Shin Megami Tensei V


Quando em janeiro de 2017 assistíamos à primeira grande apresentação da Nintendo Switch, no meio de tanta informação e anúncios, foi pela primeira vez revelado Shin Megami Tensei V (SMTV), um pequeno teaser sem nome que me fez querer (ainda mais) a consola. Afinal é uma das séries RPG que mais me marcam, que anseio por jogar desde os títulos principais da série aos spin-offs como Persona, Devil Summoner ou Strange Journey. O silêncio que se seguiu depois só me deixava impaciente, até saírem os primeiros trailers que me deixaram ainda mais ansioso e, ao mesmo tempo, curioso por saber onde se enquadrava o novo jogo na série… Essa espera termina agora, tais como as dúvidas que me foram aparecendo até pegar, finalmente, naquele que foi um dos jogos que mais aguardei este ano.


Para os que não conhecem bem Shin Megami Tensei, é um RPG tradicional onde os combates são por turnos e a estratégia é chave, onde exploramos um mundo (habitualmente) pós-apocalíptico recheado por anjos e demónios. Uma série que surge em 1992 para a Super Nintendo, que por sua vez é o 3.º título da série Megami Tensei, que surgiu em 1987. Eu sei que parece confuso, mas não tanto com tentar perceber direito a história da série, os seus múltiplos universos e tentar encaixá-los uns nos outros. Mas descansem, não é preciso jogar nenhum deles para jogar SMTV!

Entretanto os fãs e/ou que jogaram pelo menos SMT III e IV, vão-se deliciar com as referências que nos são apresentadas durante esta nova aventura, sendo que recomendo mesmo muito que os joguem antes de saltar para SMTV. Também poderão gostar de saber que a dificuldade do jogo é o esperado, onde em Normal os demónios mais básicos gostam de explorar as fraquezas das nossas personagens. E não que seja sempre assim, mas podemos muito bem entrar com tudo a 100% e, tendo os inimigos iniciativa, atingem-nos de tal maneira que vemos a sequência de Game Over antes de sequer nos podermos mexer. E aqui é mesmo Game Over e regresso ao ecrã inicial, nada de se gastar Play Coins da 3DS para ressuscitar como em SMT IV. Com isto também não quero meter medo, pois podemos a qualquer momento mudar para Casual, que aligeira um pouco a dificuldade e, ainda que não disponível durante esta análise, o modo Safety será ideal para quem não procura este desafio.


Quanto à história: ao regressar de um normal um dia de aulas, o nosso protagonista é transportado para uma cidade de Tóquio bem diferente do que conhece, completamente devastada e conhecida como Da’at. Aqui anjos e demónios travam uma guerra e no meio de todo o caos conhece Aogami, com quem se funde e surge algo que nem é humano nem demónio, um Nahobino. Uma fusão que nos torna capazes de enfrentar os demónios que nos aparecem pela frente, ou até mesmo negociar com eles para que se juntem à nossa equipa. Uma mecânica que adoro, e tal como nos jogos anteriores essa negociação pode correr mal, mas no geral tive bastante mais sucesso em recrutar demónios quando comparado com SMT IV. Temos algumas estreias, demónios que surgem pela primeira vez em 3D, os que têm um novo design e outros que recuperam estilos artísticos de jogos mais antigos.

Não quero prolongar muito mais o enredo, até porque em poucas horas de jogo entramos no campo de spoilers. Posso adiantar que é um jogo bastante maduro, para um público adulto, onde temos personagens que questionam a moral e nos obrigam a tomar decisões. Escolhas que caem num jogo de Light vs Dark, que moldam um pouco o jogo e a nossa visão da sua história. Estas escolhas não se baseiam apenas em diálogos, existem inclusive missões que nos obrigam a seguir um lado, não nos permitindo explorar o que decidimos confrontar. No geral a história cativa, tem um bom leque de surpresas e um bom ritmo, mas senti que o arranque foi um pouco estranho, mais parecia estar a fazer um conjunto de missões secundárias.


Se há algo que adoro na série é a forte capacidade de personalização do protagonista e demónios disponíveis, o que continua bem presente em SMTV! Desde criar demónios com habilidades específicas, às Special Fusions com alguns dos demónios mais marcantes da série (e todo um arsenal de ataques), onde tento jogar com as slots de demónios disponíveis para ter uma equipa devidamente preparada para os vários desafios que surgem. Mas isto é apenas a superfície: através de Essences, itens com propriedades e habilidades de cada demónio, podemos atribuí-los a Nahobino ou a qualquer outro demónio, com algumas restrições. Temos ainda Glory, uma espécie de moeda que nos deixa comprar Miracles, que vão de mais slots para demónios, receber mais experiência, melhorar os atributos de Nahobino, entre imensas melhorias para os combates.

Os combates são como bem conhecemos da série: conhecer os pontos fracos dos inimigos, explorar essas fraquezas para ganhar mais ações por turno, usar e abusar de estados como Poison ou Sleep para obter vantagem e, acima de tudo, evitar que o façam connosco. Para quem jogou SMT III deve-se lembrar de Magatsuhi, algo importante para a sua história. Agora em SMTV é uma barra de energia que, quando cheia, permite-nos usar uma habilidade especial, que vão desde tornar todos os ataques em críticos, dando-nos mais ações por combate, a diferentes ataques especiais por demónio. Mas como nem tudo pode ser a nosso favor, os nossos inimigos também usam Magatsuhi, que quando ativado deixou-me geralmente em pânico. Por vezes, à semelhança dos jogos anteriores, certos bosses pareciam autênticas barreiras que me aniquilavam facilmente, ao que tinha de explorar alternativas e/ou subir um pouco de nível para poder prosseguir.


O estilo artístico da série, a arte tanto das personagens como dos demónios reflectem-se bem no jogo, com uma adaptação ao 3D que tenho vindo a acompanhar desde SMT III aos Persona mais recentes. Há uma boa mistura de mitologia com tecnologia, os cenários urbanos de um Tóquio destruídos envolvidos em magia, mitologia e religião. Temos imensas sequências de jogo, bastante mais dinâmicas quando comparado com os jogos anteriores, que contam bem a história e nos fazem envolver com o que está a acontecer. Há alguns problemas técnicos, como texturas de alta resolução que não carregavam de imediato ou quebras de fluidez em momentos mais sobrecarregados, e em modo portátil, mas no geral todo o jogo está recheado de detalhes, deste os prédios destruídos, aos demónios que lá encontrava ao próprio céu do jogo. Senti que Da’at era repetitivo em certas ocasiões e um ou outro cenário eram meio labirínticos, mas todas as zonas têm momentos que nos apanham de surpresa e muito, mas muito para explorar. Sem entrar em detalhe, vão querer explorar tudo ao máximo, nem que seja para destruir os Abscess, ninhos de demónios que nos dão mais Miracles quando derrotados.

E tudo isto que apontei é muito bem acompanhado por uma banda sonora incrível, sem dúvida, entre as minhas favoritas de Shin Megami Tensei e os seus spin-offs. Ela é violenta quando tem de ser, os diferentes temas de combate entram no momento certo e acompanham bem os desafios, tal como acalma nos momentos simples de exploração, ou nas sequências. Também o voice-acting está bastante bom, sendo que joguei em inglês por não ter (ainda) a opção das vozes em japonês.

 

Que me resta apontar? Se são fãs de RPGs mais tradicionais e procuram algo novo na Switch, não pensem duas vezes, mesmo se a dificuldade do jogo vos parecer algo que bloqueie a vossa experiência, optem pelas dificuldades mais acessíveis. Ao mesmo tempo se querem algo bem desafiante, podem também contar com o modo Hard. É um jogo que vou explorar bem todos os cantos dos cenários, conseguir todos os demónios e as suas fusões e explorar a pente fino os cantos de Da’at. Shin Megami Tensei está de volta e em grande! Num regresso que valeu a pena tantos anos de espera, e com conteúdos como lutar contra Demi-fiend, o protagonista de SMT III aí a chegar (entre outros bosses emblemáticos), tenho que me preparar bem!

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

Latest in Sports