Ghost 1.0
Para os amantes dos jogos ao estilo Metroidvania, Ghost 1.0 chega à Nintendo Switch para mostrar que este género continua bem vivo e desafiante, aqui com inspiração no fantástico Ghost in the Shell e diálogos humorísticos com referências à cultura pop. Estão aqui todas as bases: explorar, disparar, encontrar caminhos secretos e colecionar upgrades. Mas estará este indie à altura dos grandes clássicos do género?
A história foca-se na alma de um soldado feminino capaz de incorporar a casca de um robot (lá está, a pequena referência do Ghost in the Shell), com o objetivo de infiltrar a estação espacial Nakamura e copiar os algoritmos primários da Inteligência Artificial que a companhia está a desenvolver. Uma missão simples e direta, mas que requer ao jogador uma enorme exploração e derrotar centenas de inimigos e até concluir objetivos secundários.
As personagens são engraçadas, principalmente o modo sarcástico da Ghost, personagem principal do jogo. O humor vem sempre ao de cima nos diálogos sérios, onde Ghost por exemplo, sai do seu corpo artificial e comenta “I’ll be back”, referência ao Exterminador Implacável. As referências à cultura pop são imensas, isso dá sempre motivos para um jogador sorrir. O Boogan por exemplo, é o engenheiro que construiu a “casca” para a Ghost residir e Jacker que é o hacker que desbloqueia algumas das portas e ajuda a Ghost a progredir com as suas dicas. As cutscenes em que surgem estas duas personagens têm um toque dos anos 80, pelos os desenhos em si e um estilo "geek" que me agradou imenso.
Quanto à jogabilidade, é na verdade simples e boa, com o analógico direito pode apontar-se para qualquer parte do cenário e disparar. As armas não são muitas, a munição tem um limite de disparos e, assim que chega ao limite, o jogador tem de largar a mão do gatilho por um determinado tempo até recarregar a energia. Existe uma variedade de power ups que podem ser usados ao longo da aventura, tal como reforço de energia, proteção e até atrair objetos ou largar uma gigante explosão no meio do cenário capaz de derrotar todos os adversários.
Mas Ghost tem muito mais, para além da capacidade de saltar e rebolar, pode até apoderar-se de outros ciborgues, ou seja, usar a casca deles. Sendo um fantasma, consegue possuir facilmente qualquer inimigo que não seja um ser vivo, mas também não consegue possuir torres de disparo. Aliás, será necessário o jogador fazer uso dessa habilidade várias vezes, não só para ultrapassar obstáculos como para facilitar a vida, porque Ghost 1.0 não é um jogo fácil. Como nem tudo podia ser perfeito, o ponto que na minha opinião é extremamente negativo é o facto da personagem rebolar apenas para o lado que o jogador está a disparar, ou seja, não é possível rebolar para a frente e disparar contra os inimigos que perseguem Ghost, o que sinceramente torna quase inútil a função de rebolar.
O grafismo é animado, embora pareça um pouco ao estilo dos jogos Flash, não deixa de ser agradável e com cenários minimamente variados. Sendo isto um Metroidvania seria expectável alguma confusão ao explorar o mapa, mas existem de facto corredores variados e mesmo salas com temas específicos. Já os bosses, contam com um design bom e um desafio a sério. Logo o primeiro que se enfrenta dá a entender que é simples, o que até acaba por ser, mas consegue dar trabalho ao jogador e até fazê-lo suar. Não se deve julgar um livro pela capa e um pequeno erro pode ditar a morte ao jogador. Os checkpoints ficam longe uns dos outros, embora cada um permita de imediato teletransportar para outros já anteriormente visitados. A parte engraçada é a forma como se salva o jogo, onde Ghost tem de ativar uma máquina que lhe faz um 3D print. Assim, sempre que perder a casca, ou seja "game over", é possível ressuscitar criando uma nova casca na máquina e continuar a aventura a partir daí. Por falar em perder, caso se perca a antiga casca, é possível recolher os itens colecionados, o jogador tem apenas de voltar ao sítio onde a perdeu. Sim, o jogador perde os itens quando vê o "game over", por isso morrer não é brincadeira.
O upgrade das armas é feito através de cubos que se apanham ao matar inimigos e destruir caixas, esses cubos são basicamente o dinheiro em Ghost 1.0 e não é tarefa fácil colecionar muitos para comprar os itens, especialmente quando se perde tudo pois acaba por ser tal como em Dark Souls. A música é boa mas torna-se repetitiva, na maior parte das vezes o jogador vai atravessar salas e corredores a ouvir sempre o mesmo tema, o que pode ser chato.
É como se fosse “mais um” Metroidvania mas neste caso uma muito boa entrada para o género. Esta versão para a Nintendo Switch beneficia da vertente portátil da consola, com tanto backtracking e exploração a fazer, é um jogo perfeito para ser jogado em casa e levar para a viagem de metro. Um jogo que é obrigatório para fãs do género e que adoram um desafio à maneira tal como eu.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Unepic.