South of Midnight
Obviamente que fiquei com a orelhas no ar, pois se vinha aí um jogo que fortes inspirações em Kena e com uma direção artística fenomenal, o radar dos videjogos começa logo a trabalhar na minha cabeça. Estes tipos de produção a tirar para o AA andam a ganhar muito relevo, pois, em parte, acabam por assumir uma responsabilidade maior numa indústria onde as grandes produções teimam em estagnar em termos de assumir riscos e apresentar ideias novas ao público em geral. Mas será que South of Midnight fez isso... vamos ver.
Em South of Midnight pegamos nas rédeas da sua personagem principal, Hazel, uma adolescente cuja casa, juntamente com sua mãe, é destruída numa tempestade. Na tentativa de salvar a sua mãe, Hazel desbloqueia os poderes da Weaver, permitindo-lhe reparar o mundo onde ele está imperfeito e curar almas humanas. Com habilidades recém-descobertas, Hazel embarca numa missão de salvamento durante a qual desvenda os segredos de sua família, enquanto descobre qual é, verdadeiramente, o seu destino e propósito.
Começamos mal, não é? Logo nesta espécie de sinopse deu para ver que a malta da Compulsion games foi ao baú que tem uma placa que diz "Cenas normais que não nos causem grande celeuma". Com a progressão no jogo este aspeto não melhorou muito em termos de escrita. A típica aprendizagem através do erro e busca por um motivo existencial maior é o principal motor de crescimento da personagem durante o jogo, mais até que salvar a mão da catástrofe, algo que parece servir mais como uma espécie de checkpoint ao longo da história do que outra coisa qualquer.
Algo que é completamente antagónico em termos de apreciação neste jogo é o deleite visual que a Complusion Games proporciona ao jogador cenários com uma paleta de cores diversa e vibrante. À medida que vamos progredindo é-nos mostrado um bioma que embora uniforme e sempre familiar é reinventado constantemente de forma a que nunca exista cansaço visual. Será difícil este ano encontramos um jogo tão belo e estilizado como este. Uma construção de mundo brilhante que enaltece todos os outros aspetos do jogo e que literalmente carrega este jogo às costas.
South of Midnight tem mesmo um estilo visual distinto e que é enaltecido ainda mais pelo stop-motion que faz parte inerente desta representação artística. Isso adiciona um toque único e de salutar ao jogo, MAS tive de desligar essa opção durante o jogo. Confesso que passado 10 min de jogo comecei a ficar um pouco indisposto, pois sou extremamente sensível a framerates baixos num videojogo. Sei que neste caso é uma opção artística, mas executar combate e movimentos abaixo de 30 frames dão cabo da minha pessoa.
Falando em combate... é provavelmente o aspeto menos conseguido deste jogo. Novamente, não quer dizer que seja mau, mas é tão igual em termos de movimentos, progressão ou animações a tantos outros que rapidamente se torna repetitivo e se adicionarmos os problemas de câmara que teimam em andar sempre a assombrar a sessão de jogo (algo que foi relativamente mitigado através de patches posteriores ao lançamento). O número de habilidades ao nosso dispor até é bastante generoso, mas o combate revelou-se sempre pouco desafiante e ambicioso embora as lutas com os bosses até apresentem algumas mudanças em termos de mecânicas que foram bem-vindas.
Nota final muito positiva para a banda sonora que acompanha o jogo e combina na perfeição com o tom apresentado no jogo.
South of Midnight, embora visualmente fantástico, não traz nada de novo para cima da mesa dos videojogos.
Uma história igual a tantas outras que já existem, com personagens que, embora relacionáveis, não ficam na memoria. A jogabilidade assente em mecânicas que já foram repetidas vezes sem conta pela industria dos videojogos também não ajuda à causa e os problemas de câmara que o jogo apresenta mais vezes do que devia são a cereja que ninguém queria no topo de um bolo, que embora seja muito bonito, tem pouco sabor.
A ideia que fica é que a Compulsion Games criou um mundo belo e depois teve necessidade de o encher com qualquer coisa para completar o pacote. Quer dizer isto que South of Midnight é um mau jogo? Não, e se gostam deste tipo de jogos então ainda melhor... mas o excesso de criatividade que foi inserido a nível visual e auditivo pecou por defeito no que respeita aos restantes aspetos do jogo. Uma pena.