Legends Of Runeterra (Open Beta)


A empresa por trás de um dos maiores fenómenos do mundo dos videojogos e dos Esports entra nos jogos de cartas coleccionáveis. A Riot Games entra num mercado recentemente revivido, com uma entrada sólida e muito própria e (quase) totalmente gratuita: Legends of Runeterra, já disponível em "Open Beta" para PC.

Não há muita gente que siga de perto os videojogos (principalmente Esports) que não conheça a Riot e o seu título de abertura League of Legends (LOL como é mais conhecido). Aprecie-se ou não o género, o número de visualizações (sem contar o mercado chinês) dos World Championships de LOL 2019 foram superiores às da Super Bowl do mesmo ano. Inicialmente o universo onde se situava o jogo era pouco mais que uma desculpa para a jogabilidade dos personagens. Entretanto a Riot revolucionou (quase) por completo o conceito e trouxe-nos a Runeterra que hoje conhecemos.

Esta Runeterra é o palco de onde surgem as cartas do Legends e as falas e vozes são linhas directamente retiradas ou do LOL ou do seu lore. O lore em si é bastante denso tendo até à data já 3 comics feitos com a Marvel, e cada dia cresce com mais short stories, novos personagens e velhas histórias revistas. Esta é já uma característica de destaque, ao contrário de outros, os personagens não existem no vácuo e dois personagens que tenham relação "histórica" um com o outro têm umas palavras especiais para dizer. Torna o jogo mais interessante para quem, como eu, gosta de ir ver o texto das cartas e apreciar os pormenores da arte que muitas vezes durante o jogo passam despercebidos. O aspecto geral do jogo é muito ao estilo do LOL, tanto o loading inicial e os efeitos em combate (que são bastantes) têm um estilo que quem jogou um reconhece facilmente no outro. As animações são fluídas e diversas e tornam o jogo mais vivo.


Tendo jogado todos ou praticamente todos os grandes TCG (trading card games) existentes desde Magic ao só digital Hearthstone a maioria das mecânicas existentes nas cartas são familiares e facilmente equiparáveis. Acaba por de facto ser um misto, tendo a interacção entre turnos opostos do Magic, alguma da aleatoriedade do Hearthstone, mas também diferenças suficientes para se destacar singularmente. Em particular a maior diferença está nas cartas representativas dos champions (os personagens que dão cara ao LOL). Estas cartas, mediante certas condições únicas a cada uma, conseguem evoluir (mesmo durante o combate) e ganham efeitos novos, alguns que mudam até a condição de vitória do jogo. Para além do efeito na jogabilidade, a arte muda (há mais algumas cartas que mediante certas condições também acontece isto) e as falas acompanham. É um take fresco no género e que tem muita personalidade.

Poderia aborrecer-vos com uma descrição das regras e pormenores mas outra coisa que demonstra a experiência de 10 anos na área com uma comunidade exigente: cerca de 10 tutoriais a explicar cada uma delas em detalhe com exemplos de jogo para podermos experimentar e com algumas piadas entre personagens à mistura. Ter em conta que sendo um Open Beta e pelo registo anterior da equipa, podemos certamente esperar mudanças e acrescento ou remoção de mecânicas para garantir o equilíbrio competitivo.

A música acompanhante do jogo é suave e os efeitos sonoros são retirados, juntamente com algumas das vozes, directamente dos efeitos e habilidades do irmão mais velho. Para um jogo onde passamos muito tempo a pensar na jogada seguinte, que pode fazer a diferença entre uma vitória ou derrota, é importante que não seja cansativa ou irritante e esta conta como mais um sucesso. Temos a capacidade de observar qualquer carta em detalhe e interagir com a nossa mascote (e sim podem fazer festinhas e ele reage). Ainda mais podemos observar todas as cartas jogadas anteriormente e o desfecho das mesmas jogadas, como utilizando outra função do mapa ver qual o desfecho de qualquer jogada a decorrer (o que com tabuleiro cheio e 3 ou 4 feitiços pode ser complexo a olho nu).


São oferecidos 3 baralhos distintos com o início do jogo, os quais podemos alterar depois com a aquisição de mais cartas ou criar baralhos inteiramente novos. As cartas são divididas em regiões (correspondentes a actuais regiões do continente de Runeterra) e normalmente as habilidades encaixam na mentalidade e tipo de existência que aquela região historicamente possui. A equipa já anunciou a adição de mais regiões com o tempo, sendo que com as actualizações constantes do universo, podemos esperar muito mais conteúdo.

No fim dos tutoriais e de uma bela quantidade de recompensas inicial, escolhemos uma região e cada vitória contribui para objectivos que desbloqueiam cartas dessa região específica. Assim, cabe ao jogador a escolha das cartas que quer desbloquear primeiro sendo que é possível obter todas sem consumir recursos. O jogador pode trocar de região quando quiser para desbloquear cartas de outra sem perder o progresso anterior. É inovador neste sentido e ultrapassa (alguma) da frustração de abrir packs sem conta, sem saber com o que contar. A raridade das recompensas e qualidade das mesmas também melhora com o progresso. Mantém também a mecânica que o Magic Arena introduziu de wild cards: cartas que podem ser convertidas em qualquer carta daquela raridade e que facilita imenso obter as várias cópias necessárias para fazer o baralho à nossa medida (e competitivamente capaz).

As recompensas podem ser cartas, cristais ou medalhas de expedição. As cartas variam de raridade conforme o nível da recompensa sendo as mais difíceis de obter os champions. Qualquer cópia para além da 3ª é imediatamente convertida em cristais (um baralho permite no máximo 3 cópias de cada carta e podem usar as mesmas cartas em baralhos diferentes). Os cristais podem ser convertidos directamente em cartas à escolha (o valor aumenta conforme a raridade) tal como usando o dust no Hearthstone. As medalhas de expedição dão acesso (ou 3000 cristais se preferirem usar esse recurso) a expedições: o modo draft do jogo que oferece maiores recompensas conforme o número de vitórias. Ao contrário de outro, neste modo draft, no entanto são oferecidas duas tentativas distintas por medalha/cristais gastos, começam com um baralho ao qual adicionam cartas ou trocam por cada vitória/derrota, e atingindo o máximo de duas derrotas consecutivas começam do início criando outro baralho e recomeçando a aventura. Ao fim da segunda tentativa recolhem as recompensas conforme o número total de vitórias. A nível de modos, pelo menos nesta versão beta, temos a expedição e os jogos normais contra jogadores ou bots. Se quisermos testar as nossa habilidades já está disponível o modo ranked (apenas contra jogadores reais) para podermos dizer que somos melhores que os nossos amigos. Podemos também desafiar amigos directamente o que torna a experiência mais divertida.


Ainda que em Open Beta, a equipa anunciou que tudo que seja adquirido até ao lançamento oficial fica na nossa colecção permanente. Seguindo a mesma lógica do LOL o jogo é totalmente gratuito, sendo que há a possibilidade de comprar moedas para adquirir cosméticos, nomeadamente e para já, arenas, novas mascotes e cartas. No entanto a aquisição de cartas tem limites, sendo que só podem ser adquiridas um número limitado independentemente de quanto dinheiro se gaste. Isto equilibra mais o terreno para os chamados jogadores free to play, permitindo a quem quer apoiar o jogo ou simplesmente a quem quer mais cartas mais rápido obtê-las. A economia de um jogo com micro transacções é sempre complexa e portanto é passível de alterações com a continuidade do jogo, tanto no aumento de conteúdo como alteração de valores. Mais importante para o jogador comum, é a possibilidade de obter todas as cartas do jogo sem investimento de dinheiro "físico" o que é sempre positivo.

Aproveitando a excelente ideia do Magic Arena, há também um cofre semanal que conforme o número de experiência acumulada oferece melhores recompensas, sendo esse baú totalmente gratuito. Para além de jogar, podemos obter mais experiência com missões diárias que incentivam à criação de novos baralhos e experimentação com outras regiões, oferecendo experiência para o nosso progresso na região de escolha e no baú. Tal como no LOL a vantagem competitiva é mantida o máximo possível na habilidade do jogador e não em quem tem a carteira mais funda o que é sempre um excelente princípio. Talvez para quem não conheça o título principal algumas das referências passem ao lado e algumas animações são longas, fazendo falta uma opção para as evitar. Na soma geral de factores no entanto cumpre o seu propósito entretém, desafia e promete ser (com o acompanhamento devido) uma excelente adição a esta Renascença dos TCG no formato digital.


Uma entrada sólida no mundo dos TCG, cativante para todos a nível estratégico. O universo merece ser explorado, e o jogo incentiva a quem nunca o fez, sendo as interacções e as animações no terreno divertidas e ajudam a dar vida às cartas. Sem dúvida alguma, um jogo para acompanhar de perto os desenvolvimentos futuros até ao lançamento oficial.

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