Monster Boy and the Cursed Kingdom


"Um sonho tornado realidade", dizem os criadores do jogo, que tiveram o prazer de trabalhar com Ryuichi Nishizawa, criador do original Wonder Boy que nos anos 80 e 90 captou a imaginação dos jogadores na Master System e Mega Drive, depois de ter originado nas arcadas.

De certa forma, Monster Boy and the Cursed Kingdom é uma "sequela" com mais de 20 anos de atraso. Ignoremos, então, o legado da série. É que aqui, desde o momento em que se liga pela primeira vez o jogo, até aos primeiros passos com o herói de cabelo azul, um sentimento raro transparece: este é um jogo especial.

Para quem nunca jogou ou desconhece por completo a série em que este Monster Boy se baseia, este jogo pode ser considerado um "metroidvania", no qual o nosso protagonista é um jovem que se irá transformar em diferentes criaturas ao longo da aventura. Tudo começou quando o seu tio, completamente fora de si, começa a usar magia para transformar todos os habitantes do reino em animais antropomórficos. Numa tentativa de o travar, o nosso herói acaba por também ser transformado, nomeadamente num porco. Mas este é um herói optimista e não desistirá assim tão facilmente!


Embora a aventura tenha uma estrutura bastante linear, o mapa é pensado numa lógica de exploração, recheado de segredos e áreas aparentemente inacessíveis que irão incentivar ao backtracking após se obterem novas habilidades ou transformações. À medida que se vai avançando, o herói vai adquirindo novas formas entre as quais poderá alternar livremente e, assim, aceder a zonas que anteriormente lhe estariam vedadas. Ao todo, serão seis formas diferentes, todas com caraterísticas muito distintas e que deverão ser utilizadas de forma a se poder avançar e resolver puzzles situacionais.

Sendo um jogo de aventura e exploração, os mais curiosos serão recompensados com melhorias ao seu equipamento encontradas um pouco por toda a parte, algo que irá ajudar a enfrentar a dificuldade do jogo. Este não é um jogo frustrante, entenda-se, mas também não é um "passeio no parque". A distribuição de pontos de gravação pelo mapa é generosa e a morte da personagem irá levá-la ao último ponto visitado, mas sem perder as moedas que acumulou pelo caminho. Estas poderão ser úteis para adquirir melhorias ao equipamento, por exemplo.


O jogo requer alguma atenção aos movimentos dos inimigos, aprender os seus comportamentos e agir com alguma destreza. Há certas sequências do mapa que poderão ser consideradas como um desafio à capacidade dos jogadores, outras áreas apresentam puzzles que testam o conhecimento das habilidades adquiridas pelo jogador. Muitos puzzles, especialmente os opcionais, irão exigir mais do que uma transformação e alguma coordenação, pelo que se tornam bastante recompensadores quando superados. O mesmo pode ser dito em relação aos bosses que, conforme se vai avançando, se revelam cada vez mais complexos e com diferentes padrões de ataque ao longo da batalha. Mais uma vez, sem ser um jogo "fácil", está longe de ser uma experiência frustrante: é apenas exigente. Além disso, com uma boa longevidade, podendo facilmente ultrapassar as 10h-15h de jogo, especialmente a quem quiser fazer 100%.

Dito isto, e não desfazendo, a arte do jogo é sem dúvida o melhor deste Monster Boy. Os cenários, personagens e inimigos, incluindo os bosses, são simplesmente lindíssimos. É um jogo encantador de se ver, ao mesmo tempo "retro", evocando o melhor das animações dos anos 90, e moderno, com gráficos Full HD a correr a 60 fps. As animações das personagens são fantásticas, todas feitas à mão, já para não falar da introdução do jogo, toda ela em animação! Também a banda sonora é muito agradável e bastante adequada aos cenários em que é apresentada.


Monster Boy and the Cursed Kingdom é um trabalho cheio de paixão. O carinho com que foi feito transparece de uma ponta à outra, tanto pela sua arte como pelo design dos cenários cheios de segredos, puzzles e desafios. Embora seja uma sequela de um jogo antigo, em tudo é um título atual e muito fácil de recomendar mesmo a quem nunca jogou um "Wonder Boy" mas gosta de um bom Castlevania ou Metroid.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela FDG Entertainment

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