The Banner Saga 3
Pensei em várias maneiras de começar esta análise e todas malhavam em sequelas. Admito que tenho uma relação de amor-ódio para com elas. Se gostar do material de origem e quiser mais daquele mundo e personagens, abraço as sequelas e anseio por elas. Se um foi suficiente e não precisar de mais, acho que fico bem, obrigado.
The Banner Saga introduziu-nos a um mundo inspirado em folclore viking, onde o Sol deixou de se mover (respirem…). O prenúncio de
maus tempos confirma-se quando os Dredge, uma espécie que julgavam extinta, surgem para aniquilar as raças humanas e os gigantes Varl. Começamos com duas caravanas, a de
Rook e a de Hakon, e o objetivo do primeiro jogo é simples: procurar refúgio. Apenas isto e simples. Ao longo da campanha, a relação destes dois líderes com as
restantes personagens e mundo aprofunda-se, criamos laços e tomamos decisões que irão ter impacto nas pessoas que nos acompanham. Adorei o jogo
pelo cariz contemplativo e pelo efeito imediato das nossas decisões. Perdi personagens importantes porque quis ser bom samaritano e quase acabei com a
caravana. O clímax do jogo é visceral e agridoce, independentemente do que escolhemos alguém vai morrer e as sequelas seguem com isso.
The Banner Saga 2 começa imediatamente após o final do primeiro jogo. Sem muitas demoras e com a guerra aos calcanhares, os protagonistas fogem para Arberrang,
o último refúgio seguro. Nem a meio do jogo, a caravana divide-se em duas com os sobreviventes a seguirem viagem e Bolverk, o líder dos mercenários Raven,
encarregue de uma missão secreta para despejar os conteúdos de uma certa caixa no rio. Ao passo que a primeira narrativa é linear e sólida, com umas
pinceladas de jogos de poder e uma corrida contra o tempo, a narrativa de Bolverk é mais confusa. Não ajuda o facto de as grandes questões desta saga
estarem deste lado. Do que fogem os Dredge? Onde andarão os deuses? Quem parou o Sol? E qual o papel de determinadas personagens? E a serpente? Infelizmente,
foi o lado que gostei menos porque quando acabou parecia que tinha chegado ao final de um capítulo ou ao meio do jogo. Quando vi os créditos a varrer o ecrã, a
minha reacção foi de han? E não era o único porque a comunidade estava igualmente a coçar a cabeça e a elaborar teorias sobre um final insonso.
E eu estava em vantagem. Se os fãs esperaram anos pela conclusão, eu esperei umas semanas e assim começamos o terceiro capítulo de The Banner Saga. Importamos o save, começamos em Arberrang e a narrativa passa para um episódio normal de Game of Thrones. Desde tentativas de regicídio, mais jogos de poder e um cerco aflitivo que dura capítulos, o jogador tem a corda ao pescoço e os dias contados A segunda
parte da história começa da mesma forma como acabou: confusa e com uma aura de que raio se está a passar? Adormeci e perdi alguma coisa?
Para o bem e para o mal, as duas partes estão interligadas não só em história, mas em jogabilidade, mas o jogo parece que se esqueceu de nos avisar. Ou então perdi o
recado!, mas na boa, fiquem com o aviso: tudo o que fizerem, e não fizerem, em Arberrang resultará em tempo para as outras personagens. Quantos mais dias
ganharem em Arberrang, mais tempo os outros têm para chegarem ao destino e à resolução final. Se a matemática não me falha… Se formos muito bons numa parte
do jogo, mais rápido acabamos o jogo? É isto? Admito que só entendi esta mecânica quando descansei dois dias e fui castigado por não ter mais tempo. Até
aí foi jogar contra o tempo e admito que me deu uma certa adrenalina porque a escuridão estava lentamente a aproximar-se para acabar com o mundo. E nesta havia um certo toque Lovecraftiano.
A nível técnico, tenho a impressão que a Stoic estava com pressa para lançar o jogo e que se esqueceu de partes do mesmo. E isso, meus amigos, é um erro grave.
Mecânicas introduzidas no primeiro Saga que ficaram a meio do segundo jogo e inexistentes no terceiro? Como a possibilidade de usarmos a nossa caravana em
batalhas? Algo que podia ter sido explorado com os mercenários… Personagens subaproveitadas? Problemas técnicos que não foram corrigidos e outros que
surgiram? Ufa. Até me custa malhar em The Banner Saga, mas quando gostamos de alguma coisa temos de ver para além dos óculos cor-de-rosa e por cada coisa
boa, há uma má. Fui alertado que ia sair um Day One patch para corrigir muitos problemas, mas como tive a sorte/azar de jogar antes do lançamento posso afirmar que tive uma
experiência má com o jogo a soluçar em batalhas, conversas e a fazer loadings aleatórios. Gente, que se passou? Quando eu fico ansioso antes de cada batalha por causa de bugs e quero acabar o jogo para partir
para outro, não é bom sinal! Lá cheguei ao fim, lá me responderam a algumas perguntas e lá fiquei satisfeito com a subversão de alguns clichés. E se o
final caminha para um Deus Ex Machina, nos instantes finais há umas escolhas fortes e de tão chateado que estava só me apetecia optar pelo final mau, mas não. Tive
o final igual à minha experiência com o jogo: agridoce.
Posso
ter passado uma imagem negativa, mas eu consegui gostar deste jogo e a série tornou-se nas minhas favoritas de 2018. A culpa desse amor também se deve ao
sistema de batalha táctico que é dos meus géneros favoritos. The Banner Saga não reinventa a roda, mas safa-se e perder batalhas importantes não tem penalização e ainda não decidi se isso é bom ou mau…
Quanto ao estilo visual e à banda sonora, estes continuam impecáveis, as composições e as músicas são de uma melancolia
e dão-me uma saudade de algo que não consigo colocar em palavras. Será que é isso que as personagens sentem? E a animação? Não há mais que possa dizer, mas
eu adorava que houvesse mais sequências de vídeos e não apenas em pontos fulcrais. É linda e também ela é nostálgica, fazendo-me lembrar de filmes
antigos da Disney. Já usei esta comparação, não já? Então vamos lá acabar a análise porque já esgotei o que tinha a dizer.
The Banner Saga 3 é o fim de uma saga, ah! Não é o fim que merecemos, mas é o fim necessário. E se tivesse de medir a minha
satisfação em percentagem diria que gostei do jogo setenta e oito por cento e isso é um saldo positivo! O suficiente para voltar mais tarde e tomar outras
decisões - e para ver se está mais fluido.
São jogos feitos com carinho e uma certa ambição, convenhamos, mas somadas todas as partes, o resultado final é um jogo lindo a vários níveis, desde o combate à
história, sem esquecendo os gráficos e banda sonora, apenas teve o azar de sair de casa com os atacadores presos e se ter espalhado no chão, mas levantou-se e
continuou a caminhar e espero que nunca pare. Que facture bastante e que encha a barriga e a alma dos jogadores.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Plan of Attack.