Final Fantasy XVI
Olho para trás e vejo uma série recheada de clássicos intemporais, mas com todo um grupo de “recentes” lançamentos atribulados como o controverso Final Fantasy XV que ficou aquém das expectativas, o lançamento terrível de Final Fantasy XIV que renasceu dos escombros, Final Fantasy XIII muito criticado na altura ou até mesmo Final Fantasy XII, que conseguiu dividir os fãs apesar de ser bem recebido. Mas algo que série nos habituou é apostar sempre em trazer algo de novo, de diferente, mesmo o Active Time Battle que é visto como um elemento inconfundível surgiu apenas no quarto jogo da série, com uma barra de progresso a ser acrescentada apenas no quinto jogo. O mesmo acontece agora com Final Fantasy XVI, uma nova aposta, diferente e que explora novos caminhos, numa série onde nunca tenho espaço para ter saudades dos clássicos pois a Square Enix acaba sempre por me dar motivos para voltar a eles, seja através de Pixel Remasters ou com Final Fantasy VII Remake, que funciona como uma série em si.
Desde então comecei uma jornada pessoal onde tentei fugir a trailers, notícias, informações diversas e digo, não foi nada fácil. Quis começar Final Fantasy XVI sabendo o mínimo possível, ser surpreendido pelo jogo em si tal como acontecia quando jogava Final Fantasy do VII ao XII, viagens inesquecíveis que ainda hoje recordo. Quando comprei a PlayStation 5, Final Fantasy XVI foi um dos principais motivos para ter a consola e, chegando agora o seu lançamento e à semelhança do que fiz com todos os restantes jogos da série isolei-me, “fechei” a internet o máximo que podia, lancei-me para o mundo de Valisthea e dei início à aventura de Clive Rosfield. E admito: valeu muito a pena o ter feito e partir para o jogo às cegas.
É no primeiro grande combate entre Eikons, os summons de Valisthea, que fiquei boquiaberto! Todo o combate entre os dois gigantes Eikons, e sequência que se seguiu, é um incrível espetáculo audio-visual e, muito do sorriso que tinha chapado na cara foi graças à fenomenal composição de Masayoshi Soken, cujas músicas são todas elas memoráveis. Ao pensar no que tinha acabado de ver, senti-me a viajar no tempo para quando assistia a momentos como o ataque de Diamond Weapon a Midgar, ou o combate entre Alexander e Bahamut sobre Alexandria, nos seus respectivos jogos. Agora tudo acompanhado, pelo que parecia ser, referências a Neon Genesis Evangelion e Dragon Ball Z, que não consigo deixar de ver. Apenas em duas horas o jogo já prometia, respondia às minhas expectativas e estava mais que pronto para a aventura que se seguia.
E que aventura estava à minha espera! Não querendo entrar muito em detalhe sobre a história, ela está muitíssima bem acompanhada por um grupo de personagens principais que constroem a história. Clive é um protagonista que me parecia muito sem sal no arranque do jogo, mas rapidamente cresce e evolui lindamente, tornando-se num grande herói capaz de levar todo o jogo às suas costas. Acompanhando-o temos personagens como Jill, Cid e Torgal, protagonistas que me marcaram por diversos motivos e destacam-se no meio da multidão de personagens principais, secundárias e antagonistas. Também há aqueles que me esquecia totalmente da sua existência, até me aparecerem numa missão, ou inimigos que não me cativaram, mas, ainda assim, gostei deles. Talvez aquele que me desiludiu mais foi mesmo… o principal antagonista. Não digo quem é, mas digo apenas que é desinteressante, recheado de clichés “roubados” a outros jogos, ainda por cima alguns mais ou menos recentes.
Voltando à história principal, e sendo algo que dou muita importância à série, mesmo com momentos chave nela que não gostei de todo, no geral fiquei bastante satisfeito pelo rumo que seguia durante a aventura. Talvez o ritmo do jogo seja meio estranho, que a determinado momento parece que dizem “espera, isto é um RPG japonês!”, afastam-se do estilo à Game of Thrones para passar a um outro onde o bizarro e/ou estranho impera. O que francamente não vejo como defeito, pelo contrário, até me sacia bem! Mas por muitas dicas que tal haveria de acontecer durante o jogo, sei perfeitamente quando ligaram a ficha e mudaram o tom ocidental para algo mais… oriental. Tudo isto é giro, mas de pouco nos adianta uma história interessante sem um bom mundo a acompanhar e, afinal, o que há a dizer de Valisthea?
De volta ao mundo, embora tenha gostado de andar pelos diversos mapas, principalmente quando montado em cima de um Chocobo, cruzava-me geralmente por imensas zonas vazias, livres de perigosos monstros ou habitantes das várias localidades por onde atravessamos. Encontrei sim bastante vida nas aldeias ou pequenas cidades que pude explorar, com muitos diálogos a seguir e missões para apanhar. Por mais amplos que sejam os mapas eles são bastante lineares, não tinha muito por onde explorar mesmo indo aos locais que mencionei há pouco e, capítulo em capítulo, ia desbloqueando novas zonas ao avançar na história, sem ter grandes motivos para explorar locais passados a não ser, claro, que uma missão ou uma Notorious Mark me levassem lá. Mais lineares são ainda as dungeons e, dito isto, eram todas bastante boas! Com uma boa dose de inimigos para matar, muita história (da boa) a acontecer nelas e uma grandiosa conclusão num combate contra um boss quando chegava ao seu final, entre outros acontecimentos marcantes. Por falar em bosses, as lutas contra os Eikons são excelentes, à exceção de uma que premi o mesmo botão tantas vezes que fiquei com o pulso destruído (talvez, esse fosse o objetivo), mas todas elas me deram um gozo tremendo, principalmente como fã de combates entre monstros gigantes do cinema japonês.
Ainda assim diverti-me imenso nos combates, mesmo que no início sentisse que tudo se baseava a premir demasiadas vezes o mesmo botão de ataque e pouco mais fazia ali, rapidamente fui desbloqueando novas habilidades e explorava novas combinações com elas. Enquanto divertido, não é um sistema onde veja ali muitos elementos habituais de um RPG, mas sim algo mais próximo de um Devil May Cry ou Bayonetta, jogos que adoro, embora o uso excessivo de Quick Time Events. Não temos como alterar ou ajustar os nossos atributos, por exemplo, não é possível apostar num estilo de luta onde apliquemos mais Stagger, algo importante para quebrar uma barreira natural de muitos inimigos. Não dá para jogar mais na defesa a custo de dar menos dano em combate, ou vice-versa, elementos que adoro explorar em RPGs mesmo de ação, por muito que tenhamos certos equipamentos que dão um ligeiro boost ao ataque, defesa ou vida. Sempre que era recebido pelo ecrã de Level up pensava “porreiro, todos estes números nestes stats mas nada posso fazer com eles”, sabendo que apenas existiam e… nada mais. A minha atenção ia, no entanto, para os pontos que ganhava para melhorar ou desbloquear habilidades, entre elas os ataques especiais que, mesmo só podendo ter 6 equipadas ao mesmo tempo, deu-me um gozo tremendo explorá-las todas até encontrar as minhas combinações favoritas.
Final Fantasy XVI é um renascer das cinzas numa franchise com os últimos lançamentos principais algo atribulados, um jogo obrigatório para qualquer fã de RPGs ou jogos de ação, que já possuam uma PlayStation 5. Os fãs conto que já o vão jogar, e são imensos os pequenos detalhes e referências a outros jogos da série desde nomes a músicas que nos levam ao primeiro jogo da série. Aos que querem conhecer a série este é um bom ponto de partida, mesmo que não seja, de todo, parecido com os clássicos. Mas os temas pilares que constituem a série estão todos cá. Não é um jogo que vá largar já, ainda tenho missões por concluir e coisas que desbloqueei ao terminar, que quero explorar, mesmo que no final sinta que tenha apreciado e digerido uma excelente refeição, onde faltou apenas algum tempero, é um grande jogo!
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PlayStation 5, gentilmente cedido pela EcoPlay