Nioh 2


Há uns anos chegou-me quase como um desafio, Nioh. A minha primeira experiência "à Souls" onde me esperavam dezenas de horas de uma luta constante pela sobrevivência, recheadas de muita frustração e momentos surpreendentes que acabavam por agarrar-me ao jogo. O jogo viria a mostrar-se algo diferente do que é Dark Souls, aproximando-se mais da essência do que a Team Ninja tem no seu histórico e tudo isso parece regressar em boa forma com Nioh 2, uma prequela do que William viria a conhecer na sua luta pela sobrevivência.

Cerca de 50 anos antes do primeiro jogo, assumimos o papel de um Shiftling, uma entidade meio humana meio Yokai com poderes que vão desde transformar-se num demónio a invocar o poder de vários demónios que vamos encontrando ou derrotando pelo caminho. O personagem é totalmente criado por nós num método de criação bastante detalhado, que a qualquer momento no jogo podemos alterar por completo sem qualquer consequência. Poucos minutos depois de termos tudo pronto somos logo introduzidos ao primeiro "bicharoco" do jogo, um mid-boss que nos obriga a lembrar de tudo o que aprendemos em Nioh, quase que como tivéssemos acabado de o jogar. Estamos de volta!


Em pouco tempo recordamos os maneirismos que os Yokai tanto gostavam de abusar, reconhecer os seus movimentos e padrões de ataque para desviar, contra-atacar e dar bom uso dos Ki Pulses, um rápido premir do botão que nos recupera a barra de Ki, mais vital que a própria barra de vida: ela estando a zero não temos como atacar, deixando-nos extremamente vulneráveis a ataques que nos podem matar num só movimente. A jogabilidade é fiel ao jogo original, acompanhada por novos truques, tipos de armas ou a transformação em Yokai, sendo que todos os pontos já familiares do jogo anterior estão mais refinados. Explorar as novas armas deu-me um gozo tremendo, a Switchglaive rapidamente tornou-se na minha arma de seleção. Todas as armas, tal como outros pontos na evolução do personagem, contam com uma ótima Skill Tree recheada de truques a desbloquear e, mesmo que não tenha sofrido nenhuma evolução drástica face ao jogo anterior, temos uma grande seleção pela frente.

As habilidades de Yokai são uma ótima adição, que não nos deixa tão forte como poderíamos imaginar: demora algum tempo até nos conseguir nos transformar e mesmo essa transformação não dura assim tanto tempo, sendo que com a progressão do jogo vamos desbloqueando também novas habilidades para esta transformação. Para além de invocar o ataque de um Yokai, um truque que abusamos constantemente é o Burst Counter, um forte contra-ataque que várias vezes deixa os inimigos sem defesa, criando o momento perfeito para os atingir. Muitos dos inimigos comuns que encontramos são repetidos grande parte do jogo e grande parte deles parecem retirados do primeiro, com uma alteração cosmética. Entre eles os humanos continuam a servir de carne para canhão, derrotados em meia dúzia de ataques e servem principalmente para nos encher os bolsos de dinheiro ou equipamento.


Outra novidade que (geralmente) nos acaba por facilitar a vida são as Benevolent Graves, "fantasmas" deixados por outros jogadores controlados por AI que nos assistem no combate quer enquanto exploramos o mapa ou enfrentamos bosses. Digo que geralmente nos ajudam pois dei por mim a não os usar tanto como esperado, pelo simples facto do AI ser incompetente ou genuinamente suicida, desde ficar em zonas de dano até morrer, seguir inimigos até aos confins e chamando todo um exército de volta com ele, o que nos entregava a morte certa. Também as Bloody Grave estão de volta, onde enfrentamos o perfil de outro jogador que foi derrotado em combate, apresentando o motivo da sua morte que tanto serve de aviso como de vergonha: morreram quando tropeçaram para o abismo? O jogo assim o diz.

Tão rapidamente empolgava-me de novo como recebia uma chapada de mão cheia do quão impiedoso Nioh conseguiu ser, muitas vezes pela minha aselhice mas também porque aqui a vida não nos é facilitada. Não basta subir de nível ou ter armas melhores para conseguir derrotar facilmente os bosses, há que aprender os seus movimentos quase que como uma dança, reconhecer os momentos em que nos podemos desviar e quando devemos atacar. Continua a ser gratificante quando conseguimos dominar o combate, sendo que estando melhor preparados o sentimento é ainda maior, pensando que somos "imparáveis" até levar com um rochedo e morrer esmagados contra a parede. Ou morrer queimados vivos, numa poça de veneno, paralizados, comidos vivos... são muitas as armadilhas a decorar. São também muitos os bosses a enfrentar, com boas recompensas se explorarmos todas as missões disponíveis no jogo.

Senti que a progressão pelos cenários está bastante mais coesa, mesmo que visitar Shrines onde recuperamos a nossa vida e gravamos o progresso, à medida que exploramos o mapa vamos abrindo portas, descer escadas, criar todo um tipo de atalhos que nos permitem avançar no cenário sem o ter de repetir todo, já que os inimigos normais reaparecem. Existem agora secções Dark Realm de dificuldade acrescida, tanto opcionais como obrigatórias e temos de prosseguir com extremo cuidado, até porque o nosso Ki recupera mais lentamente, o que nos deixa vulneráveis. Praticamente em todos os cenários os visuais estão bastante detalhados e podemos optar entre uma fluidez mais cinemática com um grafismo mais polido, uma de ação mais fluída ou um misto.


Enquanto que a jogabilidade brilha e apresenta-se como uma boa evolução, já a história em si, parece que chega a meio gás. Embora goste muito do criador de personagem, acabamos por ficar com um protagonista inexpressivo que se limita a mostrar a adaga que tem quando nos pergunta quem somos. Recebemos a alcunha de Hide para facilitar as coisas, nome dado por Tokichiro, personagem que nos acompanha durante a aventura e acaba por falar pelos 2. A história em si não é má, pelo contrário, ela desenvolve bem e é interessante acompanhar o crescimento de Nobunaga que levaram até ao ponto que chegou no primeiro Nioh, mas a interação do nosso protagonista, ou falta dela, acaba por deixar a desejar e, pessoalmente, deixar-me com saudades de vestir a pele de William. Apesar disso explorar um Período Sengoku no Japão mais místico, recheado de Yokai sendo a sua existência algo banal, é bastante positivo.

A história parece um pouco contada aos saltos, com passagens de tempo que se limitam a uma data que aparece no ecrã quando avançamos nos capítulos, mas ainda assim a evolução do enredo é positivo. Não é obrigatório ter jogado o primeiro jogo, mas há pontos feitos a pensar nos que o jogaram, cujos detalhes não vou revelar. Quer avançar nas missões principais como secundárias, damos por nós a depositar várias horas na aventura, muitas horas dessas que, se forem como eu, são de todas as vezes em que foram derrotados.


Nioh 2 vem recheado de ótimos momentos de ação, muito bem acompanhados por uma sensação constante de perigo e desafio que ao mínimo descuido somos recebidos por um Game Over, mas com prática e paciência damos por nós a derrotar com facilidade os vários Yokai que nos são apresentados. Enquanto que em Nioh surgia em mim uma nostalgia por Onimusha, relembrando-me esse clássico da Capcom, agora sinto que Nioh é uma série já bem estabelecida, mesmo que tenha apenas dois jogos.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela SIEE.

Latest in Sports