Trek to Yomi


Atualmente, o género beat-em-up parece estar a renascer das cinzas embora ainda muito tímido, com o regresso de Streets of Rage ou Teenage Mutant Ninja Turtles que acompanharam toda uma geração de jogadores. Trek to Yomi, mesmo descartando coisas típicas como pontos ou pedaços de comida que aparecem aleatoriamente no cenário, segue a estrutura de um jogo de ação tradicional, com uma jogabilidade nas duas dimensões e que nos faz viajar no tempo.


Uma viagem que faz todo o sentido. Estamos na época de Edo (séc. XVII a XIX) onde samurai lutavam entre e não só, uma narrativa acompanhada pela estética de filmes clássicos, a preto e branco, extremamente fiel ao trabalho do mestre cinematográfico Akira Kurosawa, responsável pelo nascer de todo um estilo de filmes japoneses que este jogo homenageia. O resultado acaba por ser algo muito focado no estilo artístico, com uma jogabilidade tradicional e bastante contemporâneo. Algo que apreciei imenso, quer como fã de filmes de samurai antigos, quer pelo cuidado extra que deram à arte do jogo, e por ser um estilo de jogo que é ainda escasso.

Corremos por cenários cheios de detalhe, a lidar com imensos inimigos e armadilhas enquanto ouvimos os gritos de pedidos de ajuda constantes no início, com uma mudança drástica para os imensos sons da natureza, pouco tempo depois. Inicialmente a jogabilidade é bastante simples, onde gradualmente vamos aprendendo novas habilidades, combos e aumentar a nossa vida e ataques de longo alcance. O mais importante no combate é todo o sistema de bloqueio e contra-ataque, aproveitando todas as oportunidades para derrotar os adversários. Mas enquanto estamos a aprender novas coisas, o resultado acaba por ser algo meio confuso, meio desinteressante. Por muitas habilidades novas, acabamos por usar os ataques mais simples por serem os mais oportunos, onde a partir de certo ponto dei por mim a colocar-me propositadamente de costas para criar melhores oportunidades de ataque, exceto as combos que, quando possíveis, são vários ataques seguidos. Peca por não terem melhorado a jogabilidade, por ser um jogo mais frustrante que difícil e, por muito sólidas que fossem as bases, o resultado deixa algo a desejar.


Já a nível de direção artística, o resultado é incrível! Seja pelos filtros de ruído, que simula o velhinho cinema analógico, um ecrã mais horizontal como se retratasse de um filme no cinema, os planos de câmara nas sequências de história... Aqui os fãs de cinema têm um jogo feito à sua medida, principalmente para os que devoram filmes clássicos. A ausência de música com um foco nos efeitos sonoros em nosso redor, como chuva ou água a correr perto, o som do vento a interagir com o cenário, enriquece muito o ambiente do jogo. Em certos pontos sabia que estava a chegar a um local pois, gradualmente, os sons que pareciam distantes tornavam-se mais fortes. Sou suspeito, pois a direção artística é dos pontos que mais me tocam e este é um jogo que me agradou imenso, dos visuais à sonoplastia, sendo que o ponto que mais me desiludiu foi a nível de interface. Sem querer debater muito o tema, tudo o que era texto no jogo era tão extremamente pequeno, que mal conseguia ler as legendas, ou os textos no menu serem quase indecifráveis.

São pequenas coisas que se acumulam e me tiram algum gosto a um jogo que, apesar destes pontos, gostei imenso. Não é uma aventura longa, mas é recheada de momentos fortes, surpresas e dramas muito ao género dos filmes de samurai. Mesmo com uma exploração linear, há muitas pequenas coisas a descobrir nos cenários, itens que colecionamos ou inimigos secretos, algo que vai ao agrado dos colecionistas. Dei por mim, sempre que entrava num ecrã novo, à procura dos pequenos brilhos que simbolizavam os itens a apanhar e, foram várias as vezes, que andei para a frente e para trás para tentar não me esquecer de nada.


A história... bem, sem entrar muito em spoilers (já que na essência, o jogo é uma história) tem uma narrativa bastante boa, que encaixa na perfeição em todo o estilo Akira Kurosawa, com dramas rápidos e eficazes no momento. Para quem não está familiarizado com os filmes do cineasta, imaginem um filme clássico passado no Japão, com cenas de ação com sangue, embora sem exageros, numa espécie de western oriental, não fosse o cinema western uma das grandes influências para Kurosawa. Arrisco-me a dizer que já viram aqueles combates icónicos onde dois samurais correm em direção um do outro, aplicam um corte certeiro de espada e, passados alguns segundos, um deles cai morto no chão, ou até mesmo ambos! É esse tipo de filme, e Trek to Yomi respeita (e muito bem) o material de origem.


Trek to Yomi é um jogo que merecia ser bastante polido antes de lançar, não só para aprofundar a visão estética do jogo como para melhorar a jogabilidade. Disto isto é um jogo que recomendo facilmente, que não vos irá pedir muito do vosso tempo e sem tempos mortos, é um bom jogo de ação ao velhinho estilo beat-em-up.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Xbox Series, gentilmente cedido pela Devolver Digital

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