma dor de cabeça grande, mas estão em um número muito superior quando comparado com o original.


Os zombies ou armas biológicas criadas pelo Vírus G não são de todo o mais ameaçador que a responsável empresa Umbrella criou. A maior e mais feroz arma é nada mais nada menos que Mr.X, aka Tyrant. Este “menino” em RE2 é equivalente ao que Nemesis foi em RE3, ou pior ainda! Quem me conhece, sabe que eu delirava com ele no jogo original e como ele era careca, tinha a mania de o tratar por esse nome. “Olha o careca!”, dizia eu com alguns palavrões pelo meio. Este sujeito está terrível agora, por várias razões. Assim que este faz a sua aparição no jogo, Mr.X persegue o jogador e estará sempre em volta dele. Algum barulho, como disparar de caçadeira ou qualquer outro movimento mais brusco, e Mr.X dirigir-se-á ao local onde o jogador se encontra para o exterminar. Caso ele esteja por perto, vai ser sempre possível escutar os passos deste gigante e, mal ponha a vista em cima do jogador, caminha em passos largos em direção a ele. O melhor é fugir.

Para tantos zombies, monstros e criaturas que invadiram Racoon City, o jogador terá à disposição um arsenal de armas para os derrotar. Leon e Claire contam com armas diferentes, mas ambos com 4 armas de fogo. Por exemplo, Leon tem uma caçadeira no seu arsenal, Claire conta com um lança-rockets. Ambos têm facas e granadas, mas estas são limitadas - sim, as próprias facas, ao contrário dos restantes jogos da série até hoje.


Com tanta coisa melhorada neste remake, é pena que a banda sonora não tenha o mesmo destaque. Em geral, as músicas são menos memoráveis do que as clássicas do jogo original, tirando temas como a aproximação do Mr.X ou das salas de gravação. Neste jogo, há mais tempo sem música de fundo, para ajudar ao ambiente aterrador. Pena as músicas não serem tão viciantes, mas não se pode pedir tudo num remake excelente como este.

Depois é o Racoon que existe em várias secções de jogo, um item colecionável em que se o jogador obtiver todos, desbloqueia algo de especial, no entanto no que diz a vestuário simples tal como os antigos Costume's, após o término do jogo, qualquer jogador obterá esses fatos, o resto apenas em forma de DLC. De qualquer das formas, aguardem algumas surpresas e momentos de nostalgia com o puro clássico de 1998.


Concluindo, com cenas icónicas como a do helicóptero em chamas, a perseguição constante do Mr.X, o crocodilo mutante e mesmo a parte final foram extremamente bem conseguidas e esboça um sorriso a qualquer fã. As diferenças são muitas e ao mesmo tempo tão poucas, a jogabilidade está excelente, o grafismo é de bater palmas, o voice acting desta versão está no topo. A essência da série transborda por todos os poros! Sinceramente, eu tinha as expectativas altas, mas isto supera aquilo com que sonhava após ter experimentado a demo em eventos.

E aqui fica uma questão importante. Numa altura onde o conceito de "remaster" facilita a adaptação de todo o tipo de jogos, este remake servirá de exemplo para qualquer companhia. Remakes assim, tragam por favor, queremos mais! Shinji Mikami estará certamente feliz por ver a sua obra com 20 anos a brilhar novamente num remake esplêndido.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Ecoplay.

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