Os meus dias com o PlayStation Portal
Há algum tempo que procurava desculpas para ter um PlayStation Portal, o Reprodutor Remoto da PlayStation que nos permite jogar PlayStation 5 no conforto dos nossos sofás, enquanto alguém ocupa a TV. Ou no meu caso aproveitando o frio que vai aumentando para estar estilo casulo, embrulhado na cama a jogar. Até porque sempre joguei muito no formato portátil e vários são os jogos da PS5 que acabo por não dedicar tanto tempo, por estar cansado de estar em frente ao ecrã tanto tempo.
A desculpa acabou por ser a PlayStation Portal especial dos 30 anos da PlayStation, que se não adquirisse agora muito provavelmente nunca teria oportunidade de a ter, por ser limitada e artigo de coleção. Chegou-me no lançamento (juntamente com um DualSense também temático dos 30 anos) em que já planeava jogar Metaphor: ReFantazio uma segunda vez até ao fim, desta vez no maior grau de dificuldade. Isso e muitos outros RPGs, que sempre preferi jogar e formato portátil por uma questão de hábito.
Que belo conjunto!
O que não entrava de todo nos meus planos era a grande novidade que acabou por acompanhar a celebração do lançamento desta coleção dos 30 anos, o serviço Cloud Game Streaming diretamente no Portal, uma transmissão de jogos em fluxo sem precisar de instalação na consola, embora requeira uma ligação constante à internet. Algo que não é propriamente um problema, pois o seu uso normal já requer uma ligação para o uso normal, ligada à PS5. Um serviço que era pedido desde o anúncio do PS Portal que ainda está em modo beta, de forma a testarmos o mesmo e ver como se comporta. Mas, antes de falar desse serviço, uma breve reflexão de como são os meus dias a jogar nesta espécie de novo formato.
Para alguém inicialmente muito cético e sem grande interesse no Portal, até porque sou fã acérrimo do formato físico e não muito do digital, a minha experiência tem sido muito positiva! Não estou a jogar nativamente, de facto, mas a experiência tem sido como jogar PS5 numa handheld, ou até mais próxima de como jogava muito Nintendo Wii U quando podia usar apenas o GamePad, algo que usava muito nos jogos retro, porque a resolução do ecrã era bastante baixa. Tendo jogado muito Dragon Quest III HD-2D Remake assim tenho zero queixas, mas como se porta e jogos mais frenéticos?
Honestamente? Muito, muito bem, tive um par de soluços na transmissão no máximo nas quase 20 horas que passei a jogar no Portal, coisas que não me arruinaram a experiência. Joguei Dragon Age: The Veilguard, uns toques em Final Fantasy VII Rebirth ou Sonic X Shadow Generations, tudo jogos de ação propícios ao caos e muitas coisas a acontecer em simultâneo. Ainda assim a experiência fluiu perfeitamente, sem artefactos visuais notórios, típicos de serviços streaming que não conseguem reproduzir uma imagem fiel à fluidez requerida. E tinha muito receio que a minha experiência ia ser terrível, até porque a minha PS5 está ligada diretamente ao router, certo, mas esse está ligado por powerline à rede elétrica (que não vou entrar em detalhes técnicos), o que não é propriamente a configuração ideal. Mesmo usando fora de casa senti apenas que houve uns segundos em que a imagem transmitida parecia estar a carregar e a ganhar definição, coisa que rapidamente foi ao sítio e é como se estivesse a jogar em casa.
Quanto ao Cloud Stream Gaming, mesmo com a escolha algo limitada de jogos disponíveis no serviço atualmente, ainda passei umas boas horas a experimentar os jogos lá disponíveis. Talvez a coisa mais estranha é ter uma espécie de perfil em que tenho de alternar se estou a jogar ligado à PS5 ou por cloud, mas fora isso o acesso aos jogos é rápido tal como se estivessem instalados na consola. Foi aqui que senti bem que estava a jogar algo por stream, a quantidade de artefactos bem visíveis na imagem era enorme, ao experimentar Resident Evil 3 via autênticas manchas pixelizadas no ecrã, enquanto o jogo apresentava fundos escuros, algo que não noto tanto quando vejo um vídeo no YouTube, por exemplo. Ou colocando a experiência em algo da própria PS5, é como quando jogamos algum título do catálogo de PS3 na consola, que funciona apenas por streaming.
Vi isto como uma espécie de sacrifício, a fidelidade e qualidade da imagem podiam não estar a par de quando jogo nativamente na PS5, mas a fluidez estava no ponto, sem grande lag e a correr sempre fluído nos (que eu penso ser) 60 frames por segundo. Inicialmente até pensava parecer estar mesmo a correr nativamente, mas pareceu-me que me ouviram e começaram a surgir artefactos visuais uns atrás dos outros. Nada que arruíne a experiência, que fique claro, só que não tem a qualidade e detalhe visual quando comparando com um jogo a correr diretamente na PS5, ou até mesmo quando jogo no Portal com um jogo instalado na consola.
Ainda assim vejo aqui um futuro bem promissor, se o catálogo de jogos disponíveis por cloud aumentar, pode ser um bom ecossistema de jogos ali em que temos apenas um Portal e o serviço PS Plus, com tudo o que temos direito, e sem precisar de ter uma PS5, algo que acho estranho, mas possível e de um valor reduzido, até. Vi aqui também uma janela para um futuro provável para as próximas décadas, que me assusta honestamente (por ser agarrado ao formato físico), mas à semelhança de outros conteúdos de entretenimento os jogos poderão, também, estar apenas disponíveis por stream eventualmente. O que me incomoda, pois, estar dependente de uma subscrição que, aleatoriamente, pode retirar do serviço jogos que tinha acesso… é mau. E algo que inclusive já acontece na PS Plus ou no GamePass, por exemplo, em que perdemos acesso a determinados jogos porque sim.
Terminando, e falando agora do hardware em si, o Portal é uma bela peça de videojogos, uma opinião que certamente sou biased porque adoro o design temático dos 30 anos da PlayStation, e nunca vou perdoar a Sony ter lançado os DualSense com os face buttons monocromáticos, e não com as icónicas cores associadas às formas geométricas nos comandos. O ecrã pareceu-me grande, mas foi uma questão de hábito e, ergonomicamente, jogo bastante bem em qualquer posição. Menos positivo é a duração da bateria, que em média conseguia jogar cerca de 4, 5 horas sem precisar de carregar, sendo que demora um par de horas até a bateria estar novamente carregada. Sinto mesmo falta de uma dock para colocar o Portal, não só para ser prático deixar a carregar mas também para ter um sítio onde o deixar, que o tenho pousado aleatoriamente pela casa e, por vezes, sem estar a carregar.
Sinto mesmo que a minha experiência a jogar PlayStation 5 melhorou consideravelmente com o PlayStation Portal! Não é a "magia" de uma Nintendo Switch em que posso estar a jogar ligado à TV, pegar na consola e jogar em modo portátil tal como tinha deixado a sessão e imediatamente estar logo a jogar. Não é imediato, há uma pausa entre o momento em que termino a sessão na PS5 e começo a jogar no Portal, mas nada escabroso. Também é certo que não tem a experiência de uma consola portátil, não me vejo a jogar num transporte em viagem ligado à internet sem fios do mesmo (ou via hotspot no meu telemóvel), mas para jogar confortavelmente em casa tem sido incrível. Também não consigo deixar de recomendar a aquisição de um Portal caso a vida vos leve a ter de combater pelo uso da TV, até porque temos um ecrã só para nós sem contestação, um acontecimento bastante comum até. Olhando ainda à questão de preço, sinto que por valores semelhantes à aquisição da combo PlayStation 5 e PlayStation Portal é uma melhor escolha do que ir apenas para a PlayStation 5 Pro, mas isto acaba por ser uma muito pessoal, para os meus hábitos de jogo.
Foi assim a minha experiência com o PlayStation Portal, que se aproxima agora de um mês e juntamente com a Nintendo Switch sinto que vou passar umas boas férias de Natal enrolado numa manta dedicadas a um formato portátil, longe da TV ou do meu monitor onde acabo por já passar muito tempo ao nível de trabalho. Estou curioso se os meus hábitos a jogar PlayStation 5 vão mudar consideravelmente, mas sinto que vou dedicar mais tempo à consola!