Snack World: The Dungeon Crawl - Gold


Inazuma Eleven e Yo-kai Watch, duas séries da Level-5 que acompanharam as portáteis da Nintendo (e não só) como projetos de grande escala que não se limitavam apenas a vídeo-jogos, explorando também outros média como séries de animação e banda desenhada, onde até Professor Layton e Little Battle eXperience se enquadram. Snack World foi revelado pela primeria vez em 2015, o novo grande projeto multi-media da Level 5 e, embora tenha caído um pouco no esquecimento, chega finalmente ao ocidente.


Originalmente lançado apenas no Japão, o jogo chega finalmente ao ocidente com o subtítulo Gold, uma versão definitiva de um jogo que nunca tivemos o prazer de explorar. Mas eis que finalmente cá chega e comecei a aventura com boas expetativas! Logo no início surge aquele sentimento típico de série de animação, com uma abertura à altura que substitui a animação tradicional por um 3D que replica plasticina e stop-motion, semelhante ao que aconteceu na série televisiva no Japão. Juntamente com o personagem criado por mim, estou pronto para explorar este novo mundo, cujo ponto de partida é a cidade de Tutti Frutti.

Bem, se há coisa em que este jogo abusa é nas alegorias a comida: quase tudo tem um nome associado aos alimentos, desde o próprio título do jogo, muitas das personagens que habitam neste mundo aos vários monstros que nele vagueiam, monstros esses chamados de snacks. E para que não restem dúvidas que se trata de um jogo da Level-5, "todos" estes monstros lembram-nos imenso dos Yo-kai, trocadilhos nos seus nomes inclusive. As semelhanças não terminam aqui: muita da escrita do jogo segue o humor repleto de trocadilhos que já conseguíamos observar em Yo-kai Watch, se bem que num nível bastante superior e forçado, que muitas vezes... perde-se um pouco. É feito a pensar nos mais novos e, no entanto, via-me muitas vezes refletido no meu personagem que, face a uma piada ou trocadilho forçado, ficava simplesmente sem reação.


Estamos perante um universo bastante peculiar onde a magia e a idade das trevas coexistem com telemóveis, com gachas reais que nos dão itens aleatórios tal e qual como se estivéssemos num café a comprar aquelas bolas de 1 e 2 Euros. Temos ainda imensos snacks para capturar tal como em Yo-kai watch, desta vez enfrentando os inimigos em combate e, caso a sorte esteja do nosso lado, tiramos um Snackshot (não estou a inventar) para o capturar. São ajudas preciosas que nos assistem durante a aventura, sendo que alguns snacks são mais aptos para combate e outros ótimos para nos curar. Aventura essa que se baseia num conjunto de capítulos e diversas missões para concluir com sucesso entre as missões principais que nos fazem avançar no jogo, estas que pecam um bocado por serem algo desinteressantes e sem ligação entre elas, seguindo os caprichos de uma princesa que muda de vontade a cada 5 minutos. Há um claro vilão que vemos a cara dele durante o jogo todo (está no menu, literalmente), mas é completamente ignorado entre as missões de conseguir itens valiosos ou de encontrar pessoas perdidas.

No meio disto tudo temos um RPG de ação que, tal como o nome indica, nos lança constantemente em cenários diferentes e masmorras geradas aleatoriamente, embora sigam sempre uma estrutura fixa e construída em grelha. A jogabilidade é bastante simples: um botão para o ataque primário, outro para um ataque ou habilidade especial e, a junção dos 2 resulta num movimento bastante poderoso que podemos usar com menor frequência. Existe um bom leque de armas, denominados de Jaras, podendo equipar vários ao mesmo tempo, onde o objetivo acaba por estar sempre a mudar de arma em pleno combate, pois elas vão-se desgastando, precisando de recuperar energia enquanto não são usadas. Não há uma grande diversidade de tipos de armas diferentes, mas em contrapartida, há bastantes peças de equipamento para conseguir e criar! Uma das mecânicas que mais usamos no jogo é a Fabrication, que nos permite pegar nos imensos itens obtidos durante as nossas aventuras e transforma-los em peças de equipamento valiosas, que nos permitem progredir no jogo, tudo num sistema de crafting bastante simples.



Se há jogo que não dá para ignorar uma forte influência é Fantasy Life, um título da Level-5 em que Snack World mais parece um sucessor espiritual do que propriamente uma série totalmente nova. Desde a jogabilidade ao próprio ambiente construído à volta do jogo lembra-nos do título da 3DS, onde temos uma cidade principal e todo um conjunto de cenários que parecem habitar à volta dela. Mas Fantasy Life tinha uma progressão bastante interessante, cada cenário entregáva uma boa sensação de aventura e todas as áreas estavam muito bem interligadas, coisa que em Snack World parece cair por terra.

Os cenários não têm quaisquer ligações, mesmo que nos seja apresentado sempre um mapa do mundo antes de partir para a aventura, a própria cidade de Tutti Frutti não tem sequer metade da vida de Castele ou das outras cidades que visitamos em Fantasy Life. Há um bom leque de NPCs em Snack World, no entanto estes parecem ser menos interessantes. O nosso próprio personagem, que não tem nenhuma classe associada, usa qualquer arma e equipamento sem limitações e, mesmo a personalização das estatísticas em que decidimos apostar primeiro, pouca influência traz ao jogo.


É pena, talvez gostaria que este fosse um novo Fantasy Life mas entendo o rumo em que decidiram apostar em Snack World. Para todos os efeitos o jogo tem o seu charme, a experiência consegue ser bastante própria recheada de personagens dignas de uma série de animação para os mais novos. Existe bastante para desvendar em Tutti Frutti e há uma boa vontade de explorar todos os cantos dos cenários e, até mesmo, fazer as missões secundárias onde muitas delas até são bastante rápidas e com ótimas recompensas. Visualmente faz um bom trabalho, mesmo sendo um jogo 3DS adaptado à definição da Switch, todos os cenários são ricos em detalhe, lamentando apenas que o jogo tem demasiadas alterações de fluidez: numas alturas está bastante fluído e noutros momentos essa fluidez cai para metade, dependendo do cenário em questão.


Mas onde chegar com isto tudo? Snack World é um ótimo jogo com vários conceitos típicos em RPGs, mas simplificados de modo que qualquer um possa explorar o género. Surge como uma espécie de mistura entre Fantasy Life, Yo-kai Watch e até mesmo Dragon Quest IX, também este desenvolvido por esta companhia. É um bom jogo para jogar em multi-player (algo que não consegui experimentar durante o tempo de análise), mas ao mesmo tempo, joga-lo individualmente não cria quaisquer transtornos, muito devido aos vários snacks que vamos capturando e adicionando à nossa equipa. Falta-lhe, no entanto um fio condutor que ligue a história e, sendo da mesma equipa, gostaria de ter visto algum do charme existente em Fantasy Life, seja das suas classes com quests e personagens associadas, ou até o sentido de exploração pelo mundo que parecia todo contínuo.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.

Latest in Sports