Metroid Dread


Quase duas décadas depois, Samus está de volta às aventuras 2D da série que trouxe a palavra "Metroid" a todo o género "metroidvania", naquele que pretende ser tanto uma sequela, como uma conclusão da saga original. Um jogo que demorou mais de 15 anos a acontecer, até que o diretor encontrasse aquela que considerou ser a equipa ideal, e chega agora à Nintendo Switch.

Metroid Dread é o título desta nova aventura de Samus, na qual irá enfrentar a mais ameaçadora jornada da sua carreira como "bounty hunter" intergalática. Para contexto, o jogo começa com uma explicação do que se passou nos jogos anteriores, com especial destaque para as criaturas metroid, entretanto já extintas, e o que depois se sucedeu em Metroid Fusion com os perigosos vírus "X", para os quais a única defesa seriam as tais criaturas que Samus destruiu. Oops. Samus acaba por salvar o dia, mas só depois de ter sido injetada com ADN do último metroid no seu próprio corpo, o que lhe conferiu também novas habilidades.

Anos depois, porém, surge um novo problema que agita toda a Federação. Após inesperados rumores de que os vírus "X" foram encontrados no planeta ZDR, a Federação envia os seus poderosos robôs E.M.M.I. (Extraplanetary Multiform Mobile Identifier) com o objetivo de investigar a situação e, caso encontrem esse ou outro vírus, façam a extração do seu ADN. Problema: assim que chegam ao planeta, algo corre mal e os robôs deixam de comunicar com a Federação. Tudo indica que poderá ter sido uma armadilha, e é aqui que entra a nossa protagonista, convocada para investigar o que realmente aconteceu.

Surpresa: era mesmo uma armadilha e, assim que aterra no planeta, Samus é confrontada por um poderoso Guerreiro Chozo, que a deixa inconsciente e praticamente sem poderes no seu equipamento, numa zona desconhecida. Ao estabelecer contacto com a inteligência artificial da sua nave, esta recomenda que Samus tente voltar o mais rapidamente possível e sair do planeta, mas isso acaba por ser mais fácil de dizer do que fazer, pois os E.M.M.I. encontram-se espalhados por diferentes áreas em modo de vigilância, com uma única missão: capturar tudo o que mexe.



É esta a premissa daquela que será uma perigosa e desafiante aventura, num jogo que combina ação e exploração, fiel a toda a série à qual pretende trazer uma conclusão, com algumas surpresas pelo meio. Os primeiros passos neste planeta acabam por ser um pequeno tutorial de toda a jornada, começando por demonstrar toda a agilidade da personagem que se está a controlar, mesmo desprovida de quase todo o equipamento: saltar, deslizar e contra-atacar serão sempre ações fundamentais. E assim surge o primeiro encontro com um E.M.M.I., chegando à sua área de vigilância. Estas são zonas específicas do mapa que o robô vai patrulhando, das quais nunca irá sair, pelo que em caso de perigo a melhor opção será sempre tentar escapar da zona antes que ele encontre a Samus. Conseguirá ela fugir?

Não é por acaso que estes robôs fazem parte da capa do jogo, esta é mesmo uma parte central de toda a experiência onde, ao mais pequeno descuido, Samus é capturada, assassinada, e "Game Over". Felizmente, o jogo guarda como "checkpoint" a última localização antes de se ter entrado na zona de vigilância, tornando menos frustrante a sensação de tentativa e erro onde, para além de fugir ao robô, muitas vezes será necessário também abrir novos caminhos, o que naturalmente também chama à atenção do caçador. Por falar em "checkpoints" automáticos, eles estarão também presentes em várias situações de perigo elevado, mas ainda assim é recomendado gravar de todas as vezes que se passa por um local que o permita fazer, já que o "checkpoint" só funciona como um "tentar outra vez".

As áreas de vigilância são mesmo um ponto de stress ao longo da aventura, mas os robôs não são totalmente indestrutíveis: em cada uma destas zonas, há uma espécie de olho guardião cuja energia poderá ser utilizada para derrotar o E.M.M.I.. Ainda assim, até que se consiga obter esse poder, haverá toda uma jornada de exploração. Afinal, este não seria um "Metroid" se não trouxesse um mapa labiríntico e recheado de segredos, incluindo itens, upgrades e, claro, muitos inimigos. Embora o jogo inclua, ocasionalmente, algumas pistas de para onde se deve ir, estas são suficientemente vagas para que o jogador se possa sentir completamente perdido. Boa altura para ir em busca de objetos escondidos pelo mapa, note-se, mas poderá ser também uma grande frustração para os jogadores que prefiram algo mais linear ou evidente. Uma regra geral é que, a cada novo poder ou habilidade, passam a haver novos caminhos à disposição e se, mesmo assim, não se consegue seguir na direção de um certo objetivo, é porque haverá outra coisa a fazer primeiro noutro local.



Importa então, deixar claro que Metroid Dread não é um jogo fácil, e até os mais "veteranos" da série irão encontrar aqui grandes desafios, não só em termos de exploração e as áreas ocupadas pelos E.M.M.I., mas também no combate contra bosses. Ao contrário do que acontecia em jogos anteriores, onde o próprio mapa e a localização dos pontos de gravação já diziam o que se poderia esperar, aqui eles poderão surgir a qualquer momento, deixando sempre presente a ideia que algo poderá acontecer na área a seguir, incluindo um novo boss para enfrentar. Ao mesmo tempo, o jogo consegue ser stressante, frustrante e gratificante. Na sua grande maioria, os bosses funcionam como um ciclo de tentativa e erro, até se aprender quais são os seus movimentos, como escapar dos ataques e, depois, como os atacar. Pelo meio, muito ecrã de "Game Over", especialmente quando o boss tem diferentes fases de ataques e se terá de voltar a repetir todo o processo desde o início. Finalmente, há a gratificação que se sente depois de o derrotar e, assim, poder continuar a explorar.

Tal como nos anteriores, o jogo não conta com qualquer opção de dificuldade ou acessibilidade, apesar de ser ainda mais difícil que qualquer um deles, tanto no que diz respeito aos bosses, como na forma como alguns dos caminhos "principais" conseguem estar mesmo bem escondidos. Na minha experiência, completar toda a jornada levou cerca de 11 horas, mas isso irá variar bastante para cada jogador e o número de vezes que vá ficar perdido no mapa ou a tentar simplesmente derrotar um boss. A própria jogabilidade, embora rápida e fluída, exige mestria em algumas situações, nas quais a melhor forma de enfrentar um boss implica alternar entre diferentes combinações de dois ou três botões em simultâneo.



Visualmente, é um belíssimo jogo 2D em cenários integralmente criados em 3D, que nos leva por diversos ambientes que vão desde o tecnológico ao natural, demarcando facilmente as diversas regiões do planeta que se está a explorar. Tanto a Samus como os inimigos destacam-se facilmente dos cenários onde, habitualmente, os mais elaborados são áreas seguras para se explorar e apreciar. Na Nintendo Switch OLED em modo portátil, os gráficos destacam-se ainda mais graças ao alto contraste proporcionado pelo ecrã da consola. Já em termos de fluidez, é um jogo totalmente estável do princípio ao fim, apresentando apenas algumas quebras de framerate no ecrã de loading, que surge quando se apanha um transporte para ir de uma região para outra. O jogo conta ainda com uma boa banda sonora, para a qual se recomenda usar um headset a acompanhar.



Metroid Dread é um jogo que tanto consegue trazer de stress e tensão, como de euforia e superação ao longo de toda a aventura, com uma boa história a acompanhar a exploração de um planeta recheado de perigos. Sem se poder ajustar a dificuldade, porém, este não será um jogo para quem desista após alguma frustração, nesta que é a missão mais difícil da Samus até hoje.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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