Not Tonight: Take Back Control Edition


Not Tonight não tem medo do que é e de gritar ao mundo digital que é uma crítica a um Reino Unido pós Brexit, mas há uma diferença entre tecer uma crítica social ou estar constantemente a esbofetear a mensagem: Brexit mau, entendem? Entendem?!

Ao contrário de Papers, Please, que tarda em sair na nossa consola da Nintendo, este Not Tonight mete-nos a controlar um porteiro em vez de um agente de emigração que, se franzirmos os olhos, é quase a mesma coisa. E aqui, teremos de lidar com o povo; escumalha para alguns, que espera para entrar nos bares mais podres do Reino Unido. Vou evitar os termos de fantasia ou de ficção científica porque esta realidade deve estar aí a bater à porta.

Ainda assim, o pessoal precisa de distracção e de beber um copo, mas nem todos poderão entrar. Se começamos por barrar menores de idade, as exigências vão aumentando conforme vamos evoluindo no jogo, aumentando também a dificuldade. Bem, não diria que o jogo seja difícil, mas há uma certa pressão para fazermos as coisas bem desde deixar passar o mínimo de pessoas para o bar ter lucro, os convidados da lista etc. E porque temos de fazer dinheiro!


Aí está a cruz deste jogo: fazer dinheiro, viver e sobreviver tanto que a primeira conta a pagar é a taxa de permanência no país - no país onde nascemos, mas que o senhor Brexit e o partido de extrema-direita Albion First decidiram que não é porque temos ascendência de outro lado qualquer. Pois é, temos de voltar para a nossa terra! Então, somos chamados de Euros como se euro fosse algum insulto e acho que a Panic Barn tentou demasiado neste ponto ao tentar ser mázinha.

Se a narrativa não aquece nem arrefece num aspecto mais geral, o melhor deste Not Tonight são as pequenas histórias das pequenas pessoas. Porque se a vida e o futuro é escuro, a luz está nas pessoas que o iluminam e aqui não é diferente. As personagens que vamos encontrando pelos bares a tentar furar filas ou a meterem-se noutros sarilhos são a cor deste jogo, desculpem, aborrecido. Temos o tipo que adora dançar disco, mas que a mulher não quer que volte a beber; o menor que quer entrar nos bares, mas que por mais que tente, nunca consegue. Ou consegue! Porque estas decisões pequenas estão nas nossas mãos: se o tipo quer enfrascar-se contra os pedidos da mulher e nos passar uma nota, porque não? A vida custa, senhora. E se o puto quer ver como os adultos se divertem? Por favor.


Não basta mandar as pessoas embora só porque sim. Como dissemos acima, cada bar terá as suas condições e descriminações: às tantas temos de procurar por identificações falsas, mandar estrangeiros embora ou aquela persona non grata. Por outro lado, deixar os convidados entrar, os bem vestidos e os mais ricos também será obrigatório, mas, e porque há sempre mases nestas coisas das opiniões, as ferramentas que o jogo nos dá para trabalhar são mázinhas.

Acredito que num computador e com rato/teclado, os controlos sejam melhores e mais fluídos na hora de despachar as filas antes de a hora de fecho bater, mas na Switch achei tudo tão lento e tosco sem necessidade alguma. Este jogo grita pelo uso do ecrã táctil ou pelo uso de um analógico como substituto do ponteiro. Mas não, navegamos a passo de caracol pelas várias opções e esperamos estar na aba certa. Até se lê bem em modo portátil, mas quando a pressa é muita e temos de escrutinar caras e bandeiras pixelizadas, a coisa não corre tão bem porque o detalhe não é o melhor. Existe uma opção para daltónicos que pode ajudar.

No geral, não é um mau jogo, mas que não consigo recomendar jogarem durante muito tempo seguido porque aborrece estar sempre a fazer o mesmo. E talvez haja aqui uma metáfora para a rotina da personagem, para a sobrevivência laboral e do virar do calendário.


Sendo o tema bem real, a forma como o executaram é muito de caricatura, mas o bom das opiniões é que nenhuma está gravada em pedra. Se gostarem, ainda bem! Ainda por mais, esta versão até vem recheada com mais níveis.

Tendo feito de porteiro duas vezes na minha vida, sei que é tramado lidar com pessoal que quer ir beber um copo descontraído, mas se o chefe não deixa, então nada a fazer.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela No More Robots.

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