Observer


É fácil fazer um jogo cyberpunk, basta meter noite, chuva, referências a Blade Runner e a 1984 dentro de uma panela e esperar.

Observer segue a receita à risca e o resultado é um prato fácil de comer, mas que pode saber a restos do dia anterior. Eu estou no meio, adoro o género, mas não consegui gostar deste jogo. Há tempos analisei o Layers of Fear do mesmo estúdio e gostei. Gostei mesmo e assustei-me várias vezes e adorei explorar e interagir com o mundo que a Bloober Team criou, mas cinco minutos em Observer e queria arrancar os olhos para não os trocar por implantes oculares. Também, jogar com ou sem olhos iria dar ao mesmo. Comecei o jogo na televisão e a imagem estava esbatida como se todas as minhas definições estivessem desreguladas. Fui pesquisar à Internet e disseram que o visual VHS era um dos defeitos/qualidades do jogo, mas que no modo portátil jogava-se melhor. Bem, e foi o que fiz: tirei a consola da base, liguei uns auscultadores e atirei-me à aventura. Mas a imagem era tão escura que nem as definições da consola e do jogo ajudaram. Estava a ser um desafio jogar decentemente, mas insisti, insisti e avancei nos minutos iniciais para fazer o tutorial.


Estamos na Cracóvia, Polónia, e o ano é 2084. Nessa noite somos todos o Daniel Lazarski, um detective gasto e que já viu demasiado da vida – ele é um Observer, aquele que tem capacidades especiais para se infiltrar nas mentes das pessoas. O facto de ser o Rutger Hauer a dar a voz à personagem principal é positivo, mas a impressão com que fiquei é que ele estava a ler um guião e nem estava para lá virado, mas alguns desenvolvimentos acabam por dar peso à escolha do actor. Após recebermos uma chamada do nosso filho, vamos ter ao seu apartamento para descobrir um corpo decapitado à nossa espera e a trama começa.

Observer é um walking simulator onde investigamos, falamos e saltamos com os sustos fáceis. É lento, mas podem ajustar essas definições, e triste. Não a história (muito, muito subtil), mas porque o nosso futuro é sempre triste e decadente. Pelos cantos da urbanização vemos os resultados da nanophage, uma praga digital que varreu a espécie humana e atirou muitos para os braços da droga; pessoas tombadas e ressacadas; pessoas que perderam a batalha contra a tecnologia ou assaltadas por outros humanos porque o mal final é sempre humano, olhem por onde olharem. Até a nossa personagem não escapa, tendo de se injectar de quando a quando para conseguir funcionar.


Quero acreditar que este jogo é um choque e espanto visual, mas não na nossa Switch. Talvez num computador decente. Pena, já que o Layers of Fear era competente neste campo. Mas agora podemos falar da banda sonora? Não que consiga escrever o nome do homem sem olhar para a ficha técnica, mas o senhor Arkadiusz Reikowski conseguiu a mesma proeza do Layers, uma banda sonora envolvente, natural e que bebe às conchas do tema cyberpunk. Não, não temos Vangelis, mas temos peças lúgubres, pesadas e arrepiantes. E uma das razões de eu gostar do género é por causa da banda sonora, dêem-me alguns sintetizadores, electrónica e umas músicas que me lembrem dias chuvosos, onde nada se passa para além da consola, jogo e eu, e temos um casamento perfeito.

Termino com poucas palavras e recomendo o jogo, mas ficam avisados: há dificuldades técnicas a superar. Se encararem como efeitos secundários dos implantes ou da ressaca das drogas, vão encontrar um enredo subtil, mas eficaz. Alguns sustos baratos e tolos, personagens estranhas e um ambiente envolvente. A Bloober Team encontrou o seu nicho e espero que continuem no mesmo caminho.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Bloober Team.

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