The Spectrum
A atenção ao detalhe com The Spectrum está mal vemos a caixa: simples, com destaque no produto e com as icónicas quatro linhas coloridas que se destacam. Quatro cores que nos anos 80 diziam que este produto suportava até 15 vibrantes cores, uma evolução quando comparado com as máquinas que se limitavam ao preto e branco. Abrindo a caixa temos uma belíssima apresentação, com uns toques retro e o sistema em si em grande destaque, pronto para ser jogado mal o ligarmos a um ecrã, através de uma entrada HDMI.
Navegar nestes jogos pode ser algo… obtuso. Sinais dos tempos, vá, o que não quer dizer que não seja fácil de entrar em cada um dos jogos e começar logo a jogar! Incluído com este lançamento, de forma digital, é mais que aconselhado visitarem a página com o guia para cada um dos 48 jogos (link para as instruções), de forma a não ficarem empancados no ecrã que nos pergunta como queremos jogar. Uma vantagem de andar a saltar entre jogos é que estes são carregados instantaneamente, sem a longa espera para que o jogo carregasse, o que é incrível, mas em parte deixou-me um pouco desconsolado.
Verdade seja dita que a minha nostalgia com os Sinclair Spectrum não foi passado pelos originais, mas sim pelo Sinclair ZX Spectrum 128k +2, um grande teclado com teclas diferentes a este The Spectrum, todo em plástico e com um conveniente leitor de cassetes integrado. Era aqui que toda a magia acontecia, colocava a cassete (que na prática era uma cassete de música, com um jogo lá gravado), inseria a mágica frase "Load aspas aspas", Enter e Play, iniciando então a leitura do jogo e rezando que o mesmo ia ler, se não teria de estar a afinar o parafuso junto do leitor. Seguiam-se minutos a ouvir uma melodia bizarra e uma moldura frenética de cores que, aos poucos, iam revelando a arte do jogo no centro do ecrã, para começar a jogar segundos depois.
Foi das coisas que mais senti falta neste regresso ao passado, juntamente com todos os jogos icónicos que me acompanharam na infância. Entre os 48 há títulos incríveis como The Way of the Exploding Fist, Starstrike II, Alien Girl: Skirmish Edition ou o icónico Manic Miner, mas, jogos como Spooked, Treasure Island Dizzy ou Chase H.Q., entre muitos jogos responsáveis por criar o fã de videojogos que há em mim não marcaram aqui presença. Há alguns jogos que também desbloqueamos, versões ou sequelas dos jogos existentes na biblioteca principal do The Spectrum, que ganhamos acesso ao jogar ou terminar alguns jogos. Claro que a minha nostalgia pode ser bem alimentada através de uma Pen USB, onde posso colocar lá jogos do Spectrum (e vêm instruções de como o fazer!), mas gostaria de ter visto alguns dos títulos icónicos da minha infância.
Já ao nível de hardware, o produto em si ao tentar replicar ao máximo o original tem um valor enorme, podendo até ser uma simples peça de exposição que por acaso é jogável. Certo que há todo um conjunto de ligações e entradas atrás que não existiam na altura, sendo que algo que senti muita falta foi, curiosamente, uma entrada de áudio para poder ligar os meus headphones. A sensação está lá, navegar nos menus e jogos com o esquema de controlos tradicional nas teclas QAOP, controlos para cima, baixo, esquerda e direita respetivamente, recorda-me de tempos em que o (agora) habitual WASD não existia. Também já não me lembrava o quão clunky muitos dos controlos dos jogos eram, o que me levou a fazer muitas asneiras que facilmente podia corrigir voltando atrás no jogo um pouco, antes de ter cometido o erro. Isso e com save states para cada um dos jogos torna-se fácil suspender um jogo, saltar para outro e, quando quisermos, voltamos onde estávamos no jogo suspenso.
É certo que recomendá-lo a quem não tenha crescido com os jogos desta época torna-se complicado, não são propriamente os jogos retro a que estamos habituados a ver com as consolas criadas com o mesmo propósito nostálgico. Ainda assim e, principalmente a quem teve um Spectrum na altura, a que muitos em Portugal chamam de Timex devido ao envolvimento da marca cá com os Spectrum, este é um produto que vos vão trazer belíssimas memórias.
Sei que vou voltar recorrentemente aos jogos deste The Spectrum e jogar muitos outros onde ainda tenho memórias bem vivas, passadas em frente a um pequeno televisor num móvel no quarto (em que usava uma gaveta de roupa como suporte para colocar o Spectrum). Embora tenha jogado todos os jogos há muitos que não consegui terminar, entre os outros que não me parecem ter fim, uma prática mais comum do que podem pensar. E, mesmo quando muitos jogos foram uma novidade para mim, toda a nostalgia que tenho de jogar nos finais dos anos 80 e inícios de 90 voltou-me à mente como se tivesse acontecido há um par de anos!