Balatro


Já toda a gente o conhece, Balatro anda ainda nas bocas do mundo, principalmente depois de todo o ruído ao seu redor após os mais recentes The Game Awards ao ser nomeado para jogo do ano, entre outras nomeações. Um jogo indie lançado há cerca de um ano que ainda fez algum burburim então, mas foi passando despercebido, que me lembro de jogar um pouco mais para abril só que… bem, com tanta coisa foi colocando-o de parte. A desculpa para o jogar a sério veio mais recentemente, após adquirir a edição física para a Nintendo Switch e pensar "vai ser este Natal que me dedico ao jogo".

Foi dos piores erros que cometi recentemente…

Consigo aqui traçar um paralelismo entre Jimbo que me parece ter sugado a alma para ficar agarrado ao jogo de uma maneira que não é saudável, ao vício que muitos sofrem quando vão para os casinos. Personagem esta que me parece agora apontar o dedo e dizer, entre sarcasmo e troça "só agora é que jogas?", que até calhou bem ter esperado por uma altura mais calma ao nível de lançamentos para me poder dedicar mesmo ao jogo, e bem que precisava. Jimbo convida-nos assim para um simples jogo de cartas, personagem essa que ganhou vida também mais recentemente através do seu icónico sorriso trapaceiro de Joker, ou se preferirem Palhaço ou até mesmo Arlequim, que para todos os efeitos nesta análise vou tratá-lo como Quim devido a todos os insultos passivo-agressivos que ele me dá desde dezembro passado.


Começando pelo início, mal arrancamos o jogo estamos logo prontos a começar o vício, sem grandes introduções ou menus de configurações extensos que cada vez mais me chateiam porque eu, simplesmente, quero é começar a jogar. Depois temos de ter a melhor mão possível para ganhar o máximo de fichas possíveis, sendo que cada carta pontua individualmente e seguimos para a próxima jogada e por aí fora. É assim tão simples, pelo menos a base do jogo porque aqui temos é um jogo de Poker onde temos mãos ilegais e até mesmo impossíveis, quebrando todas as regras ou até mesmo a lógica do jogo de cartas em que se baseia.

Balatro é uma combinação de roguelike, um jogo de construção de baralhos (deckbuilder) e um jogo de estratégia, em que vamos explorando toda uma combinação de diferentes maneiras de jogar para obter o máximo de pontos possíveis, dados através das fichas de Poker. Há um número de jogadas de Poker que temos de vencer até chegar ao fim, este com muitas aspas porque depois podemos logo continuar para o modo endless onde jogamos até ser literalmente impossível fazer as dezenas de milhões de pontos pedidos para avançar. Claro que para chegar a este nível iremos perder (mesmo) muitas vezes, ver a cara do Quim que com uma simples frase goza connosco só porque não tivemos sorte, ou calhou ter uma run com condições especiais que nos lixaram completamente o jogo.

Esta vontade de obter a melhor pontuação possível é um dos pontos que me agarrou no jogo, sendo também o objetivo como bom jogo do género que é! Há até mesmo quase um sentimento de arcade ou jogo "à antiga" onde tínhamos o objetivo claro de fazer pontos e nada mais, aqui acompanhado pela catrefada de coisas que vamos desbloqueando à medida que jogamos. Um ciclo que se torna viciante, não só para receber estes pontos mas também pelo quão bem construída esta combinação de roguelike com deckbuilding está, acessivelmente simples cuja complexidade vai crescendo à medida que nos vamos habituando ao jogo.


É um roguelike puro porque a cada novo jogo começamos do zero, sem benesses das sessões anteriores por muito longe que fossemos. Ou melhor, não começamos totalmente do zero porque vamos desbloqueando novas habilidades que nos podem aparecer nos jogos seguintes e, acreditem, vão perder mesmo muitas vezes no início do jogo só porque ainda não desbloquearam as melhores habilidades que surgem à medida que formos mais longe. Uma das coisas que vamos desbloqueando logo no início são baralhos de cartas com diferentes propriedades, como poder descartar mais vezes, ter mais mãos de Poker ou começar logo com algum dinheiro extra.

Dinheiro este fundamental para comprar cartas no fim de cada run, cartas estas que se dividem em cartas de Joker, Tarot, Planetas, entre outras disponíveis através de típicos boosters de jogos de cartas, onde cada uma tem um propósito distinto. As cartas de Planetas melhoram a pontuação das nossas mãos de Poker, como quando fazemos dois pares ou um full house, por exemplo. Em paralelo temos as cartas de Tarot que mudam o nosso baralho, transformando as cartas e dando-lhes habilidades como dar dinheiro ou diferentes modos de ganhar mais pontos. Já as cartas de Joker são fundamentais para vermos o número de fichas ganhas a entrar nos milhões, onde temos uma legião de Quins, entre coisas como cartões de créditos, de identificação, cromos, fotografias ou coisas completamente aleatórias que pontuam de maneira diferente.


São Jokers que nos fazem pontuar duplamente as cartas, que multiplicam a fichas, que melhoram a pontuação dependendo do naipe usado, com outras que vão aumentando os pontos que nos são dados porque fomos usando determinadas combinações de cartas ao longo do jogo, e isto é apenas um breve exemplo, pois contamos com mais de uma centena de Jokers. O brilhante disto tudo é a sinergia que vai surgindo, aqui entrando todo o deckbuilding que tanto adoro em jogos de tabuleiro, aqui transformado de forma tão simples! Tudo se resume às cartas que nos saem e vamos comprando em cada jogo (daí o dinheiro ser tão fundamental), onde não há uma estratégia fixa no início e… vamos apenas pelo que nos sai e construímos com o que temos.

É tão, mas tão satisfatório quando conseguimos uma combinação entre os 5 ou mais Jokers em jogo, com um baralho construido com base no que temos onde acabamos por ter cartas repetidas propositadamente para aumentar a nossa pontuação. Como disse aqui cometemos toda uma quantidade de ilegalidades e somos assumidamente batoteiros, o que é aceite porque nunca na realidade teríamos cartas feitas de vidro que pontuam imenso, mas têm uma grande hipótese de se partirem, ou de metal que multiplicam a nossa pontuação. É um jogo de "não Poker", na realidade, por muito que usemos as mãos desse jogo não é de esperar ter 5 ases de espadas, entre outras coisas que se fossemos apanhados a fazer num jogo de Poker "a sério", além de confusos pela batota bizarra, nunca mais jogariam connosco.


Se há uma palavra que vi associada a este jogo é que se torna hipnótico, ver ali os nossos pontos a escalar de uma maneira absurda e quando pensamos que estamos no auge, calha-nos uma run com uma regra que nos poder arruinar o jogo por completo, como se fosse um boss num outro roguelike que nos vai mandar para o início do jogo. É nestes momentos em que pensava "vá, só mais uma run" e dava por mim a jogar várias vezes seguidas, onde aquilo que seria apenas uma sessão de 30 minutos transforma-se em quatro horas. Foi um erro ter começado a jogar Balatro porque desde então ainda não o larguei, até porque tenho Jokers para desbloquear e ainda não tenho os baralhos todos, que estou curioso por saber o que fazem.

Talvez o que aconselho mesmo é… joguem Balatro? É difícil descrever o quão incrível o jogo é, e bizarro também porque se há coisa que não associamos facilmente a incrível é jogos de cartas, mas penso que se trata mesmo num daqueles casos que é preciso experimentar para compreender o fascínio. Sei que não será jogo para todos, mas sinto que é um jogo extremamente fácil de recomendar, com um valor acessível e disponível em tantos formatos que não dá para escapar ao olhar hipnotizante de Quim a dizer, "comprem o jogo".


Sei que venho tarde, que já devia ter abraçado Balatro há mais tempo mas, hei, mais vale tarde do que nunca, não? Tem sido a minha companhia quase diária desde que o joguei, sempre presenta na minha Nintendo Switch de fácil transporte em que rapidamente estou pronto para mais uma sessão de jogo. Termino até com uma nota, que o jogo recebeu umas atualizações (gratuitas!) puramente cosméticas que usam universos como The Witcher, Cyberpunk, Dave the Diver ou até mesmo Binding of Isaac para decorar certos naipes, oferecidos assim do nada que quem sabe, não virão ainda mais a caminho?


Nota: Análise efetuada através de uma cópia original para a Nintendo Switch, adquirida pelo autor do artigo.

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