Dragon Quest III HD-2D Remake


Habemus Dragon Quest! Não é um novo título da série, Dragon Quest XII parece tardar a chegar, mas olhamos para o passado com um título há muito anunciado, que me deixava bem ansioso pelo seu lançamento. Falo de Dragon Quest III HD-2D Remake, o mais recente título a receber um tratamento “Team Asano” já habitual da Square Enix, que nestes títulos HD-2D mistura o belo aspeto retro com umas camadas de jogos modernos.

Um jogo que não vem sozinho, pois sabemos que os dois primeiros títulos da série também terão remakes semelhantes a serem lançados no decorrer deste ano, em princípio. O que faz sentido, não pela estranheza de sair agora o terceiro jogo, mas porque os três compõem a “Erdrick Trilogy”, três grandes aventuras de eras diferentes, em mundos recheados de fantasia. Cada título tem personagens distintas, de algum modo unidas pelo destino que dia serão merecedoras do título Erdrick, dado apenas aos que forem capazes de feitos heroicos como salvar o mundo.


Pessoalmente este clássico regressa numa altura perfeita, pois é exatamente o RPG que estava a precisar! Após passar centenas de horas com Metaphor: ReFantazio e Dragon Age: The Veilguard, ambos jogos extensos com narrativas complexas, estava mesmo a precisar de um RPG mais simples com uma história muito menos densa, onde podia tranquilamente explorar um mundo ao estilo mais tradicional, onde avanço região em região a resolver os seus pequenos problemas. Este é um RPG à antiga, refletindo o estilo de jogo possível nos limites técnicos em finais dos anos 80, que apesar de tudo ainda era substancialmente rico em detalhe.

É curioso olhar para Dragon Quest III e ver ali muito da essência que define a série. Das adaptações mais fieis do que seria um Dungeons and Dragons feito até então, pensando para a audiência japonesa, que na altura marcou toda uma geração e os adeptos de videojogos japoneses. E aqui num breve aparte, inicialmente nesta análise já estava a puxar um pouco de história criada pelo jogo, sendo este um título icónico para a indústria dos videojogos… mas, como já me estava a esticar demasiado (e ainda assim sinto que me prolonguei), pensei “porque não fazer uma publicação dedicada a isso?” É algo que sairá em breve, prometo!


Regressando então ao jogo, a sua aventura compõe-se missão em missão, saltitando entre cidades, masmorras entre outros locais, melhorando a nossa equipa à medida que somos vitoriosos dos imensos combates. O nosso protagonista é o filho de Ortega, um velho herói do reino onde começamos a nossa aventura, e não só. Ortega desapareceu e, como descendente dele, tentamos seguir os seus passos ao receber a importante missão em salvar a região das garras do mal e estamos prontos para partir! Ou quase, vá, antes de realmente começar a demanda convém criar uma equipa com mais 3 membros, personagens que criamos (ou simplesmente adicionamos algumas pré-definidas), estas sem qualquer background ou história própria, compondo uma equipa de avatares que pode afastar muitos jogadores à espera de algo mais complexo. Ainda assim são membros valiosos da nossa equipa, cada um com a sua classe e personalidade associada, tal como o aspeto e alguma ligeira personalização. Tendo equipa cheia (ou não) estamos prontos para o que vier a seguir e enfrentar um mundo cheio de perigos, cidades, muitas cavernas e masmorras a explorar!

Aqui os combates são por turnos, precisamente o estilo de RPG que mais adoro (e devoro), onde posso explorar táticas nos combates, usando diferentes estratégias dependendo dos inimigos que encontramos. Não é complexo, mas é um jogo onde o uso de habilidades que aumentam a nossa defesa ou ataque, enquanto reduzimos esses mesmos atributos nos nossos inimigos é mais que recomendado, algo que funciona mesmo contra bosses! Não é jogo onde simplesmente vamos atacar, o que me agrada, onde os combates até fluem bem rápido. Até porque podemos deixar as escolhas dos ataques de modo automático, definido por uma estratégia nossa como um foco em ataques fortes ou escolhas mais seguras, e acreditem: a inteligência artificial das personagens funciona bastante bem. Muitos combates duram breves segundos até, algo que agradeço muito pois aqui voltamos ao velho estilo de random encounters onde os monstros aparecem aleatoriamente do nada.


As vocações das personagens são essenciais para a aventura, classes que podemos alterar no decorrer da história que para a altura foi bastante único. Em Dragon Quest III temos liberdade para explorar as diferentes classes e combinações das mesmas: por exemplo, se uma personagem for Mage e mudar para Priest, ela vai reter todas as magias que havia aprendido, mesmo que ao mudar de vocação volte para o nível 1. É mais um daqueles pontos que me lembra bem de Dungeons and Dragons, de quando exploramos misturas de classes de modo a criar totalmente personagens com quem nos identificamos. A progressão de cada personagem é simples, vamos adquirindo novas magias e habilidades, trazendo não só vantagem em combate como também enquanto exploramos o mundo, evitando indesejados combates, escapar dos confins de uma gruta ou viajar instantaneamente para outro local.

Acabei mesmo por mudar mais que uma vez as vocações de cada personagem, criando uma equipa bem poderosa em que cada um tinha um arsenal de diferentes ataques e habilidades para várias situações e desafio. Falando neste desafio, este não é um jogo difícil e conta com três modos diferentes de dificuldade, sendo que a mais desafiante é a Draconian Quest com inimigos mais fortes que nos dão menos experiência e dinheiro quando derrotados. Fora isto não há grande diferença entre os diferentes graus de desafio, algo que podemos alterar livremente durante o jogo.

Há uma boa liberdade no jogo, esta que se reflete ainda na aventura em si que, embora linear, temos experiências diferentes dos outros jogadores. Logo no início temos um pequeno questionário que vai definir a personalidade do nosso protagonista, colocando-nos em situações diferentes logo aqui dependendo das nossas respostas, personalidade esta que depois vai definir se o nosso herói é mais apto para o uso de magias ou de ataques físicos, entre outras coisas. Já no decorrer do jogo em si são várias as missões opcionais, havendo até cidades e masmorras que podemos ignorar por completo, minijogos secundários e imensos tesouros que podemos não encontrar, caso a exploração não seja o nosso forte.


Tal como muitos jogos da altura é mesmo um jogo linear, no entanto, a partir de certa altura o jogo dá-nos a liberdade de explorar o mundo como nos apetecer, sem uma ordem definida para as várias missões obrigatórias que temos de concluir, de modo a continuar a nossa aventura. Um mundo que dá um enorme gozo a explorar porque, bem, é uma representação do nosso planeta Terra! Um mapa do mundo bem semelhante ao nosso, embora não sendo uma representação 100% fiel, com várias cidades e diferentes regiões que se assemelha ao nosso mundo onde, talvez dos pontos mais peculiares para nós, é a presença de Portoga! Basicamente é Portugal da era dos descobrimentos, onde os habitantes usam expressões como “olá”, “bem-vindo”, “Deusa” ou “vaza”, que se jogarem com vozes em inglês vão ter um sotaque algo peculiar e, não, não parecem espanhóis a falar inglês.

Ah… voice acting, uma das novidades deste remake, que só me dá pena que o jogo não seja totalmente acompanhado por vozes, sendo que elas aparecem apenas em alguns apontamentos aqui e acolá, em partes mais importantes da história. Temos a opção de jogar em inglês como em japonês, mas fora os gritos e grunhidos das personagens em combate, por vezes esquecia-me que o jogo tinha voice acting. Senti que jogaram pelo seguro e não quiseram fugir muito à fórmula do jogo original, mesmo os combates mantêm-se quase sempre na primeira pessoa, tal e qual os Dragon Quest clássicos, em que apenas vemos as nossas personagens no momento em que estamos a selecionar as ações nos combates. O que me deixa com alguma pena, pois os sprites das personagens estão bem detalhados, ao estilo que estamos habituados a ver nos vários jogos no estilo HD-2D que temos vindo a receber.


Sem sombra de dúvida este é o jogo neste estilo mais belo que joguei! Dos imensos detalhes nos cenários aos imensos efeitos como os da fiel lanterna que nos acompanha a aventura toda, iluminando os caminhos mais sombrios, é bom ver o quão este estilo artístico evoluiu desde o primeiro Octopath Traveler, lançado há 7 anos. Visuais extremamente bem acompanhados pela belíssima banda sonora orquestrada. Mesmo a banda sonora podia ter levado o termo remake mais a sério, não pela qualidade das músicas, mas sim diversidade, pois temos basicamente apenas uma música de combate praticamente do início ao fim do jogo, sejam combates contra bosses ou simplesmente quando estamos a exterminar os inocentes (e icónicos) Slimes.

Embora esta análise tenha sido feita com base na versão da PlayStation 5, ainda dediquei umas boas longas horas à versão da Nintendo Switch, esta tal como esperava desta versão. Não consta com os fluidos "60 frames por segundo", estando reduzida a metade, sem grandes sacrifícios adicionais que tenha notado. Aos que jogaram os Octopath Traveller, Live A Live ou até mesmo Triangle Strategy podem contar com um bom trabalho ao mesmo nível, sendo que nada bate o conforto de jogar Dragon Quest em modo portátil. Aliás, grande da minha aventura foi mesmo passada através do PlayStation Portal, longe de maiores ecrãs.

Apesar destes pontos que não me agradaram tanto, para mim esta foi a aventura perfeita para terminar um ano com belíssimos RPGs que me ocuparam tanto tempo, abrindo-me imenso o apetite para o remake dos dois primeiros Dragon Quest, deixando-me curioso para ver se muita gente os irá explorar pela primeira vez. Já havia jogado este Dragon Quest noutras versões e, apesar das grandes diferenças serem mais a nível visual, esta é mesmo a versão definitiva e mais completa do terceiro capítulo de uma grande saga, com algumas coisas que nos ajudam na aventura e a adição de uma vocação que pode ser bem poderosa.


Foi incrível voltar a pegar nesta aventura, que dependendo do vosso modo de jogarem RPGs mais tradicionais tanto podem investir cerca de 40 horas ao dobro do tempo, se forem como em que não descansam até terem falado com todos os habitantes, abrindo todas as gavetas e explorar tudo o que é pote, à procura de preciosos itens secretos. Dragon Quest III HD-2D Remake é o regresso às origens da série, com uma primeira trilogia que volta agora para as consolas modernas!


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PlayStation 5, gentilmente cedido pela Ecoplay

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