Gray Dawn


Desenvolvido pelos estúdios da Interactive Stone, Gray Dawn é uma das mais recentes propostas dentro do género de terror psicológico presentes no Steam. Neste jogo onde impera a visão na primeira pessoa, assumimos controlo (a maior parte do tempo) sobre as acções de um jovem padre católico, um tal de Abraham Markus. Abraham, responsável máximo do orfanato de St. Anna's, está a ser acusado pela rádio britânica de ter sido o responsável pelo desaparecimento de um dos seus jovens acólitos, David, e pela morte de outros tantos.

Ao mesmo tempo, o padre vê a sua fé ser atacada por acusações de bruxaria, paganismo e satanismo. É precisamente a inocência do protagonista que iremos procurar provar, ao mesmo tempo que tentámos descobrir não apenas o paradeiro de David, mas também o motivo pelo qual têm morrido tantas crianças no orfanato. 


O jogo em questão decorre na moldura temporal do Pré-Primeira Guerra Mundial, nomeadamente em  1912, passando-se numa localização não muito utilizada no mundo dos jogos de vídeo, a Roménia. Tirando a famosa série de jogos da Konami, o Castlevania, poucos são os jogos que optam por colocar o centro da acção nesse distante país do leste europeu. Gray Dawn não só o faz, como faz-lo de forma exemplar, dando-nos em extremo detalhe retratos de como seria a vida no início do século XX naquele país. Em certas alturas, parecia que estava no famoso livro de Bram Stoker, Drácula, (os vampiros não marcam presença em Gray Dawn, já agora) uma vez que exactamente como o livro, também este jogo conseguiu transportar-me para aquele ambiente.

Contudo, e antes de falarmos acerca dos pontos fortes do jogo, os gráficos e o ambiente, temos que dar uma vista de olhos no gameplay. Como na maioria dos jogos do género (First Person Horror Games ou Running Games), o gameplay é bastante simples, assentando na exploração do cenário em busca de pistas e resolvendo puzzles de forma a avançar de capítulo e consequentemente na história. Num jogo sem inimigos reais, o nosso verdadeiro desafio vai assentar na resolução de puzzles e, neste caso concreto, em encontrar todas as imagens dos Santos (são sete no total) de forma a conseguirmos ter um fim diferente. Não existe barra de energia de qualquer espécie ou Bosses finais para bater e os puzzles em si são bastante acessíveis, com inúmeras pistas a serem deixadas no cenário de forma a ajudar a resolução dos mesmos. Os ditos puzzles, que constituem o grosso do gameplay, consistem em encontrar objectos, construir certos itens ou consertar outros. Nada mais do que isso.


Gray Dawn em certas alturas lembra-nos uma outra séria da Konami, o Survival Horror conhecido como Silent Hill, na passagem que faz entre o mundo real, o divino e o demoníaco. Começámos no primeiro, mas será nos outros dois (que se encontram muitas vezes misturados) que teremos os puzzles para resolver de forma a conseguirmos provar a inocência do padre Abraham e com isso evitar a sua eventual condenação e execução às mãos das autoridades.

O jogo vai brilhar nos excelentes gráficos que apresenta. Mais do que isso, vai brilhar na ambiência que logra conseguir graças a uma atenção impressionante dada ao detalhe. A casa de Abraham, onde decorre grande parte da primeira metade da acção, tem tudo aquilo que poderíamos esperar que uma casa de um alto sacerdote da altura poderia ter, desde os rádios enormes de 1910, até ao carro da época. A juntar a isso, a comunidade romena é aqui representada de forma bastante fiel, não apenas no seu estilo de vida, mas também nas suas crenças religiosas. Partes do jogo estão inclusive em romeno, o que lhe dá ainda um cariz mais autêntico. As igrejas, o orfanato, as tombas, entre os muitos outros locais deste título são absolutamente magníficas e mostram bem o esforço que o estúdio colocou na pesquisa e em tentar que este jogo fosse o mais historicamente assertivo possível.

O mundo demoníaco e o divino por sua vez jogam mais com a vertente psicológica e com o surreal, apresentando muitas vezes o divino e o profano lado a lado e fazendo referências a muitas lendas cristãs, algo que decerto fará a delícia daqueles que gostarem, como eu de História.


Gray Dawn é um jogo que tenta apelar ao horror psicológico, não o fazendo através de jump scares (apenas há um no jogo todo), mas via a representação que nos dá do inferno e do céu. Ambas são de facto bastante desconcertantes em certas alturas do jogo.

A música, não é muito variada, mas está bem enquadrada com o tema, alternado entre a música sacra e o pagão mais "demoníaco" conforme a etapa do jogo na qual nos encontremos.

Contudo, e apesar de ter gráficos magníficos e bastante detalhados, Gray Dawn peca por ter uma história principal que acaba por saber a pouco e por um fim alternativo que apela muito pouco ao replay. Um jogo curto (é possível terminá-lo em cerca de três horas à primeira tentativa), com puzzles bastante fáceis, Gray Dawn é ainda assim um título curioso, sobretudo pelo ambiente acerca do qual falei acima. Um bom jogo a ter em conta para os amantes da história em geral e religião em particular, que desejem saber mais acerca da Roménia.

Nota: esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para PC via Steam, gentilmente cedido pela Community Villa.

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