Indiana Jones and the Great Circle

Em 1981 o mundo assistiu ao nascimento de uma das personagens mais carismáticas do universo do cinema, tornando-se num dos maiores símbolos da cultura pop das décadas de 80 e 90, estatuto esse que ainda hoje, com toda a justiça, mantém.

Com os passar dos anos e após a trilogia original, Indiana Jones ainda foi existindo e persistindo no cinema com mais duas entradas que na minha opinião ficam a milhas no que se trata de representar a verdadeira essência deste herói destemido, especialmente a última entrada em 2023. Indiana Jones and the Dial of Destiny, feito já sob a chancela da Disney, é mais um cash grab glorificado de que propriamente um final digno de uma personagem universalmente adorada.

O mundo dos videojogos também teve direito à existência de Indy no seu universo. São 22 os lançamentos desta franquia em formato de videojogo. Uns mais relevantes que outros mas também aqui o seu ex-libris ficou nos tempos da trilogia original no cinema. Em Indiana Jones and the Fate of Atlantis é um daqueles videojogos que tem o rótulo de "clássicos dos clássicos". Um magnífico "point and click" que foi lançado pela Lucas Film Games em 1992 para Amiga, DOS e Macintosh. Múltiplos finais, puzzles com várias resoluções e uma construção de mundo fantástica são alguns dos muitos predicados apresentados e que lhe conferem um lugar de relevância na história dos videojogos.

2009 foi mesmo o último ano em que tivemos direito a um jogo do Indiana Jones com Indiana Jones and the Staff of Kings e a partir daí (skins de Fortnite à parte) pouco mais aconteceu neste universo. Talvez por verificar tamanha apatia, Todd Howard decidiu por mãos à obra e começou a escrever o primeiro esboço de uma história, convenceu a malta da MachineGames a largar um bocadinho a saga Wolfenstein e 4 a 5 anos depois saiu este Indiana Jones and the Great Circle.


No grande esquema das coisas Indiana Jones and the Great Circle situa-se cronologicamente entre o espaço temporal do segundo e terceiro filme da trilogia original e a sua história leva-nos a seguir Indiana Jones, que tenta a todo o custo impedir que as forças nazis controlem um imenso poder que está relacionado com um Grande Círculo. As várias peças desse Grande Círculo estão espalhadas em vários locais misteriosos e juntos formam um círculo perfeito que, quando completo, confere um poder que nas mãos erradas pode afetar o curso da História. A trama leva-nos a vários locais reais, como Cidade do Vaticano, Tailândia, Egito ou China, mas Indy não está sozinho e conta, principalmente, com a ajuda da perspicaz repórter Gina Lombardi (adoro o nome!), também ela apanhada no meio desta aventura devido ao seu próprio desígnio pessoal.

Indiana Jones and the Great Circle tem uma história bastante simples e direta, sem ser necessário da parte do jogador algum tipo de esforço adicional de raciocínio, bebendo muito da essência que já havíamos assistido no grande ecrã. Nem sempre é necessário criar uma trama com ramificações infinitas num jogo de uma franquia onde a simplicidade acaba por dar relevo a outros predicados ainda para mais sendo a escrita sólida e a construção das personagens e do mundo um dos pontos mais fortes.

E é precisamente neste ponto em específico da construção das personagens que Indiana Jones and the Great Circle, para mim, na sua maior força. Bem definidos, com intenções credíveis, personalidades fortes, mas maleáveis e em sintonia com o ambiente que as rodeia. Para isso contribuiu e muito Todd Howard que, sendo um grande fã de Indiana Jones, conseguiu com sucesso estar na génese de todo este projeto e escolher as pessoas certas para o desenvolver.

Entre esse grupo de pessoas certas encontram-se os atores que dão corpo e voz a tudo isto. Troy Baker encarna o Indiana Jones de Harrison Ford de forma irrepreensível quer na voz, quer nos seus maneirismos, Alessandra Mastronardi como Gina Lombardi brilha com o seu papel de mulher forte e independente, o grande e saudoso Tony Todd (paz à sua alma) como Locus está imponente e não nos podemos esquecer de Marios Gavrilis que acerta em cheio com a sua performance encarnando a personagem de Emmerich Voss.

O combate é muito bom a nível sonoro. O detalhe dos sons tornam a luta bastante visceral, mas é uma pena que a coisa fique por aí. Nunca consegui andar de mãos dadas com as mecânicas especifícas desta parte em concreto da jogabilidade, sempre me pareceram desnecessariamente complicadas, estranhas e muito mais ainda em relação ao combate com armas. Certo que o Indiana Jones não é conhecido por andar o tempo todo aos tiros, mas sinto que, propositadamente, tudo o que envolve armas neste jogo foi criado com a intenção de criar atrito ao jogador para ser demovido de exagerar na utilização das mesmas. As balas disponíveis são sempre escassas, atirar a inimigos só faz trazer ainda mais inimigos e ainda mais armas e aumentar o nível de dificuldade e o manuseamento delas e o feeling que dão ao jogador não é de todo o de quem está há décadas a desenvolver com sucesso jogos para a franquia Wolfenstein.

O uso do famoso chicote além de servir para ultrapassar obstáculos e servir o seu propósito de aligeirar a travessia de certas zonas também é incorporado no combate como forma de distrair inimigos e até pô-los inconscientes.

A fazer de pano de fundo a toda esta aventura estão cenários absolutamente fantásticos, imersivos e cheios de detalhes que realmente só podem ser apreciados totalmente estando a jogar na primeira pessoa. Desde as paisagens que envolvem os locais que visitamos até às localidades em si, tudo parece autêntico, tudo parece ter a sua própria vida gerando a sensação de envolvência e de que fazemos mesmo parte daquele mundo. Obviamente que o facto de Indiana Jones and the Great Circle ser um jogo graficamente detalhado ajuda a que tudo isto pareça mais fidedigno e certo será que, por isso mesmo, não é propriamente o jogo mais leve que por aí anda. Nada que o meu PC (AMD 5700x, 16GB memória DDR4 , NVIDIA RTX 4070 Super) não desse conta a 1440p mesmo com raytracing's ligados e mais as outras "bruxarias" todas da NVIDIA, mas mesmo assim deu para notar (principalmente na primeira hora de jogo) em alguns pop-ins que teimosamente apareciam e tive que fazer um bocadinho de troubleshooting em relação à utilização do DLSS, pois fazia com que as luzes do jogo cintilassem, mas nada que 1 minuto depois não tivesse resolvido. Os "Reddit's" e "Steam Forums" da vida sabem tudo! 

Não posso deixar de referir a excelente banda sonora que acompanha todo o jogo. Gordy Haab encarnou a persona de John Williams e se me dissessem que tinha sido este último a compô-la iria acreditar. Completamente dentro daquilo que sempre foram as bandas sonoras dos filmes.

Indiana Jones and the Great Circle é uma declaração de intenções escrita e desenvolvida por quem estava saudoso dos bons velhos tempos da trilogia original deste herói. Aquela que nos apresentou um personagem memorável, com companheiros e vilões igualmente memoráveis e cenas de ação mirabolantes, mas divertidas. Congratulo a Machinegames pela coragem em enfrentar o status quo e resistir à pressão de fazer um jogo na terceira pessoa e desafiar um mercado que tem vindo a ser habituado a jogar com uma personagem à sua frente e não verdadeiramente sê-la.

Competentíssimo sonora e visualmente e com um elenco de luxo a dar voz e corpo a personagens que ficam na nossa memória e que elevam uma escrita completamente focada em proporcionar a melhor experiência Indiana Jones possível.

Nem tudo é perfeito (nada o é) e pessoalmente gostaria que os puzzles apresentados tivessem um pouco mais de dificuldade, que existisse um sistema de combate mais intuitivo e que o final não fosse tão "como manda o lore" exageradamente a papel químico de tantos outros finais desta franquia, mas nada disso mancha o objeto de excelência que é Indiana Jones and the Great Circle.

Indiana Jones and the Great Circle foi lançado no dia 9 de dezembro de 2024 para Xbox Series X|S e PC e está também incluído no Xbox Game Pass.

Nota: Análise efetuada com base numa cópia final do jogo para PC, adquirido via Xbox Game Pass.

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