Alentejo: Tinto's Law


Recentemente fiz uma viagem no tempo de uma maneira inesperada, ainda por cima através de um jogo português. Quando soube do lançamento de Alentejo: Tinto's Law através da plataforma itch.io, com direito a edição física, lembrei-me dos tempos em que ia a lojas que vendiam videojogos como a Vobis, Roma Megastore ou a minha favorita Prameta, três lojas que já não existem há muito. Isto, pois na altura adorava pegar nas caixas dos jogos Game Boy e ver as novidaes, uma memória que despultou ao ver a edição física deste jogo português.

Pelas mãos da Loading Studios e pela equipa composta por Daniel Penão, Vasco Oliveira, Marta Vaz e Martim Alves, com também o forte contributo de Ivan Barroso e a Universidade Lusófona, surge um jogo de aventura ao bom estilo western, mas passado no Alentejo. Alentejo: Tinto's Law é um jogo simples, curto que não nos ocupa mais que hora e meia que, ainda assim, junta tudo num pacote bem interessante com bom conteúdo e, principalmente, uma ótima escrita! 


As inspirações são claras, quem cresceu a ver Alentejo sem Lei na RTP, da autoria de João Canijo, apercebe-se que esta mistura de western e a região do Alentejo, curiosamente, funcionava na perfeição! E hei, mesmo que não tenham visto a série, é extremamente provável que já se tenham cruzado com o meme onde um sujeito grita "mataram-me". Este jogo vai buscar muita dessa inspiração para a sua história, juntamente com um conjunto de referências à cultura portuguesa que vão do (chato) ardina a referências ao Cristiano Ronaldo.

Seguimos a demanda de Guildo, um forasteiro que se encontra no Alentejo a enfrentar o temível e terrível Barão Tinto que, basicamente, manda na região toda. No decorrer desta curta aventura depara-se com personagens que o irão apoiar como a rebelde Dolores e Pepe, que não tem qualquer problema em criar dinamite seja para que motivo for. É graças a Pepe que muita da ação do jogo decorre, onde através de uma fetch quest temos de ir buscar ingredientes para produzir estes explosivos.


É assim que nos vemos a explorar grutas, minas e esconderijos onde muita da ação do jogo acontece, andando aos tiros tanto contra espanhóis, os grandes vilões do jogo, como morcegos que disparam… cuspo? Foi nestas dungeons que senti grandes referências a videojogos, que Vasco Oliveira usou como inspiração, como The Legend of Zelda e Pokémon, pois os puzzles que encontrei nesta exploração baseavam-se no típico jogo de empurrar caixotes para abrir caminho, algo que era bastante comum de encontrar nos anos 90. Há tesouros escondidos nesta exploração, que melhoram a nossa arma, embora honestamente, não senti qualquer diferença notória.

Até porque me sentia em desvantagem no combate, enquanto que os adversários conseguiam atirar na diagonal, Guildo parece focado em disparar em linha reta, uma desvantagem que me levou a ver vezes sem conta o ecrã de Game Over. Tive momentos frustrantes, tanto ao nível de morcegos que me destruíam por completo a dois puzzles específicos de empurrar caixas, que demorei mais tempo do que gostaria de admitir. Um ponto negativo a apontar foi a falta de efeitos sonoros, tanto nos diálogos como na ação, que tornaram a experiência algo monótona, mas, o maior problema que senti no jogo é não ter save points, que nos obriga a jogar tudo do início ao fim sem parar.


Compensou pela escrita, o estilo de humor e as referências bem portuguesas que nos leva a sentir que este é verdadeiramente um jogo feito em Portugal, abraçando a nossa cultura sem se tornar confuso para o público internacional. Um estilo de humor já sentido pela trilogia Linha de Sintra, que a Loading Studios criou e que convido também a explorarem (através deste link jeitoso)! Também muito positivo é a direção artística do jogo, um jogo perfeitamente possível de existir na Game Boy, com sprites e elementos que se destacam no ecrã, levando-nos a saber quais são os elementos interativos no ecrã. Tudo coisas possíveis mesmo através da limitação técnica da consola permitir apenas o uso de 4 tons de verde, que me deu um gozo enorme de experimentar numa Game Boy original no evento de lançamento do jogo, na Lusófona.


É, contudo, uma história que termina em cliffhanger, deixando-me agora com vontade de continuar a demanda de Guildo, Dolores e Pepe, enfrentando o Barão Tinto naquilo que espero que seja uma chuva de balas por todo o lado, bem típico dos westerns. Tudo continua em Alentejo: The Tinto and The Ugly, ainda este ano, e cá estarei à espera para o jogar!

Terminando, Alentejo: Tinto's Law é um bom pedaço da história portuguesa no desenvolvimento de videojogos, num formato bem fora do comum como para a Game Boy, com direito a cartucho e tudo! História esta que vai ao nosso passado com décadas de história de referências. Não é um jogo complexo, não vai muito além do que promete ser, mas fá-lo bem!



Nota: Análise efetuada com acesso à versão final do jogo para PC, gentilmente cedido pela Loading Studios.

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